Por Larissa Pandori, g1 Sorocaba e Jundiaí


Marco Queiroz trabalha como Técnico de Serviços de Campo e foi enviado à Nova Palma (RS) para acompanhar trabalho de limpeza nas vias — Foto: Arquivo Pessoal

Quando o funcionário de uma empresa de Sorocaba (SP) recebeu as primeiras notícias sobre as fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul no fim do mês de abril deste ano, não imaginou que a sua experiência profissional pudesse contribuir para a reconstrução de uma das cidades atingidas.

Marco Queiroz, de 50 anos, atua como técnico de serviços de campo em uma multinacional no bairro Aparecidinha. Mais de 1,1 mil quilômetros separavam ele da cidade de Nova Palma, no estado gaúcho. Mas, o conhecimento profissional de mais de 30 anos de carreira o aproximaram da comunidade, que tem cerca de 5,5 mil habitantes, de acordo com o último Censo do IBGE.

A empresa onde Marco trabalha decidiu enviar uma escavadeira hidráulica, equipamento que é vendido pela empresa, para ser usada em trabalhos de limpeza de ruas em locais obstruídos por lama e deslizamento de terra.

Mas era necessário que um funcionário que entendesse do maquinário fosse junto. E foi aí que a empresa fez o convite a ele. "Foi tudo muito rápido. Me mostraram o projeto, eu abracei, falei com a minha família e fui", lembra.

No dia 15 de maio, o técnico viajou junto com a escavadeira e levou também cerca de 700 toneladas de donativos, entre materiais de limpeza, cobertores e mantimentos. "Não sabia o que iria encontrar. Chegando lá, a realidade é outra. Você fica muito sensibilizado com o cenário", conta.

Marco conta que houveram muitos deslizamentos em Nova Palma, pois é uma cidade muito montanhosa. Além disso, o Rio Soturno, que passa por fora da cidade, e o Rio Portela, que passa por dentro do município, transbordaram e causaram enchentes em alguns pontos. Muitos locais ficaram isolados por conta da enxurrada dos deslizamentos dos morros.

"Toda a enxurrada da região desceu pro centro da cidade. Levou sujeira, rochas, destruiu o centro da cidade. Bairros da cidade perderam acesso à energia elétrica, abastecimento de água. Nosso trabalho era para liberar as vias para que os serviços essenciais pudessem chegar aos moradores," explica.

Marco Queiroz, que aparece de óculos escuros à esquerda, conta com ajuda de operador de máquina durante trabalho de limpeza feitos nas ruas de Nova Palma (RS) — Foto: Arquivo Pessoal

Segundo Marco, algumas famílias precisaram deixar suas casas e passaram um período abrigadas no ginásio da cidade.

"Conseguimos fazer a desobstrução de um trecho que estava muito crítico. Haviam pessoas isoladas, que só saíam a pé. Foi desobstruído para entrada de carros, serviço de energia elétrica. Conseguimos fazer isso nos quatro primeiros dias e depois começamos a desobstrução dos riachos do centro da cidade”, conta.

Empresa de Sorocaba (SP) enviou escavadeira hidráulica e técnico para atuar em cidade atingida pelo temporal no RS — Foto: Arquivo Pessoal

Rotina de trabalho

Segundo Marco, a prefeitura da cidade contratou um funcionário habilitado para operar para a máquina, o Gilmar. O trabalho de Marco se concentra em garantir o funcionamento pleno da escavadeira para a realização dos trabalhos e atuar em casos de problemas no equipamento.

"Começamos bem cedo, por volta das 6h30 e vamos até às 19h30. No fim do dia, a gente se reúne com o secretário de Obras da cidade, que coordena para onde a máquina precisa ir no dia seguinte. E aí montamos um plano de ação", relata.

Para o técnico, poder atuar em uma tragédia como a do Rio Grande do Sul foi uma surpresa.

"Não imaginava que minha profissão poderia ser útil em uma situação como essa", afirma.

Prefeitura de Nova Palma (RS) contratou Gilmar, homem que aparece à direita, para operar escavadeira enviada por empresa de Sorocaba (SP) — Foto: Arquivo Pessoal

Embaixo dos escombros

Brinquedos, pertences de moradores e muitos mantimentos foram alguns dos itens que Marco encontrou quando a escavadeira passava pelo local e retirava a enxurrada de terra, galhos de árvore e escombros de construções.

"O que mais mexeu comigo foi encontrar muitos pacotes de comida, tudo destruído. Achamos um pacote inteiro com mantimento dentro. Teve muita destruição na zona rural da cidade, o rio trouxe muita rocha e madeira. Nessas regiões, encontramos alguns porcos e gados mortos."

Artigos religiosos também foram encontrados debaixo da lama em Nova Palma. Depois de limpos, os moradores decidiram dar um destino para os achados.

"Os moradores montaram como se fosse um santuário com todas as peças que foram encontradas embaixo dos escombros que o rio deixou. Achei impressionante", relata.

Moradores montam santuário com artigos religiosos encontrados nos escombros de Nova Palma (RS) — Foto: Arquivo Pessoal

"O apoio da minha família foi e é essencial para que eu consiga fazer este trabalho. É difícil, mas muito prazeroso ver o resultado na nossa ajuda, da nossa atuação. Nunca foquei na data de retorno à minha rotina normal, estou focado no que precisa ser feito para ajudar aquelas pessoas", completa.

Tragédia no RS

Casas atingidas água no Rio Grande do Sul — Foto: Gentilly Costa/Divulgação

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul confirmou mais uma morte em decorrência das enchentes que atingiram o estado em maio. Até a terça-feira (18), o estado contabilizava 177 óbitos.

As cidades com mais ocorrências de mortes são Canoas (31 óbitos), Roca Sales (13 óbitos) e Cruzeiro do Sul (12).

O número de desaparecidos caiu em dois, em comparação com o boletim anterior, totalizando 37. Eles são moradores de Porto Alegre e Roca Sales. Mais de 800 pessoas ficaram feridas durante as enchentes.

A chuva forte no estado começou em 27 de abril em Santa Cruz do Sul e se estendeu por mais de 470 cidades, sobrecarregando as bacias dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos e Gravataí, que transbordaram.

A água invadiu e arrasou municípios, causando mortes. Entre as vítimas, estão pessoas que foram vítimas de deslizamentos ou arrastados pela chuva.

Canoas inundada durante enchente no Rio Grande do Sul — Foto: Globo/Reprodução

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