Por Marcelo Gomes, GloboNews


Delator revela que pagava propina de empresários de ônibus para ex-presidente da Alerj

Delator revela que pagava propina de empresários de ônibus para ex-presidente da Alerj

O ex-vice-presidente da Fetranspor Marcelo Traça Goncalves afirmou que passou mais de R$ 18 milhões em propina para o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani (PMDB) em pouco mais de um ano. A declaração foi dada durante um depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), em acordo de delação premiada da Operação Lava Jato.

A verba era enviada por empresários de ônibus e repassada pelo ex-vice-presidente da federação que representa as empresas de ônibus do estado do Rio.

“Eu entreguei ao deputado Picciani, através de quem ele determinou, em torno de R$ 18,6 milhões. Eu pagava por uma determinação do Zé Carlos. Um compromisso que o Zé Carlos tinha com ele”, disse o delator.

Ministério Público Federal: “Mas qual era a contrapartida?”

Marcelo Traça: “Específica? Eu não tenho como lhe dizer, mas certamente pela posição que ele ocupa dentro dessa estrutura do governo, como presidente da assembleia, pela influência que ele tem e sempre teve dentro da organização política do Estado. Acredito que seja isso”, continuou o depoimento.

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Jorge Picciani (foto), se entrega na sede da Polícia Federal no Rio de Janeiro (RJ), nesta quinta-feira (16) — Foto: JOSE LUCENA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Além de Picciani, outro deputado estadual citado era o parlamentar Edson Albertassi (PMDB), que recebia o pagamento sem sair do gabinete. “Eu ligava para ele e marcava. Entregava para ele dentro do gabinete dele na assembleia. Ou às vezes num café ali do lado da assembleia. Uma vez eu fui na casa dele. Algumas vezes no escritório da rádio dele em Volta Redonda”, disse Traça.

Marcelo Traça foi preso em julho de 2017 e resolveu contar como funcionava o esquema em que donos de empresas de ônibus pagavam propina a políticos para conseguirem favores. Ao falar de Albertassi, o delator garante que ele tinha uma função bem definida.

“A contraprestação do deputado era monitorar esses projetos que entravam dentro da assembleia, que gerariam um ônus e dificuldades para o setor de transporte de passageiros. Então o deputado Albertassi ficava encarregado de monitorar esses projetos, e de alguma forma tentar inviabilizá-los dentro da assembleia”, afirmou Marcelo Traça.

Edson Albertassi durante sabatina na Alerj na semana passada — Foto: Otacílio Barbosa / Divulgação / Alerj

Propina paga mensalmente

Traça revelou que a propina era paga mensalmente e, em alguns casos, sem prazo de validade. Ele cita que o deputado estadual Paulo Melo (PMDB) recebia “caixinha”, mesmo dois anos depois de deixar a presidência da Assembleia Legislativa do Rio.

“O Paulo Melo recebia por conta do Legislativo, da posição dele como tinha sido no passado presidente da assembleia, e recebia por conta dessa posição dele no Legislativo”.

Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi foram presos em novembro de 2017, na Operação Cadeia Velha. Todos continuam no presídio de Benfica, onde também estava o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, até ser transferido para Curitiba, em janeiro de 2018.

A defesa de Jorge Picciani disse que o delator fez afirmações vazias, de quem quer receber benefícios da Justiça. O advogado de Edson Albertassi negou as acusações e declarou que mais de 100 dias se passaram, desde que ele foi preso, e que ainda não teve notícias de uma ação penal válida. A assessoria de Paulo Melo afirmou que o deputado jamais praticou irregularidades.

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