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Por Clarice Muniz, Especial para o gshow — Rio de Janeiro


‘Chip da beleza’ x bioestimulador: o perigo do implante hormonal para fim estético e o tratamento que dá um up no colágeno — Foto: Freepik

A terapia hormonal para fins estéticos ainda é um método vendido em consultórios como soluções para inúmeras insatisfações de pacientes. Bastante disseminado nas redes sociais - o movimento “ocitocine-se”, por exemplo, vem ganhando força no mundo digital -, o polêmico “chip da beleza”, termo que se popularizou para preocupação da classe médica, surge com mais um ingrediente milagroso: a ocitocina.

O assunto voltou a chamar atenção após o médico ginecologista Marcelo Luis Steiner alertar, nas suas redes sociais, sobre o caso que tomou conhecimento de uma jovem que foi para a UTI após um implante contendo gestrinona, testosterona, ciproterona e ocitocina.

“Trata-se de uma mulher saudável, sem uso de qualquer medicação. Menos de 24 horas após, ela deu entrada no hospital com quadro de rebaixamento de consciência e convulsões, edema cerebral e diminuição dos níveis sanguíneos de sódio”, escreveu o especialista, Doutor em Ginecologia pela Unesp e Pós-Doutorado na Emory University.

O caso repercutiu na mídia e gerou debates nas redes sociais. Embora o especialista não tenha utilizado o termo “chip da beleza” para relatar o episódio, não demorou para que a expressão fosse atrelada ao assunto. Por que se fala tanto em chip da beleza? O que isso significa?

Para quem busca tratamentos para fins estéticos, como a melhora da textura da pele, o estímulo de colágeno, através dos bioestimuladores, estão entre os mais buscados e seguros. Não por acaso, personalidades de várias idades recorrem a esse tipo de tratamento para alcançar uma pele mais firme e sem a utilização de promessas milagrosas através da implementação de hormônios.

Especialistas abordam ao gshow sobre os perigos do uso de tratamentos hormonais com finalidades estéticas, sobre os benefícios que a terapia hormonal pode oferecer para quem passa por algumas alterações e como é possível realizar tratamentos estéticos eficientes com estímulos e sem uso de hormônios, processo proibido pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e controlado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

‘Chip da beleza não existe’, alerta cardiologista

Preocupada com a confusão que os termos acabam gerando entre as pessoas que podem se beneficiar dos implantes hormonais, a cardiologista metabólica Priscila Sobral frisa sobre a expressão que se popularizou: “O grande perigo do ‘chip da beleza’ é justamente esse nome ‘chip da beleza’, porque isso não existe.”

Segundo a médica, um dos efeitos colaterais do tratamento hormonal é a melhora da composição corporal. “As mulheres que usavam gestrinona e testosterona ficavam com a composição corporal melhor, a textura da pele melhor e falavam que era um chip que deixava as mulheres mais belas. Mas sabemos que não é bem assim. Se for utilizado com essa finalidade, não funciona”, avisa a Dra. Priscila.

Ela aponta a necessidade de um estilo de vida saudável, incluindo atividade física e boa alimentação, para uma possível redução do peso e melhora da composição corporal: “Isso é evidente hoje.”

E tudo depende de avaliação médica individual e bastante criteriosa. “Não se vende implantes hormonais como ‘chip da beleza’. Tem que ter uma indicação específica, tem que ser realizado por um profissional competente, que entende de hormonologia, as doses têm que ser adequadas para o problema daquela paciente”, alerta.

Implante hormonal x ‘chip da beleza’: uso de hormônio é indicado para casos específicos

De acordo com Lizanka Marinheiro, chefe do Setor de Endocrinologia Feminina IFF/FIOCRUZ e Pesquisadora em Saúde da Mulher, a aplicação do ‘chip’ vai depender exatamente do que tem no implante: “É como se fosse uma medicação que tem o remédio correspondente.”

“Os chips variam, pode ser de testosterona, de gestrinona... Agora, de ocitocina, de tudo junto ou de alguma coisa separada, isso é absolutamente irresponsável, não tem evidência científica”, afirma a especialista, acrescentando que o hormônio pode ser usado com indicação no caso de contracepção, na terapia de reposição hormonal e no climatério, por exemplo.

“Existem outras apresentações que são validadas pela medicina, ou seja, baseadas em estudos controlados. Mas, ‘chip da beleza’, todas as associações de classe das especialidades como endocrinologia, cardiologia, andrologia, obstetrícia e ginecologia, não indicam, aliás, o uso do chip da beleza”, alerta Lizanka.

