Previsão do tempo

Por Daniela Walzburiech e Izabel Gimenez — Florianópolis e São Paulo

Enfraquecido e perto do fim, o El Niño 2023/24 é um dos cinco mais fortes que já ocorreram no mundo, segundo a Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês).

No boletim que divulgou no primeiro trimestre deste ano, a agência americana destacou que o fenômeno fez com que a temperatura da superfície das águas do Oceano Pacifico subisse 2 °C acima da média.

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“Ele atingiu patamares de um El Niño forte, diferentemente do que aconteceu entre 2015 e 2016, quando tivemos um Super El Niño. Ainda assim, dessa vez, os efeitos foram mais intensos ou mais complicados, por causa da combinação do fenômeno com outros fatores”, diz Ludmila Bardin Camparotto, agrometeorologista da Rural Clima.

O El Niño foi diretamente responsável pelas temperaturas recorde no planeta - o ano de 2023 foi o mais quente da história, e os eventos climáticos extremos se tornaram mais frequentes em todo o globo. Relembre os que causaram mais danos no último ano.

Chuvas extremas

Para os brasileiros, o evento mais recente — e impactante — é a enchente que ocorreu no Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024.

O excesso de chuvas deveu-se a uma série de fatores. A onda de calor nas regiões Centro-Oeste e Sudeste impediu o avanço das frentes frias, e uma massa de ar seco empurrou a umidade da Amazônia diretamente para o Sul, deixando a região vulnerável às áreas de instabilidade.

Registro da enchente em Candelária (RS) — Foto: Prefeitura de Candelária/divulgação
Registro da enchente em Candelária (RS) — Foto: Prefeitura de Candelária/divulgação

Além disso, de acordo com um estudo recente de pesquisadores da World Weather Attribution (WWA), o evento, raro — estima-se que ele ocorra a cada 100 a 250 anos no clima atual —, dificilmente ocorreria em um cenário sem aquecimento global.

A pesquisa concluiu que a ação conjunta de mudanças climáticas e El Niño dobra o risco de as chuvas extremas se repetirem. Com isso, a intensidade das precipitações no Sul do país aumentou entre 6% e 9%.

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Até o momento, as inundações causaram 172 mortes no Rio Grande do Sul e afetaram 2,3 milhões de pessoas. Na agropecuária, os prejuízos aproximam-se de R$ 3 bilhões, segundo cálculo preliminar que a Federação da Agricultura do Estado (Farsul) fez após levantamento com 550 produtores. Houve perdas em culturas importantes, como soja, arroz, milho e feijão.

Em 2023, o Estado já havia sofrido com chuvas intensas. Em setembro, um cicloneo extratropical provocou prejuízos de mais de R$ 1 bilhão para o agronegócio, com danos em infraestrutura, lavouras, pecuária e pastagens, segundo relatório da Confederação Nacional dos Municípios (CMN).

Dois meses depois, em novembro, o Estado voltou a registrar chuvas fortes, acompanhadas por granizo e ventos, que atingiram mais de 70 mil propriedades rurais. Trigo, soja, milho e arroz foram as lavouras mais afetadas, e produtores registraram mortes de bovinos de corte e leite, suínos e aves comerciais.

Satélite mostra impacto de ciclone no Rio Grande do Sul em 2023 — Foto: Planet/SCCON do Programa Brasil Mais/Divulgação
Satélite mostra impacto de ciclone no Rio Grande do Sul em 2023 — Foto: Planet/SCCON do Programa Brasil Mais/Divulgação

Problemas do gênero não ocorreram somente no Brasil. Em maio de 2024, inundações no Afeganistão mataram mais de 350 pessoas e destruíram quase dez mil casas. Na pecuária, milhares de cabeças de gado foram encontradas mortas, informou a BBC.

Ainda na Ásia, o Sri Lanka registrou enchentes e deslizamentos de terra no último fim de semana. Já na Europa, moradores da parte Sul da Alemanha, principalmente na Baviera e em Baden-Wuerttemberg, sofreram com chuvas ininterruptas.

Onda de calor

A ocorrência de ondas de calor foi predominante durante a atuação do El Niño no Brasil. Só no primeiro semestre de 2024, quatro ondas formaram-se no país. Na mais recente, que terminou em maio, as temperaturas subiram principalmente nos Estados de Sudeste e Centro-Oeste, com termômetros ultrapassando a marca de 35ºC.

O quadro já havia sido similar em 2023, o que fez a Organização Meteorológica Mundial apontar o ano passado como o mais quente da história do país. A média das temperaturas chegou a 24,92ºC, ou 0,69ºC acima da média que se registrou entre 1991 e 2020, de 24,23ºC.

“O El Niño costuma elevar as temperaturas na faixa central do país, como aconteceu”, disse a especialista Ludmila Camparotto à Globo Rural.

No exterior, os termômetros marcaram 52,9°C em Nova Délhi, na Índia, no dia 29 de maio. O forte calor também ocorreu no México, onde mais de 50 pessoas morreram nos últimos dois meses por causa do aumento das temperaturas.

Em 2023, a Amazônia enfrentou sua maior seca em 40 anos — Foto: Yan Boechat
Em 2023, a Amazônia enfrentou sua maior seca em 40 anos — Foto: Yan Boechat

Seca

As altas temperaturas levaram a uma seca histórica na Amazônia, a mais grave em 40 anos. Mais de 500 mil pessoas, de oito Estados da região, sofreram com a estiagem, que teve impactos sobre a fauna, a flora e a economia locais.

A seca provocou a morte de peixes e botos ameaçados de extinção, além de ter comprometido a qualidade do solo de áreas destinadas à agricultura e à pecuária em cerca de 80 municípios do Amazonas e em 144 do Pará. A estiagem também interrompeu o tráfego de navios, elevando os custos das rotas comerciais da região Norte do Brasil.

Segundo um levantamento do WWA, o El Niño de fato reduziu o volume de chuvas na região, mas a queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e outras atividades humanas agravaram a estiagem de forma significativa.

Queimadas

O clima seco gerou outros problemas na Amazônia, entre eles, o aumento nas queimadas, conforme dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). No fim de outubro de 2023, os pesquisadores detectaram 72.809 focos de queimada na Amazônia, o que representou um aumento de 7% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Estado americano do Texas enfrentou neste ano o maior incêndio florestal de sua história — Foto: Getty Images
Estado americano do Texas enfrentou neste ano o maior incêndio florestal de sua história — Foto: Getty Images

Entre fevereiro e março de 2024, o Texas, nos Estados Unidos, registrou o maior incêndio florestal de sua história. Os ventos fortes e as altas temperaturas intensificaram a ação das chamas, que atingiu cerca de 400 mil hectares em duas semanas, destruindo casas e propriedades rurais. Sid Miller, comissário agrícola do Estado americano, estimou perda de mais de 10 mil animais.

Onda de frio

Em janeiro, enquanto os brasileiros tentavam driblar as altas temperaturas, os americanos sofreram com uma onda de frio extrema. Em algumas regiões dos EUA, os termômetros caíram a quase −40ºC.

O frio intenso afetou muitas atividades agropecuárias. Em Alachua, na Flórida, plantações de tomate, banana e brócolis sofreram danos ou acabaram completamente perdidas.

Com as baixas temperaturas, os animais buscaram locais quentes para se abrigar. Em um caso inusitado e que viralizou nas redes sociais, uma vaca precisou ser salva após cair em um lago congelado.

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