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Por Francielly Kodama, gshow — São Paulo


Peças diferentonas foram destaques em coleções recentes da Balenciaga, Loewe e Martins — Foto: Reprodução/Instagram/Fabiano Battaglin/gshow

O SPFW N55 terminou no domingo, 28/5, deixando de herança mais uma leva de tendências para os próximos meses, o que nos faz questionar: estamos vivendo uma era de excesso de estéticas da moda, como o quiet luxury, Y2K (gíria em inglês para “anos 2000”) e os tantos cores (barbiecore, brazilcore, redcore e afins)?

Nós já comentamos as trends que bombaram nesta temporada e até nas semanas de moda internacionais, que rolaram no início do ano – sendo algumas bem semelhantes –, além de peças que já devem estar no radar de amantes da moda. Para analisar esse comportamento de consumo, o gshow conversou com a consultora de moda e stylist Manu Carvalho.

Convidados do desfile da Isaac Silva, no SPFW N55, se jogaram em peças com referências afrofuturistas — Foto: Fabiano Battaglin/gshow

A especialista concorda que existe um volume alto de trends a todo momento, mas não acredita que elas apareçam conforme chegam as semanas de moda, pelo contrário, é como se as fashion weeks apenas autenticassem essas tendências vindas das ruas: “Elas acontecem por mudanças de comportamento e desejo, com os movimentos sociais, culturais e econômicos – e até sanitários, veja a pandemia com os moletons e [peças] utilitárias.”

O brasileiro e a moda

Todo mundo gosta de se vestir bem e isso não tem nada a ver com amar ou odiar moda, necessariamente. De acordo com um relatório do site Business of Fashion (BoF), México e Brasil se mantêm como as maiores indústrias de moda da América Latina, além dos brasileiros serem um dos maiores consumidores de moda do mundo. Para Manu, no entanto, esse alto consumo se dá de forma diferente de outros países, por exemplos:

“Vejo que as mídias têm potencializado esse interesse, mas é diferente da relação do europeu, que tem cultura de moda estabelecida e seu legado [com as marcas de luxo]. O amor do brasileiro pela moda tem mais a ver com o entusiasmo pela vida, com comunicação e expressão, ainda que sem ordem e sem muita consciência disso.”

O quanto os algoritmos impactam nas trends?

Manu começa afirmando que “uma tendência acontece quando o mercado atende a um desejo da sociedade”, mas acha difícil que um padrão de compra seja definido com base no que os algoritmos nos apresentam se não houver um desejo real naquele produto.

Se na física toda ação gera uma reação, na moda toda tendência resulta em uma contra tendência, ao menos é assim que a especialista acredita que funcione a lógica da indústria têxtil.

“Por exemplo, na pandemia não tinha como vender salto e bolsa (ninguém precisava e nem usaria). No pós-pandemia, depois [da alta nas vendas] do moletom e roupa utilitária, vieram as tendências de alfaiataria e vestuário mais sexy: era o que todos queriam e precisavam para voltar ao trabalho, para voltar à vida. Agora, depois do boom de brilhos e exageros, vem a tendência de quiet luxury para o contrapor, e assim vai."

Ao mesmo tempo, é fato que as marcas usam análise de dados para fazer recomendações automatizadas e mais assertivas aos consumidores, enquanto também entendem o que eles querem comprar, como aponta o BoF. Consequentemente, isso coloca em questão se os produtos adquiridos são, realmente, itens que desejamos ou se compramos porque somos “lidos” corretamente por um robô.

Tendências básicas e ao mesmo tempo cifras luxuosas, o quiet luxury tem mais de 111 milhões de visualizações no TikTok, enquanto o normcore conta com 41 milhões — Foto: Jeffrey D. Allred/REUTERS/Reprodução/Instagram

Somadas, estas tendências e cores mais populares reúnem números poderosos – e valiosos para as marcas. No TikTok, a hashtag #Y2KAestheric tem quase 3 bilhões de visualizações, #quietluxury tem mais de 111 milhões, o #normcore conta com 41 milhões e o #brazilcore ostenta quase 75 milhões, mais uma prova da onipresença dos brasileiros na moda.

Também vale considerar que muitas destas estéticas geraram esse volume de busca por terem caídos nas graças de celebridades e influenciadores: Kim Kardashian e família com suas roupas excêntricas, Gwyneth Paltrow com seu estilo básico que esconde cifras milionárias e celebridades nacionais que abraçaram o brazilcore na Copa do Mundo de 202 são alguns dos exemplos.

Microtendências passageiras

Manu também acredita que os estilos que estamos vendo nas duas últimas décadas estão “menos relevantes”, mais diluídos e encarados “com mais leveza e descompromisso”. Acontece que o ser humano gosta de rotular e colocar tudo em caixas... E com a moda não seria diferente, né?

“O flow da vida e suas movimentações deflagram demandas e desejos e tudo tem nome! Hoje temos mais microtendencias, que giram mais rápido e com menos importância. Esses nomes guiam a constatação da tendência, o entendimento e as pautas”, opina Manu sobre a rotatividade no mundo fashion.

Kim Kardashian é um dos nomes mais influentes da moda com looks sempre geram alta repercussão — Foto: Reprodução/Instagram

O WGSN, empresa que faz previsões de consumo e comportamento, já identificou algumas “confirmações de tendências” e estéticas emergentes no pós-SPFW:

  • Get Your Greens (algo como “colha seus verdes”): roupas com tons de verdes ácidos e neon, que tiveram “um crescimento contínuo entre os lançamentos, passando a representar 9,1% do mix” de vendas, segundo a empresa.
  • Elemented Eleganc (ou “elegância elementar”): roupas com detalhes rústicos e artesanais, como crochê e peças de bambu.
  • Floral Burst (ou “exposição floral”): roupas com estampas florais e outras referências mais abstratas da natureza.

A WGSN, empresa que faz previsão de tendências, mapeou como uma das estéticas da vez o "get your greens", que foca em looks verdes — Foto: Fabiano Battaglin/gshow

Embarque nas tendências com sabedoria

Para finalizar, reunimos aqui algumas dicas de como se jogar nos estilos com consciência e sem gastar rios de dinheiro.

  1. Roupa básica sempre será um fator em comum entre as trends, não importa o quão diferentona ela seja.
  2. A moda é cíclica e, portanto, pense bem antes de jogar fora aquela peça versátil que está novinha no seu guarda-roupa.
  3. Em meio à tanta informação, Manu acredita que o que pode ser confuso, também pode ajudar a refinar seu estilo.
  4. O SPFW reafirmou algumas tendências, como as roupas mais sensuais que deixam o corpo à mostra, muito brilho, metalizado, alfaiataria fluida e oversized, além dos trabalhos manuais e artesanais. Mas isso não significa que você precisa encher seu armário com todas essas peças: analise seu perfil e como estas estéticas conversam com as roupas que você já tem!
  5. Outro truque de ouro é trocar roupas entre amigos: alguém sempre vai ter aquela peça que você está precisando pontualmente, mas que não vai muito uso depois.

Brasilidade foi tema recorrente nas passarelas do SPFW N55 e pode refletir na moda de rua — Foto: Fabiano Battaglin/gshow

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