Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC) e publicado esta semana no American Journal of Botany conseguir estabelecer relação entre a presença de bactérias fixadoras de nitrogênio no solo e a atratividade das flores para as abelhas.
Os testes foram realizados com a leguminosa da espécie Chamaecrista latistipula, nativa do Brasil e presente em solos naturalmente pobres. As plantas foram submetidas a quatro condições diferentes: solos arenosos pobres em nutrientes com e sem a aplicação de bactérias e solos ricos em matéria orgânica com e sem a aplicação de bactérias.
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“Nos solos arenosos pobres em nitrogênio, mas com a presença das bactérias fixadoras de nitrogênio, as plantas eram quase duas vezes mais altas e três vezes maiores do que as cultivadas em solo com matéria orgânica, rico tanto em bactérias quanto em nitrogênio”, relata o professor do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC (CCNH-UFABC), Anselmo Nogueira.
Já as plantas em solos pobres em bactérias fixadoras de nitrogênio, tanto no solo arenoso quanto no rico em matéria orgânica, tiveram alturas relativamente mais baixas e eram menores no geral do que as que receberam os microorganismos.
![Pesquisador Anselmo Nogueira mostra nódulos das raizes de chamaecrista, onde as bactérias se proliferam e fixam o nitrogênio — Foto: Divulgação/Anselmo Nogueira](https://cdn.statically.io/img/s2-globorural.glbimg.com/0R94UtmAwAgRKVa-10GwBVQ7S3o=/0x0:800x800/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2024/A/n/JJUKh6R16tmd25LBhDWA/img-9051-2.jpg)
A conclusão dos pesquisadores é de que a presença das bactérias aumenta a atratividade das flores para os polinizadores ao aumentar a disponibilidade desse nutriente para as plantas em troca de açúcares, que servem como alimento para os microrganismos.
As flores foram analisadas com um espectrofotômetro de superfície, instrumento que mede como a luz é refletida. Com isso, foi observado que as anteras das flores, onde fica o pólen das flores, que só pode ser acessado por insetos que conseguem vibrá-las, exibiram um padrão considerado mais atrativo para as mamangavas naquelas que que cresceram em solo arenoso com a presença de bactérias.
“A partir dessas medidas de reflectância nas flores, testamos se os contrastes de cor perceptíveis às abelhas foram alterados entre os diferentes tratamentos de solo e bactérias”, detalha Caroline Souza, autora do estudo. A pesquisa foi financiada com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pretende analisar, a partir desses resultados, se a presença das bactérias interfere na qualidade do pólen.
“Queremos saber agora se esse pólen acessível apenas às fêmeas de abelhas nativas é enriquecido de proteínas e aminoácidos por conta dessa parceria entre bactérias e plantas. A maior atratividade das flores pode estar ligada a uma maior qualidade e quantidade dos recursos, influenciados pela alta taxa de fixação de nitrogênio nas raízes dessas plantas”, avalia Nogueira.