Por g1 Vale do Paraíba e Região


Fogo no Pantanal em 2024 é o pior da série histórica. — Foto: Reprodução

Imagens de satélite do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que as queimadas registradas no Pantanal do Mato Grosso do Sul têm refletido não somente no Centro-Oeste do Brasil. As fumaças dessas queimadas avançaram para a região Sul e Sudeste do país e já estão atingindo alguns municípios do Vale do Paraíba.

De acordo com o levantamento feito pelo g1 nesta quinta-feira (27), a fumaça dos focos de queimadas no Pantanal já atingem pelo menos 19 cidades da região. São elas:

As imagens do satélite mostram a fumaça na coluna atmosférica da região. Veja abaixo:

Fumaça do Pantanal avança pelo país e atinge pelo menos 19 cidades do Vale do Paraíba e Litoral Norte de SP — Foto: Reprodução/Monitoramento de Queimadas Inpe

Em entrevista ao g1, a pesquisadora do Inpe, Karla Longo, informou que o registro da fumaça do Pantanal na região ocorreu já no início da noite desta quarta-feira (26). Ela alerta que não é uma fumaça densa e que, neste momento, a fumaça não chega a trazer problemas diretos para os moradores da região, pois a fumaça está em um nível mais alto da atmosfera.

“Temos uma composição de fumaça do Pantanal e também de fumaça local, em decorrência de queimadas na região. A fumaça do Pantanal não passa por aqui em baixos níveis na atmosfera. Ontem e hoje ela está passando misturada com nuvens, em um nível mais alto, tudo isso traz uma atenuação dos impactos”, explicou.

“Neste momento, do ponto de vista da população, a gente pode ter a percepção de mudança na coloração do pôr do sol e da lua, mas não impacta diretamente a qualidade do ar. A população pode ser muito mais impactada, em aspectos de saúde, pela fumaça local”, afirmou.

Fumaça do Pantanal avança pelo Brasil. — Foto: Reprodução/Monitoramento de Queimadas Inpe

Ainda segundo a pesquisadora, episódios como esse, de fumaça de outras regiões atingindo o Vale do Paraíba, Litoral Norte de SP e região bragantina, podem ser comuns nos próximos quatro meses.

“Nessa época do ano, entrando julho, agosto e setembro, tem um período com estiagem bastante intensa. Na região Amazônica e na região central do país, propicia as queimadas e temos as ações humanas também, de pessoas que colocam fogo. Então vai continuar acontecendo de julho até outubro, tipicamente. A previsão dos modelos climáticos é que será um inverno em que no Brasil central, Pantanal e Amazônia será bastante seco e quente, muito propício para o fogo”, narrou.

Em média, a fumaça pode ficar até cerca de 15 dias na região. A pesquisadora destaca que nesse momento a fumaça do Pantanal não está causando grandes impactos, mas que é preciso ficar atento, pois em futuros registros, caso a fumaça chegue em níveis mais baixos da atmosfera, pode causar complicações.

“Tipicamente essa fumaça permanece na atmosfera de dez a quinze dias, até que ela se deposite ou encontre chuva e se deposite junto com a chuva. Ela nesse evento está passando em níveis mais altos. Essa fumaça na atmosfera gera outros impactos, como mudança no padrão de chuva, então prejudica, mas não na saúde”, contou.

“Eventos de fumaça que vêm do Pantanal, Amazônia e Cerrado são recorrentes. Esse evento não está intenso, mas pode ser que ao longo dos meses possam vir a ocorrer eventos mais intensos, aí pode ser prejudicial”, completou.

Incêndio atinge Corumbá (MS), no Pantanal — Foto: GloboNews/Reprodução

Karla Longo explica também que a frente fria acabou desviando a fumaça para a região, fazendo com que ela fosse em direção ao oceano. Se não fosse a frente fria, a fumaça provavelmente seguiria para o Sul do país.

“Os ventos alísios tendem a empurrar a massa de ar a oeste e quando encontra a barreira dos andes desce para o sul em baixos níveis. O que muda é que se não tem uma frente fria, a fumaça será transportada em direção ao Sul. Quando tem a frente fria, ela tende a jogar em direção ao oceano. O padrão de circulação vai continuar sendo o mesmo”, afirmou.

Por fim, a pesquisadora lamentou as queimadas criminosas, as quais ela alega serem frequentes na região Centro-Oeste e Norte do país.

“Todos os anos o Cerrado, a região de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e a região Amazônica sofrem com desmatamento. De julho até outubro boa parte do Brasil pega fogo, todos os anos, infelizmente. A grande maioria dessas queimadas são queimadas criminosas, ilegais, que aproveitam a oportunidade para colocar fogo, pois o mecanismo de limpeza que usam é colocar fogo”, disse.

Caminhonete dos Bombeiros do MS é equipada com sopradores e um tanque de água para controlar as chamas — Foto: JN

Cuidados durante as queimadas

Em dias com maior concentração de fumaça no ar, o uso de máscara de proteção facial é recomendado. Como as partículas de combustão são muito finas, a inalação destes pequenos resquícios do fogo só é evitada pela máscara. Além do uso de máscara, veja outras recomendações:

  • 💪Reduza as práticas de atividades físicas;
  • 🚰Consuma bastante água;
  • 💦Umidifique o ar;
  • 👦👵🏻Redobre o cuidado com idosos e crianças;
  • ☀️Não se exponha ao sol sem necessidade.

Pantanal está cada vez mais seco e com a biodiversidade ameaçada, dizem novos dados científicos — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Fogo no Pantanal

A área queimada neste ano no Pantanal chegou, até a última terça-feira (25), a 661 mil hectares (513 mil hectares em MS e 148 mil, em MT), segundo dados da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os números já superam os de 2020, quando houve recorde de devastação no bioma.

Para combater a muralha de fogo que tem devastado o Pantanal nas últimas semanas, equipes do Corpo de Bombeiros de outros estados estão a caminho de Mato Grosso do Sul. Até o momento, seguiram para o bioma pantaneiro 42 militares do Distrito Federal e outros 40 do Rio Grande do Sul.

O governo de Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência por causa dos incêndios no Pantanal. O decreto de emergência prevê uma atuação do poder público mais célere nos municípios do estado afetados pelos incêndios.

Especialistas explicam que o aumento exponencial dos focos de incêndio no Pantanal ainda em junho é causado pela antecipação da temporada do fogo, que chegaria só entre o fim de julho e agosto.

No bioma presente em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, as chamas são esperadas anualmente. Entretanto, os eventos climáticos adversos, a seca severa e a estiagem expuseram a planície ao fogo mais cedo em 2024.

O Pantanal abriga uma diversidade única, incluindo várias espécies ameaçadas, ao todo são:

  • 🌱3,5 mil espécies de plantas;
  • 🐟325 espécies de peixes;
  • 🐸53 espécies de anfíbios;
  • 🐊98 espécies de répteis;
  • 🦜656 espécies de aves;
  • 🐆159 tipos de mamíferos

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