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Por Rodrigo Fonseca, Especial para o gshow — Cannes


Kleber Mendonça Filho dá entrevista em Cannes — Foto: Reprodução/Instagram

Centrados (cada à sua maneira) na história do audiovisual no Brasil, os documentários "Nelson Pereira dos Santos - Vida de Cinema", de Ivelise Ferreira e Aída Marques, e "Retratos Fantasmas", de Kleber Mendonça Filho, celebraram afetos e a força da memoria em exibições ocorridas nesta sexta, no 76. Festival de Cannes. Ambos estão na disputa pelo troféu L'Oeil d'Or, julgado por um time paralelo ao júri da Palma de Ouro - ainda sem um favorito.

Viúva de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018), com quem viveu por três décadas, Ivelise Ferreira se uniu à cineasta e professora da Universidade Federal Fluminese (UFF) Aída Marques para reunir as mais importantes entrevistas concedidas pelo diretor ao longo de uma carreira qie vai de "Rio 40 Graus" (1955) ao .doc "À Luz do Tom" (2013). Imortal da Academia de Letras, famoso por suas versões de obras literárias para as telas (como "Vidas Secas" e "Memórias do Cárcere"), Nelson era chamado de "o pai do cinema moderno no país". O filme deixa esse apelido evidente ao mostrar como ele fundou procedimentos narrativos que valorizaram a representação do povo brasileiro nas telas.

"Vocês não sabem a honra que é pra mim estar em Cannes exibindo um filme sobre um homem que foi meu companheiro por 30 anos", disse Ivelise, ao lado de Aída, de Diogo Dahl, um dos filhos de Nelson, e do diretor artístico de Cannes, Thierry Frémaux. Este divertiu a plateia ao enrolar a língua para falar "Pereira dos Santos" à moda francesa.

Cartaz de 'Retratos Fantasmas' — Foto: IMDB

Laureado com o Prêmio do Júri de Cannes em 2019, por "Bacurau", que codirigiu com Juliano Dornelles, o cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho optou por uma narrativa mais ensaística em seu "Retratos Fantasmas", arrebatando Cannes com uma reflexão memorial sobre resquícios das salas de exibição do Recife. Fotos antigas de sua cidade servem como "máquina do tempo" para o diretor.

"A ideia de arquivo tende a ser habitualmente associada pela gente a uma estante, às coisas que a gente guarda e não mexe mais. Porém, eu já vi fotografias incríveis jogadas em latas de lixo. Quem jogou talvez não tenha a noção da memória que está ali. Todo filme, por exemplo, é um arquivo na medida em que ele guarda em si um conjunto de imagens e um conjunto de ideias", disse Kleber ao gshow antes da projeção.

O Festival de Cannes segue até o dia 27. Neste domingo, o único diretor brasileiro na competição oficial, o cearense Karim Aïnouz, exibe o filme que pode lhe render a Palma de Ouro: "Firebrand". É uma produção inglesa, sobre a relação da rainha Catherine Parr (vivida por Alicia Vikander) e o rei Henrique VIII, papel de Jude Law.

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