Crédito e Investimento

Por Renan Truffi, Fabio Murakawa e Rafael Walendorff, Valor — Brasília

Lula da Silva aproveitou o lançamento do novo Plano Safra 24/25, voltado para o biênio 2024-2025, para enviar um recado ao setor do agronegócio nesta quarta-feira (3/7). Na avaliação do chefe do Palácio do Planalto, a gestão petista fez um plano "melhor" do que o lançado por "aqueles que parecem gostar de vocês e não gostam".

Leia também

Lula não deixou explícito a quem se referia, mas, com frequência, ele tem feito críticas indiretas à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. "Nós fazemos o Plano Safra melhor do que aqueles que parecem que gostam de vocês e não gostam. Eu nunca vou perguntar para ninguém em quem ele votou. Não é essa a relação, eu não quero casamento", disse durante cerimônia no Palácio do Planalto.

Além disso, Lula disse que nunca levou divergências políticas na hora de governar o Brasil. "Eu estou feliz por causa desse Plano Safra para a agricultura empresarial neste país. Eu nunca levei em conta divergência política pra governar este país. Você não governa o país em função de afinidade ideológica ou por mágoa. Foi no governo da Dilma que você teve os maiores Planos Safra deste país. Nós fizemos sempre os melhores Planos Safra deste país. Eu faço por obrigação porque eu sei a importância da agricultura para este país", explicou

Neste sentido, Lula argumentou que sua gestão sempre fez questão de combater "desenvolvimentos urbanos" que têm preconceito contra a exportação de commodities. "Eu faço [o melhor Plano Safra] por obrigação porque eu sei a importância da agricultura para este país. Nunca teve um presidente da República que combateu os desenvolvimentistas urbanos, que têm preconceito contra exportação de commodities. As pessoas, às vezes, se esquecem de se dar conta na quantidade de tecnologia que tem num grão de soja ou de café", pontuou.

Por fim, Lula defendeu que o Estado tem, sim, papel de cuidar das pessoas. "Se o Estado não cuida de dar a mão às pessoas mais necessitadas, quem vai cuidar. Uma pessoa pode passar e ver uma pessoa na rua e não fazer nada, o Estado não pode. Quando nós deixamos a Presidência em 2010, este país vendia 3,8 milhões de carros. Quando eu voltei, este país só produzia 1,8 milhão de carros. O que aconteceu? É que o Estado tem que planejar o que tem que acontecer com este país. Nenhuma empresa é rica por causa só do dono, mas por causa das pessoas que trabalham e produzem as coisas com muito carinho", concluiu.

Números

Na prática, o Plano Safra 2024/25 terá R$ 400,59 bilhões em crédito rural para médios e grandes produtores, 9,7% a mais que os R$ 364,2 bilhões anunciados para a temporada anterior, encerrada no último domingo.

Os números foram divulgados há pouco pelo Ministério da Agricultura. Desse montante, R$ 187,5 bilhões terão juros controlados, fatia que conta com a subvenção federal mais a oriunda dos recursos obrigatórios dos depósitos à vista nos bancos.

Serão R$ 293,3 bilhões para as operações de custeio e comercialização e R$ 107,3 bilhões para investimentos. Somado ao Pronaf, anunciado mais cedo, o Plano Safra 2024/25 terá R$ 476,5 bilhões em crédito para pequenos, médios e grandes produtores.

O governo anunciou ainda que o financiamento de Cédulas de Produto Rural (CPR) com recursos direcionados das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) somarão outros R$ 108 bilhões. Somados aos recursos das linhas tradicionais, a disponibilidade total de recursos na safra empresarial será de R$ 508,59 bilhões.

Apesar do montante anunciado, especialistas acreditam que os recursos previstos para o plano estão aquém do que setor do agronegócio necessitaria neste momento. "O montante final foi significativamente inferior ao solicitado por instituições como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), que requisitaram R$ 570 bilhões e R$ 557 bilhões, respectivamente", explicou Leonardo Roesler, advogado tributarista.

