"Políticas inadequadas podem afetar negativamente a segurança alimentar global", afirmou o ex-presidente da Aliança Internacional do Milho (Maizall), John Linder, em entrevista ao Valor. Ele pontuou que políticas alimentares têm tirado seu sono, citando especialmente o caso da União Europeia, que pretende proibir a entrada de um grupo de sete commodities produzidas em áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.
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"A União Europeia tende a ter o impulso, assim como a Califórnia, de ser líder em políticas que afetam mais do que apenas a si mesmas", disse Linder, expressando preocupações sobre as possíveis implicações para os produtores de milho nos Estados Unidos e no Brasil. "Bom senso é o que eu procuro".
O atual presidente da Maizall, o brasileiro Bernard Leisler Kiep, disse ao Valor que a lei proposta pela União Europeia "não vai ter sustentabilidade a longo prazo. Uma coisa é você proteger os seus agricultores, outra é você tentar isolar a tecnologia".
Competição saudável
A competição saudável e a colaboração entre os produtores de milho de diferentes nações foram destacadas como fundamentais para o crescimento do setor. Linder enfatizou que, embora exista uma certa competição entre países como Brasil, EUA e Argentina pelo protagonismo, há também uma oportunidade valiosa para aprender com as singularidades de cada região.
A percepção de que os Estados Unidos não são mais os únicos dominantes no mercado de milho incentiva a busca por novos mercados e usos para o grão. "Quando o Brasil nos bate na produção de milho, vemos que não somos [os EUA] quem pensamos que somos, com o que sentimos por muito tempo: éramos os únicos, agora percebemos que somos um dos únicos".
"O mundo é um lugar grande, e a demanda por milho é global. Se alguém optar por comprar do Brasil, podemos sentir uma lacuna em algum lugar dos EUA. Se alguém comprar dos EUA, o Brasil preencherá a lacuna, e o mesmo com a Argentina. E assim flui," explicou Linder, ressaltando a interdependência e colaboração entre os principais produtores.
O aumento da produção, independente do país, é necessário para combater a insegurança alimentar no mundo, pontua Kiep, de modo que enxerga a cooperação internacional como uma "experiência para que todos possam produzir mais e melhor".
Além disso, segundo o ex-presidente, a troca entre os países produtores de milho propicia, inclusive, um avanço tecnológico e a busca por usos das commodities. "O biocombustível, por exemplo, é muito mais que sustentável, é renovável, e isso deve deixar a indústria do petróleo um pouco ansiosa, certo?", brincou. No entanto, ele afirmou que a busca pelo uso de grãos para produção sustentável leva o setor a um novo patamar competitivo, com possibilidades de alianças entre os países.