Por Leslie Leitão, Cristina Boeckel, g1 Rio e TV Globo


Investigação da Polícia Civil revela bandidos em treinamento na Maré

Investigação da Polícia Civil revela bandidos em treinamento na Maré

A Polícia Civil mapeou quem são os criminosos que controlam a área onde foi criado um centro de treinamento do crime no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

No domingo (24), o Fantástico exibiu o resultado de uma investigação que durou dois anos sobre o “curso prático de táticas de guerrilha”.

Facções

Grupo usa área com quadras e piscinas para fazer treinamento de guerrilha. — Foto: TV Globo/Reprodução

Várias facções estão no Complexo da Maré, que tem mais de 140 mil moradores. De acordo com o mapeamento dos policiais, o Terceiro Comando Puro (TCP) domina a maior parte da região, inclusive o centro de treinamento.

O TCP controla a Vila do João, a Vila dos Pinheiros, Salsa e Merengue, Baixa do Sapateiro e Timbau.

As comunidades da Nova Holanda e Parque União, ainda no Complexo da Maré, estão sob o jugo do Comando Vermelho, outra facção de traficantes.

A Maré ainda tem uma parte tomada por milicianos: Roquete Pinto e Piscinão de Ramos.

Ao longo da investigação que durou dois anos, os agentes identificaram pelo menos 400 bandidos da facção da região da área usada como centro de treinamento. A Polícia Civil monitorou, no total, 1.125 traficantes, milicianos e pessoas ligadas às atividades criminosas na Maré. Eles foram indiciados por tráfico de drogas, associação para o tráfico e organização criminosa.

Traficantes

Polícia conseguiu montar organograma do crime na Maré. — Foto: TV Globo/Reprodução

A chefia do TCP na Maré era concentrada na mão de Nei da Conceição Cruz, o Facão. Em janeiro deste ano, ele ganhou liberdade condicional, concedida pela Vara de Execuções Penais do Rio.

Ele havia sido preso no Guarujá, no litoral de São Paulo, em 2009. Facão foi recapturado com a ajuda de um trabalho de inteligência da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) depois de deixar a cadeia no regime semiaberto para trabalhar, mas não voltou.

De acordo com as investigações, pouco antes ser solto, Facão decidiu que iria abandonar o tráfico de drogas. Ele deixou o crime após ser convencido pela ONG AfroReggae, onde passou a trabalhar.

Assim, o comando do tráfico de drogas no Complexo da Maré foi 'fatiado' entre vários comparsas do TCP, mas com Thiago da Silva Folly, o TH da Maré, como gerente-geral.

Mas acima de TH na organização do crime está Michel de Souza Malveira, conhecido pelos apelidos de Mangolê ou Bill. Mais tarde, ele passou a ser conhecido também como César. Ele mesmo se deu o apelido como uma referência ao personagem do filme "Planeta dos Macacos: A Origem".

Michel de Souza Malveira, conhecido pelos apelidos de Mangolê ou Bill é outro chefe da facção que controla parte do Complexo da Maré — Foto: Reprodução

TH da Maré é apontado como um dos principais chefes do crime na Maré, sendo responsável pelo tráfico em várias comunidades.

TH é um dos denunciados pela morte do cabo Michel Augusto Mikami, do Exército, em 2014. Ele tinha 21 anos e era de Vinhedo, no interior de São Paulo. O jovem, que foi morto com um tiro na cabeça, fazia parte da Força de Pacificação que estava no Rio.

Ele também foi indiciado pela Justiça no caso da morte do soldado Hélio Andrade, em 2016. Uma viatura da Força Nacional de Segurança foi recebida a tiros de fuzil ao entrar na comunidade por engano. Ele reforçava a segurança no Rio para a Olimpíada.

Thiago da Silva Folly, o TH da Maré, comanda o tráfico em várias comunidades da Maré — Foto: Reprodução

De acordo com as investigações, TH teria ordenado que os traficantes atirassem em quem entrasse na comunidade. Ele foi indiciado também em outros casos de motoristas que foram alvejados ao entrar por engano na Maré.

TH é apontado como envolvido na tentativa de morte de um grupo de policiais. Em uma operação em setembro de 2017, ele teria comandado um atentado contra agentes da Polícia Civil que estavam na região da Vila dos Pinheiros.

Edimilson Marques de Oliveira, o Cria, apontado como um dos chefes do tráfico na Maré — Foto: Reprodução

Edimilson Marques de Oliveira, o Cria, também está entre os criminosos identificados pelos policiais. Informações indicam que ele é um dos homens mais violentos da facção e seria responsável por dezenas de mortes.

Em uma delas, testemunhas afirmam que Cria executou um homem após perder um jogo de cartas. A família dele foi expulsa da favela. Os corpos das vítimas nunca apareceram.

Luiz Carlos de Lomba, o Chocolate, é apontado como um dos chefes do tráfico na Maré, na Zona Norte do Rio — Foto: Reprodução

Luiz Carlos de Lomba, o Chocolate, também foi identificado pela polícia como tendo uma posição de comando no tráfico da Maré. Ao lado dos comparsas, ele é apontado por responsável pela organização de bailes funks, os quais atraem bastante público e lucram com a venda de drogas, bebidas e alimentos.

Os bailes não pararam nem durante os momentos mais agudos da pandemia da Covid-19. Em uma delas, o Globocop registrou telão de LED, caixas de som e homens com fuzis circulando entre os frequentadores.

Alessandro de Figueiredo, o 300, também é um dos traficantes da região do centro de treinamento dos criminosos. Em 2017, ele e comparsas invadiram uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em busca de atendimento para outro traficante, Renan Henrique Barbosa Campos, o RN. Ele aparece nas imagens das câmeras de segurança do local. O grupo ainda sequestrou uma ambulância.

Outro traficante que ocupa um alto cargo na hierarquia do crime na Maré e que estava na invasão da UPA é Alexandre Ramos Nascimento, o Pescador.

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