Pular para o conteúdo

Por Luciana Tecidio, gshow — Rio de Janeiro


Rafaela Azevedo vide a personagem Fran, no espetáculo King Kong Fran — Foto: Divulgação/DuHarte Fotografia

Desde novembro do ano passado, o monólogo "King Kong Fran" virou um sucesso de público e levou até agora mais de 12 mil pessoas ao teatro. Em cartaz no Rio, no Teatro Cesgranrio, o espetáculo cheio de humor e ironia, protagonizado pela atriz Rafaela Azevedo faz uma debochada reflexão sobre machismo, assédio e abuso. O texto e a direção são da própria Rafaela com Pedro Brício, e a direção musical é da cantora Letrux.

A atriz de 31 anos, carioca de Honório Gurgel, subúrbio do Rio, e palhaça de formação, se utilizou da arte da palhaçaria para criar a Fran, com a qual faz sucesso nas redes sociais desde 2013. A personagem foi inspirada na mãe, Rosemeri, diagnosticada com esquizofrenia e o borderline.

Rafaela Azevedo como a Fran da peça "King Kong Fran" — Foto: Divulgação

Foi o exemplo de Rosemeri quem também a ajudou a se defender dos vários assédios que sofreu na época que dava os primeiros passos na profissão de atriz:

“Já fui muito assediada no circo. Conto no dedo os mestres que não me assediaram. Assédio sexual, moral... Driblei tudo isso com minha falta de pudor e ausência de tabu. Aprendi com minha mãe. Devo tudo a ela, a doida maravilhosa. (Risos). Hoje sou mais doida que o doido: se recebo uma DM, vou printar e colocar no meu feed. Não sou mais constrangida com isso.”

Rafaela Azevedo explica como brinca com os homens no teatro

Rafaela Azevedo explica como brinca com os homens no teatro

No começo da peça, Fran, vestida com uma fantasia de gorila que não lhe oculta o rosto, brinca com os homens da plateia e, afrontosa, os deixa constrangidos com suas provocações. Esse é o objetivo: fazê-los sentir na pele o que as mulheres sofrem no seu dia a dia.

“Percebo que estou me vingando pelas mulheres e recebo mensagens muito fortes. A Fran produz um efeito psicanalítico representando um outro arquétipo de mulher. Não é o que o patriarcado disse que é o que a gente tem que ser. (...) Nos 60 minutos da peça, os homens heteros cis trocam de lugar com a gente nessa construção social. As mulheres se sentem acolhidas e elas me dão esse feedback”.

King Kong Fran é também uma vingança pessoal de Rafaela que aos 21 anos sofreu a maior violência que uma mulher poderia ter na vida: ela foi vítima de um estupro.

“Foi por um médico, numa consulta. Eu era bem nova. Isso faz 10 anos. Na época, tive problemas seríssimos no útero e psíquicos, porque foi um trauma. Aos poucos a Fran me ajudou muito a rir, a brincar com a sexualidade e não à toa o tema sexualidade é tão presente no meu trabalho.”

Rafaela Santos lembra violência que sofreu

Rafaela Santos lembra violência que sofreu

Rafaela Azevedo — Foto: Divulgação/DuHarte Fotografia

Ela se define heterossexual e a maneira como se impõe acaba sendo uma peneira para atrair o homem certo, acredita. Os que chegam até ela aparecem “meio filtrados”, conscientes da mulher que vão encarar pela frente:

“Claro que eles vão ser machistas em algum momento, mas sinto que são relações saudáveis. Eles já chegam preparados de alguma forma. Eu mostro pontos que não podem ser tocados como a minha profissão e como vou expor a relação."

"Tem uns limites bem estabelecidos e que aos poucos entendo como posso ceder. Para mim, a relação afetiva e sexual não é uma prioridade. Atualmente estou me relacionando com o Rafa. Ele é um amor, um querido, é artista plástico e músico. Mas isso não é prioridade na minha vida. Entra (o namoro) no campo dos afetos como o dos meus amigos. Não quero ser mãe”.

A estreia do espetáculo em São Paulo, na semana retrasada, surpreendeu a atriz. Em três minutos foram vendidos 900 ingressos. E para Fran, que surgiu a partir de um suco de limão muito azedo e se transforma a cada dia numa deliciosa limonada suíça, não há limites para o seu crescimento.

“Além de expandir a Fran cada vez mais na internet e transformá-la em série para a TV, quero também abrir espaço para outras mulheres que não são privilegiadas como eu, uma mulher branca.”

Rafaela Azevedo já atraiu mais de 12 mil pessoas ao teatro para assistir "King Kong Fran" — Foto: Divulgação

+gshow

+Pop

Carregando Carregando
Mais do gshow