“Essa questão da oxitocina é uma coisa absolutamente sem evidência nenhuma e de uma irresponsabilidade enorme!”

Ocitocine-se? Entenda quais são as promessas estéticas no uso da ocitocina

Presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Paulo Augusto Miranda explica que a ocitocina é um hormônio produzido pela hipófise posterior, região responsável pela produção de dois hormônios: “O antidiurético, que faz também regulação do sódio, e a ocitocina.”

Até pouco tempo, ele lembra, o papel da ocitocina era mais voltado para o trabalho de parto. “Tanto é que a única aplicação clínica da ocitocina, hoje em registro, é justamente para a utilização no parto. Novos estudos têm observado que, eventualmente, ela pode estar relacionada às situações de humor, relacionamento, sensação de bem-estar”, acrescenta.

Especialista explica quais são as promessas estéticas e riscos no uso da ocitocina — Foto: Freepik

Ainda no campo de estudos, ainda não há indicação clínica no uso de reposição da ocitocina: “Uma vez que o diagnóstico da deficiência de ocitocina ainda é difícil de ser feito, ainda está em estudos. Então, não temos estudos para fins estéticos, para melhoria do humor, para melhoria de qualquer outra condição de saúde validada pela ciência.”

Os perigos do chip da beleza e os avanços estéticos na dermatologia

O que leva as pessoas a buscarem os implantes hormonais como soluções para suas questões estéticas? Como defendido pelos especialistas, o uso de tratamentos com hormônios deve ser realizado com a dosagem certa e através de uma análise individualizada. Para fins estéticos, o endocrinologista Paulo Augusto Miranda pondera:

“A gente precisa avaliar quais são as doses a serem indicadas e as finalidades para isso. Quando falamos dos chamados ‘chips da beleza’, que são, na verdade, implantes customizáveis, nós não temos isso bem padronizado para a maioria das substâncias hoje colocadas neles, como gestrinona, testosterona, entre outros esteróides, ainda mais para um hormônio com as características da ocitocina.”

Os riscos, conforme ele explica, são imprevisíveis: “Temos aí o caso de uma paciente de 24 anos que deu entrada em Unidade Terapia Intensiva com uma hiponatremia grave que foi associada ao implante de dois chips de ocitocina na dose, se não me engano, de 500 unidades. Então, existem efeitos colaterais imprevisíveis e há, sim, um risco à saúde quando se usa terapias não adequadamente estudadas.”

Para quem deseja soluções eficientes da melhora da pele do rosto e do corpo, com resultados eficientes, alguns procedimentos são importantes aliados quando a mulher passa por processos de alterações hormonais, conforme explica a dermatologista Andrea Sampaio, Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologista.

“O envelhecimento é um processo natural que envolve um conjunto de modificações fisiológicas, incluindo a perda de proteína na derme, especificamente o colágeno, e também alterações hormonais. A saúde está diretamente relacionada ao equilíbrio hormonal, sendo muitas vezes necessária sua reposição, porém deve sempre ser realizado com atenção, cautela e profissionalismo, não visando somente a estética”, explica a especialista.

Bioestimuladores de colágenos: os tratamentos buscados pelas famosas

Conforme aponta a dermatologista, os cuidados com a saúde, a estética e a beleza geram impacto na autoestima e no modo como as pessoas se relacionam com o mundo. E por este motivo, os avanços em tratamentos estéticos têm sido cada vez mais eficazes e seguros quando são acompanhados por profissionais capacitados e responsáveis.

Os bioestimuladores de colágeno prevenem a formação de rugas, restaurar a aparência jovem e radiante — Foto: Freepik

“A saúde da pele passa pela melhora da sua densidade estrutural ao aumentar a produção de colágeno, prevenindo a flacidez. Os bioestimuladores do colágeno são a chave para estimular essa proteína, bem como a elastina, através do estímulo dos fibroblastos”, explica a médica.

“Com esse tratamento, é possível prevenir a formação de rugas, restaurar a aparência jovem e radiante, de forma muito natural, sem estigmas”, acrescenta ela, destacando uma alternativa de tratamento estético que oferece resultado satisfatório.

Os bioestimuladores de colágeno são um ganho para quem está na busca por uma melhora da pele e que desejam opções seguras para a saúde: “Eles promovem o aumento da espessura da pele, melhorando a textura, a flacidez e gerando um leve “lifting” dos tecidos de forma suave e delicada.”

