Por Maurício Paz, g1 RS


Trilheiros registram cenário de destruição em ferrovia no RS

Trilheiros registram cenário de destruição em ferrovia no RS

Quatro trilheiros avistaram um cenário de destruição ao realizar um percurso de cerca de 60 km, passando pela região do Vale do Taquari e a Serra. No trecho entre Muçum e Guaporé, por onde passavam trens, é possível ver rastros de "cachoeiras de chuva", morros de lama e túneis quase submersos (veja o vídeo acima).

As imagens foram feitas entre o último sábado (15) e domingo (16). A devastação ocorreu após a enchente que atingiu o Rio Grande do Sul entre o final de abril e maio. Ao todo, 177 pessoas morreram, 37 seguem desaparecidas e 806 ficaram feridas.

O trilheiro Tiago José Bordignon revela que esta foi a quarta vez que realizou a trilha pela região, mas foi a primeira que viu o cenário de devastação. Ele afirma que nem a enchente de setembro, que deixou 54 mortos na região, havia impactado tanto o local.

"Ficaram [destruídas] as muretas que percorrem o viaduto. Teve um lugar que tinha terra que abriu crateras, assim, coisa de seis, cinco metros de altura. Que era chão fixo, que tinha base. Os trilhos ficaram pendurados, então tem muita destruição ao redor dos trilhos", conta.

O g1 procurou a concessionária responsável pela Malha Sul até 2027, incluindo o trecho da Ferrovia do Trigo (EF-491) que liga Roca Sales a Passo Fundo, por onde atravessavam os trilheiros. A empresa Rumo disse, em nota, estar "mobilizada no levantamento e avaliação de todos os danos causados pelas chuvas" (leia a íntegra abaixo).

A companhia, que detém a concessão de 3,15 mil km de ferrovias no RS, também procurou um dos trilheiros dizendo que técnicos estavam com dificuldade de acessar a localidade e pediu ajuda, com imagens, para analisar a situação da região.

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Túnel na Ferrovia do Trigo ficou coberto de lama — Foto: Tiago José Bordignon/Arquivo pessoal

No percurso feito a pé, os trilheiros perceberam que a água de dutos, que passavam por baixo da ferrovia, entraram nos túneis, causando inundações. Por conta disso, foi necessário fazer desvios por túneis. Também foram registrados acúmulo de galhos, terra e até deslocamento das bases dos trilhos onde estavam assentados.

Tiago afirma que o primeiro percurso feito pelo grupo começou no sábado de manhã, em Muçum, por volta das 8h15, sendo finalizado em um camping em Dois Lajeados, na Serra do RS. No domingo eles retomaram a atividade, próximo às 9h25, chegando a Guaporé cerca de 16h.

O trajeto, com muitos obstáculos, seria ainda mais demorado se realizado por pessoas sem experiência, segundo Tiago, que realiza trilhas pela Cordilheira dos Andes anualmente.

"Isso aí afeta diretamente a economia da região. E está aumentando o fluxo de caminhão na estrada, porque o trem puxa muito volume. Ele também transportava grão em menos quantidade", revela Tiago.

Obstrução de trilhos impediram passagem de trilheiros em parte das ferrovias — Foto: Tiago José Bordignon/Arquivo pessoal

Passeio de trens afetado

O projeto Trem dos Vales, que realizava passeios ferroviários pela região desde 2019, precisou cancelar os percursos em 2024. A sexta temporada estava prevista para começar em 6 de julho e se estenderia até dezembro, com 92 viagens. Entre 2022 e 203, a iniciativa teve um retorno de R$ 18 milhões.

"A equipe responsável pela organização dos passeios aguarda um parecer da Rumo para reavaliar novas possibilidades", diz o projeto, que é idealizado pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), em parceria com a Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales).

O passeio atravessava os municípios de Muçum, Vespasiano Corrêa, Dois Lajeados e Guaporé.

Nota da Rumo:

"A empresa está mobilizada no levantamento e avaliação de todos os danos causados pelas chuvas que impactaram o Rio Grande do Sul. Ainda não é possível estimar prazos sobre os procedimentos necessários. A prioridade da empresa neste momento é o apoio aos colaboradores, ao governo estadual e às demais autoridades competentes do setor."

Entrada de túnel da Ferrovia do Trigo ficou coberta de galhos e lama — Foto: Tiago José Bordignon/Arquivo pessoal

Trilhos ficaram torcidos em trechos da Ferrovia do Trigo — Foto: Arquivo pessoal/Tiago José Bordignon

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