Por Rafael Nascimento, g1 Rio


Glaidson Acacio dos Santos durante depoimento à CPI sobre as Pirâmides Financeiras nesta quarta-feira (12). — Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

A emboscada contra Carlos Daniel foi, segundo a Polícia Civil do RJ e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), uma ordem do bicheiro Bernardo Bello, alvo de um mandado de prisão nesta quinta-feira (27) na Operação Ás de Ouros. Bello não é encontrado desde novembro do ano passado.

Entenda, a seguir:

  1. A defesa de Carlos Daniel para o aliado de Glaidson
  2. A motivação para a execução do advogado
  3. A morte de Carlos Daniel

Homem é preso durante operação que busca o bicheiro Bernardo Bello — Foto: Rafael Nascimento/g1 Rio

1. A defesa de Carlos Daniel para o aliado de Glaidson

Antes de ser executado, Carlos Daniel atuava na defesa de Daniel Aleixo Guimarães, um dos réus pelo assassinato do investidor Wesley Pessano e apontado nas investigações como braço direito de Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó dos Bitcoins.

Wesley Pessano foi morto a tiros dentro de um carro de luxo em agosto de 2021 em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos.

O Fantástico revelou que Glaidson — preso em agosto de 2021, acusado de liderar um esquema financeiro que movimentou quase R$ 40 bilhões e lesou milhares de investidores — passou a ser investigado por perseguir e assassinar quem ameaçasse seu negócio.

Em uma mensagem para Daniel Aleixo, Glaidson disse: “Tem um trade, aqui de Cabo Frio, sr. Pessano, que está tentando meus investidores. Não posso deixar isso acontecer”.

2. A motivação para a execução do advogado

Segundo as investigações, Carlos Daniel foi morto após uma briga por causa de churrasco.

Dois dos três presos nesta quinta-feira na Ás de Ouros 2Allan Diego e Marcelo Magalhães — eram sócios de uma empresa especializada em vender kits para churrasco que, segundo as investigações, era de fachada e usada para lavar dinheiro do bicho.

Os dois divergiram, e Allan, apontado como braço financeiro de Bernardo Bello, expulsou Marcelo da sociedade.

Marcelo então procurou Carlos Daniel para representá-lo no litígio. Como não houve conciliação num primeiro momento, o advogado recomendou que Marcelo procurasse a polícia e revelasse o negócio. Ele chegou a abrir um boletim de ocorrência.

A força-tarefa afirma que Bello ordenou a morte de Carlos Daniel por esse motivo e ameaçou Marcelo. O litígio acabou: Marcelo se reconciliou com Allan e deu detalhes para que o grupo de Bello matasse o advogado.

O advogado Carlos Daniel Dias André, de 41 anos. — Foto: Reprodução

3. A morte de Carlos Daniel

Carlos Daniel foi morto a tiros em maio de 2022 no Cafubá, na Região Oceânica de Niterói, por dois homens em uma moto.

Ele estava dirigindo com o filho quando foi abordado em um sinal de trânsito. O atirador disparou pela janela do carona — o garoto não se feriu (relembre abaixo).

Vídeo mostra execução de advogado em Niterói, RJ

Vídeo mostra execução de advogado em Niterói, RJ

O carro era blindado, mas a janela do carona estava com uma pequena abertura — o suficiente para os disparos atingirem o advogado. Os investigadores identificaram que o veículo tinha um GPS — Carlos Daniel estava sendo monitorado.

O advogado era ex-policial civil e foi expulso da corporação em 2011, após ser preso pela PF transportando traficantes que tentavam escapar do cerco à Favela da Rocinha para a implantação da UPP.

Carlos Daniel cumpriu 6 anos de prisão. Na cadeia, ele estudou, se formou em direito e começou a trabalhar na advocacia criminalista. Tornou-se especialista no ramo de execuções penais — área em que advogou para muitos policiais e contraventores do jogo do bicho e máquinas caça-níqueis.

Dois homens foram presos pelo crime na primeira Operação Ás de Ouros: Isaquiel Geovanio Fraga e Rodrigo Coutinho Palome da Silva. Segundo as investigações, Isaquiel pilotava a moto, e Rodrigo atirou.

O grupo se hospedou em uma pousada em Piratininga, na Região Oceânica, antes do ataque. Dois dias depois do check-in, os homens, segundo as investigações, conseguiram instalar o GPS no carro do advogado.

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