Por Cristiano Dalcin, g1 RS e RBS TV


Equipamentos no interior de uma casa de bombas em Porto Alegre — Foto: Cesar Lopes/PMPA

Após a histórica enchente de 1941 em Porto Alegre, pesquisadores acreditavam que um desastre climático parecido demoraria mais de 300 anos para se repetir. No entanto, 83 anos depois, as águas do Guaíba tomaram novamente a Capital do Rio Grande do Sul, expulsando milhares de pessoas de casa.

Por isso, cientistas são unânimes: o sistema anticheias que deveria proteger a cidade falhou, a busca por soluções é urgente e não há tempo a esperar.

Sistema de bombas

Tiago Gomes, doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, acredita que o que mais contribuiu para a enchente tomar a cidade foram as falhas no sistema de bombas.

Porto Alegre tem 23 casas de bombas – prédios que abrigam equipamentos elétricos capazes de drenar a água da cidade. Essas estruturas bombeiam para fora da cidade, em direção ao lago, a água da chuva que toma as redes de esgotos, evitando alagamentos.

O custo para modernizar os equipamentos, segundo ele, se aproxima dos R$ 400 milhões.

"As casas de bombas têm que passar por modernização, bombas submersíveis que trabalham em qualquer condição. Tem que ter gerador em todas. São geradores de grande porte porque as bombas são de grande porte. Tem que subir acima da cota de enchente: dispositivos elétricos, paineis elétricos… São medidas essenciais para as casas de bombas", diz Gomes.

Do total de casas de bombas, 19 precisaram ser desligadas durante a enchente porque inundaram ou apresentaram risco de choque elétrico. Assim, não foi possível drenar a água das ruas, provocando alagamentos em bairros como Centro Histórico, Menino Deus e Cidade Baixa.

Muro

Avenida Castelo Branco, em Porto Alegre, erguida sobre dique de terra — Foto: Luciano Lanes/PMPA

Para o cientista, a inundação foi o primeiro grande teste para o sistema anticheias construído na década de 1970. O muro da Avenida Mauá, questionado ao longo dos anos, funcionou, mas as comportas apresentaram problemas. O sistema de vedação, para impedir a passagem da água, falhou.

"Você tem que ter uma estanqueidade com borracha, um tipo de pregação que você coloca na base antes da cota [de inundação] de 3 metros, onde começa a inundação e, se por acaso necessitar, utilizar até sacos de areia. Tem que ter uma permeabilidade tal, com cimento dentro, para o lado de dentro do Guaíba, de forma que a própria pressão, ela consiga vedar arestas dos portões", diz Gomes.

Portas de comporta sob estrada erguida em cima de dique em Porto Alegre — Foto: Mauro Lewa Moraes/DMAE

Convívio com o Guaíba

E o que mais é preciso mudar enquanto não chega a próxima enchente? Para o especialista, Porto Alegre precisa mais do que nunca se preparar para o convívio com o Guaíba. E correr contra o tempo para que a situação de agora não se repita.

"Vai ser um investimento da sociedade em muitos anos. Nós estamos pagando um preço alto e a gente paga sempre, ou em serviço ou em prejuízo. Infelizmente, estamos pagando em prejuízo. Tem que pagar em serviço. Eu quero pagar uma taxa de drenagem para não ocorrer de novo essa tragédia humanitária que está ocorrendo, principalmente com essas pessoas em vulnerabilidade", afirma Gomes.

Trecho do muro da Avenida Mauá, onde sistema está presente — Foto: RBS TV / Reprodução

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