Para ele, há um "desencontro" entre as expectativas e a realidade orçamentária imposta pelo Ministério da Fazenda. [Esse desencontro] pode gerar impactos relevantes no planejamento estratégico e operacional do agronegócio nacional. A limitação dos recursos destinados ao Plano Safra implica diretamente na capacidade de financiamento dos produtores, especialmente no que concerne ao custeio, comercialização e investimentos necessários para a manutenção e expansão das atividades agrícolas", complementou Roesler.

Carne sem imposto

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta quarta-feira, que vai ficar "feliz" se o seu governo conseguir garantir carne sem imposto para a população. Ele deu a entender, no entanto, que o governo pode estar avaliando alíquotas diferentes para carne processada e in natura. A afirmação foi feita durante cerimônia, no Palácio do Planalto, de lançamento do novo Plano Safra. Ao falar da carne, Lula mencionou diretamente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que está à frente dessa negociação.

"Nós estamos fazendo a reforma tributária, temos interesse em fazer uma reforma tributária. Nós só temos 70 deputados em 513, e a gente conseguiu aprovar a reforma. Nós temos que discutir [agora] o que vai entrar na cesta básica. A gente não tem como separar essa coisa, carne de primeira e de segunda. A gente vai ter que provavelmente separar carne in natura e carne processada. Eu vou ficar feliz se comprar carne sem imposto", disse Lula.

O assunto é sensível porque uma das principais retóricas políticas do PT, durante a campanha presidencial de 2022, foi a de que a gestão de Lula iria garantir o retorno da "picanha", uma das principais peças da carne bovina, aos pratos de comida dos brasileiros.

MST

Lula também minimizou o clima hostil entre produtores rurais e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. "Muita gente fica chateada com esse governo porque ele gosta de sem-terra. Vamos ser sinceros: hoje, não é o sem-terra que toma a terra de vocês, são os bancos que tomam a terra de vocês. Eu certamente vou gostar de vocês, porque eu não desprezo possíveis eleitores", disse.

PIB

Por fim, Lula voltou a dizer que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil vai crescer ainda mais em 2024. "Nós encontramos o país destruído e cheio de mato. Nós cuidamos da terra, semeamos, adubamos. É hora da colheita, é por isso que o salário está crescendo. E por isso que o PIB foi a 3% e vai crescer mais em 2024. Os astros estão se movimentando de forma muito favorável ao Brasil. Tudo está por acontecer", concluiu.

Mais recente Próxima Plano Safra 24/25: ministro da Fazenda faz 'elogio' à bancada ruralista
Mais do Globo Rural

Meteorologista afirma que não devem ter novas ondas de frio até o fim de julho

Frio intenso já tem data para acabar no Brasil; veja quando

Os dois peões brasileiros comandam seus times no confronto Austin Gamblers x Kansas City

Cássio Dias x Leme: Team Series começa com duelo de campeões

Instituições terão o prazo de oito dias corridos para apresentar documentação exigida para habilitação

Ministério da Agricultura recebe propostas para contratação dos recursos do Funcafé

Foram autorizadas compras de ovos e ovoprodutos, pescados extrativos e seus derivados, gelatina e colágeno, e pescados de cultivo e derivados

Brasil passa a exportar quatro novos produtos agrícolas para Cuba

Companhia afirma segue com um compromisso de fornecer soluções com o componente, que será obtido através de fornecedores

Basf diz que manterá seu portfólio após parar de produzir herbicida

Preços ainda são direcionados pelas cotações históricas do café robusta

Café sobe em Nova York em meio ao avanço da colheita no Brasil

Para o trigo, Safras & Mercado também vê cenário de recuo nas cotações

Preço da soja deve cair em 2024/25 com produção maior, diz analista

Departamento de Agricultura americano trouxe estimativas de produção acima dos números esperados pelo mercado

Trigo: nova previsão de safra nos EUA derruba preço em Chicago

Em direção oposta, cotações do milho avançaram na sessão, com números de estoques abaixo do esperado

Preço da soja cai em Chicago mesmo com redução de safra nos EUA

Recursos serão aplicados no setor de comercialização do grão

Capal e Sicredi firmam parceria para liberação de R$ 30 milhões via Funcafé