Quando o implante hormonal é indicado

“O ‘chip da beleza’ não existe e acaba generalizando e banalizando o uso dos implantes hormonais como tratamentos que são maravilhosos, isso é bem elucidado nos estudos”, defende a cardiologista Priscila Sobral, ressaltando que existe respaldo científico para uso na prática clínica.

Ela destaca que os implantes hormonais podem ser muito eficientes em diversos casos, como:

  • Mulheres para tratamento de reposição hormonal na menopausa;
  • Tratamento de transtornos ginecológicos como endometriose e miomatose;
  • TPM
  • Os homens também podem se beneficiar no caso do hipogonadismo com reposição de testosterona

“As indicações são muitas e os resultados são excelentes, desde que realizados de forma criteriosa e responsável”, reforça a cardiologista.

Conselho Federal de Medicina alerta sobre uso de implantes para fins estéticos

Em abril de 2023, através da publicação da resolução CFM nº 2333-23, foi contraindicado o uso de esteroides androgênicos e anabolizantes com as finalidades estética, conforme explica Annelise Meneguesso, Conselheira Federal do CFM, relatora da resolução do Conselho que veta terapias hormonais para fins estéticos e de desempenho esportivo.

“Pela falta de evidências científicas na literatura vigente, quanto a benefícios que superem os riscos advindos dessa prática, e pela evidência real de riscos e a saúde que podem envolver todo nosso organismo”, aponta ela, citando desde efeitos cardiovasculares, como arritmia, hipertensão arterial, infarto agudo do miocárdio, e também danos hepáticos, incluindo até o câncer de fígado.

Dentre outros casos citados, incluem transtornos mentais e de comportamento, casos de dependência e distúrbios endócrinos, infertilidade, danos estéticos como o aumento de acne tanto no homem nas mulheres, redução do volume das mamas nas mulheres, aumento do clitóris, redução do volume testicular nos homens, bem como aumento das mamas.

“No caso desses chips que as mulheres têm procurado devido ao apelo estético, realmente não há justificativa na literatura para esse uso com essa finalidade, há a proibição a partir da publicação da Resolução 2333-23. O médico não pode prescrever, ele estará cometendo uma infração ética e deve ser denunciado”, alerta Annelise Meneguesso.

Segundo ela acrescenta, o maior ganho dessa resolução foi a educação da população: “Nós víamos muitas pessoas que buscavam o uso dessas substâncias, através da forma de chip ou de outras vias de administração, que traziam mais riscos do que benefícios. A pessoa ia ao consultório médico para ter mais saúde e acabava saindo com a prescrição de substâncias que iam trazer mais danos.”

‘Chip da beleza’ x bioestimulador: o perigo do implante hormonal para fim estético e o tratamento que dá um up no colágeno — Foto: Pexels

E o próprio paciente pode denunciar casos de médicos que façam propaganda do “chip da beleza” através do site do Conselho Federal de Medicina: “O médico também pode denunciar o colega infrator. Se houver alguma publicação em mídias sociais de médicos fazendo apologia a essa prática, o próprio Conselho Regional de Medicina pode denunciar. Quem vende ou prescreve e que não seja médico, está praticando o exercício ilegal da medicina e aí cabe uma denúncia ao Ministério Público.”

Posicionamento da Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA)

De acordo com a ANVISA, a substância gestrinona esteve presente em medicamentos registrados e comercializados para “tratamento de endometriose até a década passada, na forma de cápsulas gelatinosas duras, mas atualmente não existe registro de medicamento contendo essa substância no Brasil”, assim como mais países com forte atuação de suas Agências Reguladoras.

“Por se tratar de substância hormonal com possibilidade de causar eventos adversos graves, foi banida de diversos mercados e foi, inclusive, considerada substância de uso proibido para atletas, segundo a Agência Mundial Antidoping”, acrescenta.

Segundo a agência, a proibição da propaganda da gestrinona foi a primeira publicação da Anvisa no curso de uma investigação em andamento: “A medida tem o objetivo de restringir a promoção do produto somente a profissionais de saúde.”

“Os especialistas desta Agência avaliaram que inexistem evidências técnicas e científicas que dariam suporte ao uso da gestrinona implantável para fins de emagrecimento, ganho de massa muscular, reposição hormonal, tratamento de sintomas de tensão pré-menstrual, regulação de períodos menstruais, aumento da libido e estéticos.”

Mas o comunicado afirma que, até o momento, o uso de gestrinona em cápsulas gelatinosas duras para tratamento de endometriose (como originalmente foi aprovada pela Anvisa) é o único caso de uso cuja eficácia, segurança e qualidade foram avaliadas e aprovadas.

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