Por Izaskun Martín Cabrejas, The Conversation*


Proteína está presente em muitos cereais como trigo, cevada, centeio e seus híbridos. — Foto: Getty Images via BBC

Quem não tem uma opinião sobre o glúten? Esta proteína está presente em muitos cereais como trigo, cevada, centeio e seus híbridos. E, segundo muitos influenciadores digitais, eliminá-la da dieta pode nos ajudar a perder peso, ter uma alimentação mais saudável e até melhorar nosso desempenho esportivo.

Não é surpreendente que, com mensagens como estas, a indústria alimentar sem glúten tenha crescido significativamente nos últimos anos — e a expectativa é de que esta tendência continue.

Mas a crença de que estes produtos são mais saudáveis ​​nem sempre é correta. Na verdade, se você não sofre de algum distúrbio relacionado ao glúten, consumir alimentos sem glúten não tem influência na sua saúde — e pode até ser prejudicial, se isso não for feito com a orientação certa.

Distúrbios relacionados ao glúten

As reações adversas ao glúten incluem a doença celíaca, sensibilidade não celíaca ao glúten, dermatite herpetiforme, ataxia por glúten e alergia a grãos que contêm glúten.

É fundamental entender que a doença celíaca não é uma intolerância alimentar, tampouco uma alergia. É uma patologia crônica e sistêmica que afeta não só o sistema digestivo, mas também o neurológico, endócrino, ósseo e cutâneo, entre outros.

Afeta indivíduos geneticamente predispostos e tem uma incidência em torno de 1%. O único tratamento no momento é uma dieta rigorosa sem glúten para o resto da vida.

Um dos maiores problemas da doença celíaca é seu diagnóstico complexo, que resulta em um alto número de casos não diagnosticados.

Se alguém começa uma dieta sem glúten por ter lido uma informação incorreta, e depois decide consultar um médico, pode obter um diagnóstico falso negativo.

Por isso, é fundamental não se autodiagnosticar, tampouco iniciar o tratamento sem acompanhamento médico, já que um diagnóstico tardio pode levar a complicações adicionais.

A moda sem glúten e seus riscos

Dieta sem glúten é recomendada apenas para quem sofre de algum distúrbio relacionado a esta proteína — Foto: Freepik

Muitos influenciadores não apenas eliminam o glúten da sua dieta, como também recomendam os restaurantes que visitam. Mas como saber se esses estabelecimentos são realmente seguros, se seus clientes não apresentaram sintomas após consumirem glúten?

Isso pode representar um risco para as pessoas com doença celíaca, que dependem de uma dieta rigorosa para ter uma boa qualidade de vida.

Por este motivo, é notável o trabalho incansável das associações de pacientes. como a Federação de Associações de Celíacos da Espanha, que desenvolve um programa para verificar as boas práticas nos restaurantes e garantir o cumprimento dos regulamentos.

Dieta sem glúten: é realmente mais saudável?

Uma dieta sem glúten bem planejada não precisa ser deficiente em nutrientes se for baseada em alimentos não processados, como frutas, legumes, verduras, laticínios, carnes e peixes, etc. — levando em consideração as preferências e o estado de saúde do paciente.

No entanto, abusar de produtos industrializados sem glúten pode alterar os níveis de colesterol e triglicerídeos no sangue, aumentar excessivamente o peso e elevar o risco de doenças cardiovasculares, assim como de síndrome metabólica.

Isso acontece porque esses produtos podem conter mais gorduras de baixa qualidade e açúcares simples, além de menos fibras do que suas versões com glúten.

A estratégia de formular produtos mais doces e palatáveis ​​é utilizada para compensar a perda da textura característica, uma vez que o glúten possui um alto poder tecnológico e confere atributos positivos como maciez, elasticidade e consistência aos pães e massas assadas.

O impacto das crenças e da desinformação

Um estudo realizado em 23 países com mais de 20 mil participantes revelou que as crenças sobre saúde influenciam muito os nossos hábitos alimentares, especialmente nas mulheres.

Em particular, um relatório recente da Academia Espanhola de Nutrição e Dietética indicou que 8% da população espanhola segue uma dieta sem glúten — e 72% destas pessoas fazem isso sem um motivo que justifique.

Isso significa que aproximadamente 2,7 milhões de pessoas na Espanha eliminam o glúten da sua dieta sem necessidade clínica. Daí a necessidade de identificar (e não dar credibilidade a) boatos.

Informações desatualizadas, errôneas e imprecisas ajudam a população a formar opiniões sobre diversos temas, e o glúten não é uma exceção.

A adoção de dietas sem necessidade clínica não só é desnecessária e potencialmente prejudicial, como também representa um custo adicional em termos financeiros e dificulta a integração social.

Por isso, antes de eliminar o glúten das nossas vidas, o melhor é nos certificarmos de que temos as informações corretas, evitando a desinformação e consultando um profissional de saúde.

* Izaskun Martín Cabrejas é professora e pesquisadora na área de tecnologia dos alimentos e segurança alimentar na Universidade Complutense de Madri, na Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em espanhol).

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