Por Pedro Trindade, g1 RS


Pesquisadora do RS conduz estudo sobre incêndios florestais na Antártica — Foto: Arquivo Pessoal

Um estudo conduzido por uma paleontóloga do Rio Grande do Sul confirma que a Antártica era atingida por incêndios florestais frequentes há 70 milhões de anos. De acordo com a pesquisadora Joseline Manfroi, foram encontrados fósseis de plantas carbonizadas em diferentes níveis sedimentares.

O trabalho foi realizado através da cooperação entre Brasil e Chile e foi publicado na sexta-feira (14) em um periódico científico internacional. Conforme a pesquisadora, existem apenas outros dois estudos em todo o mundo sobre o tema.

''Apesar de, na atualidade, a Antártica ser representada por suas temperaturas negativas e possuir 98% do seu território coberto de gelo, ao longo de sua história geológica, ela já esteve com seus ambientes em chamas. E a ação do fogo nestas localidades era frequente e moldava as florestas durante o período Cretáceo, influenciando, inclusive, na evolução e na biodiversidade da vegetação nestas áreas do globo”, explica Joseline.

A pesquisadora afirma que diferentes fatores influenciam a ocorrência, frequência e intensidade dos incêndios naturais, entre eles variação de temperatura, umidade e disponibilidade de material vegetal.

''Os incêndios pretéritos podem ser evidenciados através do registro fóssil, em especial pela presença de carvão vegetal fóssil, que nada mais é do que material vegetal que passou pelo processo de carbonização [queima] e que ficou preservado no registro geológico", resume Joseline.

Após análise dos fragmentos carbonizados resgatados, foi possível identificar o tipo de vegetação queimada e caracterizar o que provocou os incêndios florestais na Antártica durante o período.

''Ao contrário do que se possa imaginar, não eram os fluxos de lavas que consumiam a vegetação, e sim o contato da vegetação com as nuvens de cinza aquecida, que eram expelidas pelos vulcões. Essas nuvens atingiam as florestas, ocasionando o princípio dos incêndios naturais na vegetação'', comenta Joseline.

Reconstrução digital da ocorrência de incêndios na Antártica, oriundos do contato da vegetação com as nuvens de cinza aquecida — Foto: Reprodução

A autora do trabalho destaca, ainda, que ''as mudanças globais estão entre os maiores desafios para compreensão da humanidade e este tipo de estudo auxilia na construção de cenários que facilitem o entendimento da evolução dos ecossistemas terrestres ao longo do tempo''.

A pesquisa foi desenvolvida com a participação de três instituições do RS: Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Universidade do Vale do Taquari (Univates) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pesquisadores do Museu Nacional do Rio de Janeiro, da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Antártico Chileno também contribuíram com o estudo.

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