Por Desirèe Assis, g1 Rio Preto e Araçatuba


Espécie inédita de crocodilo Caipirasuchus que viveu há 85 milhões de anos é descoberta por pesquisadores em Catanduva (SP) — Foto: Guilherme Gehr/Divulgação

Uma espécie inédita de crocodilo, que viveu há 85 milhões de anos, foi descoberta por pesquisadores em Catanduva, interior de São Paulo. O estudo foi publicado no dia 14 de junho deste ano em uma revista científica internacional.

Ao g1, o pesquisador e paleontólogo Fabiano Vidoi Iori revelou que encontrou as partes do fóssil junto com Edvaldo Fabiano dos Santos e Laércio Fernando Doro, durante as obras de duplicação da Rodovia Comendador Pedro Monteleone (SP-351), em 2011, em uma rocha removida para construção de uma ponta em um dos trechos de acesso à cidade.

Nova espécie de crocodilo foi descoberta em Catanduva (SP) — Foto: Clayton Esteves/Arte/TV TEM

Embora descoberto naquele ano, a percepção de que o fóssil de Catanduva poderia ser uma possível espécie inédita só ocorreu em 2018, durante os estudos de Willian Dias, que era orientando de Fabiano no doutorado. Isso porque, ele trabalhava com tomografias de três crânios de Caipirasuchus, durante a pesquisa, quando notou algo diferente.

Inicialmente, os pesquisadores acreditavam que o fóssil encontrado se tratava de um crocodilo de uma espécie já conhecida. Contudo, as tomografias mostraram que o novo fóssil apresentava uma inusitada comunicação entre as vias áreas superiores e uma câmara no osso pterigóide (no céu da boca).

Crânio de crocodilo descoberto em Catanduva (SP) — Foto: Fabiano Iori/Divulgação

No estudo recente, a nova espécie foi formalmente descrita e interpretações acerca dos espaços aéreos foram apresentados. Os pesquisadores propõem que a câmara no osso funcionaria como uma caixa de ressonância para potencializar as vocalizações, ou seja, a comunicação com outros indivíduos.

A vocalização neste caso, é um indicativo de organização social dentre os crocodilos dessa espécie, similar ao observado nos atuais suricatos na África (veja a imagem acima).

Paleontólogo Fabiano Vidoi Iori foi o responsável por descobrir nova espécie de crocodilo em Catanduva (SP) — Foto: Fabiano Vidoi Iori/Arquivo pessoal

“A gente estava nesse impasse: ‘é uma espécie nova ou é alguma variação dentro das espécies já existentes?' Por muito tempo a gente ficou nessa dualidade. A felicidade foi quando a gente concluiu e submeteu a pesquisa. A nossa proposta estava certa e o trabalho ganhou uma publicação aprovada, passou a ter validade científica”, comemora Fabiano.

Crânio de nova espécie de crocodilo encontrada em Catanduva (SP) — Foto: Fabiano Iori/Divulgação

O estudo apontou que o crocodilo, apelidado de “caipira” (Caipirasuchus catanduvensis), conviveu com dinossauros há 85 milhões de anos, no período Cretáceo. Eles atingiam até 1,2 metros de comprimento, eram animais com hábitos terrestres e se alimentavam de plantas.

Os inusitados animais não eram os mais fortes e nem os mais vorazes de seus ambientes, mas a organização social pode ter sido a justificativa que eles encontrassem uma forma de viver em um planeta dominado por gigantes predadores.

O nome “caipira” foi escolhido por Fabiano justamente por ter encontrado o fóssil no dia do aniversário de Mazzaropi, um dos nomes mais conhecidos do cinema nacional, que ficou marcado pelos papéis de "jeca".

Os restos deste réptil foram encontrados tanto em rochas do interior de São Paulo quanto no triângulo mineiro. Com esta descoberta, agora, são seis espécies do crocodilo descobertas.

Nova espécie de crocodilo foi descoberta durante duplicação de rodovia em Catanduva (SP) — Foto: Fabiano Iori/Divulgação

As duas primeiras espécies descritas foram escavadas no município de Monte Alto (SP), outras duas são oriundas da região de General Salgado (SP), uma do município de Iturama (MG) e a nova espécie de Catanduva (SP).

De acordo com o paleontólogo, a definição deste novo crocodilo ajuda a refinar o conhecimento paleontológico sobre os crocodilos e as interações entre os outros animais que habitavam o planeta.

“É interessante conhecer os animais para a gente saber a paleofauna local aqui do interior paulista e também ela serve de uma amostragem de que mesmo os cenários mesmo ambientes totalmente equilibrados estão suscetíveis à variações climáticas e forças externas, porque eles se extinguiram junto com os dinossauros”, finalizou o pesquisador.

Fósseis de nova espécie de crocodilo encontrados em Catanduva (SP) — Foto: Fabiano Iori/Divulgação

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