Agro Riqueza dos Campos Gerais

Por Samantha Fontoura, g1 PR


Karin Detlinger e Paloma Detlinger, produtoras em Guarapuava, fortaleceram laços cuidando juntas da propriedade da família, em Guarapuava — Foto: Arquivo pessoal

No agro, a atividade rural tem ido além da questão econômica e, dia após dia, fortalece relações de mães e filhos no Paraná.

Com tanto esforço e suor envolvido no trabalho, pensar que as propriedades podem acabar após a partida delas gera preocupação. Por isso, tentam, cada vez mais cedo, despertar nos filhos o amor pelo campo.

Paralelamente, elas têm apostado no modelo de sucessão familiar, que consiste em preparar os herdeiros para continuarem o trabalho nas próximas gerações.

Nesta reportagem, o g1 conta as histórias de quatro mães paranaenses que enxergam na roça mais que uma oportunidade de trabalho momentânea, mas sim uma herança familiar.

Karin e Paloma

Karin Milla Detlinger e Paloma Detlinger administram juntas uma fazenda em Entre Rios, distrito de Guarapuava. Elas começaram a tocar o negócio da família após a morte do pai de Paloma.

O agro, até então, não era tão próximo de Paloma, mas com filha e mãe se apoiando, conseguiram encontrar o caminho necessário para transformar a fazenda em um case de sucesso.

"Fomos abraçando a causa, com a vinda da Paloma para a lavoura ajudou bastante. Hoje a fazenda é modelo, grandes empresas pagam bonificação, mas no começo tínhamos que matar um tigre por dia", relembra.

Karin Milla Detlinger e Paloma Detlinger, produtoras em Guarapuava — Foto: Arquivo pessoal

Paloma lembra que aprender a lidar com a fazenda foi difícil, uma vez que desde a infância, o pai centralizava os cuidados com o campo.

Com a experiência que tem hoje, porém, ela e a mãe querem levar o conhecimento adiante e se engajaram em uma cooperativa para incentivar mulheres jovens a permanecerem no campo, estimulando a sucessão familiar.

“Queremos ajudá-las a ter uma trajetória mais fácil. É triste cair de paraquedas, você se esfola demais. Teve dias que cheguei à exaustão de tanto trabalhar. Pensava o que seria da nossa família no dia seguinte. Deu certo, graças a Deus. Mas sem a Paloma do meu lado não teria dado. Ela é mais a razão e eu sou mais a emoção”, reflete Karin Milla.

Além de compartilhar os aprendizados com os cooperados, Karin Milla e Paloma também querem transformar as próximas gerações da família Detlinger. Paloma, que está grávida, pretende levar a criança desde cedo ao campo para despertar nela o interesse pela atividade rural.

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Eliza Hirooka, Jim, Eigi e Satomi

Eliza Hirooka e família, que trabalham juntos no agro — Foto: Arquivo pessoal

Eliza Hirooka e o marido tocam, há 36 anos, uma propriedade rural da família em Caetano Mendes, distrito de Tibagi. Nesse processo, eles fizeram questão de aproximar da atividade agrícola os três filhos: Jim, Eigi e Satomi.

Eliza conta que, há cerca de dois anos, a família começou a pensar na sucesso familiar, quando percebeu que todas as terras entraram em uma fase de estabilidade: as máquinas estavam quitadas e que o que havia entrado de receita, permaneceu na propriedade.

"Fazer sucessão é muito complicado, conheço famílias que há 20 anos estão com o inventário que nunca se encerra, dá muita briga. Para não acontecer isso, contratei uma consultoria e foi a melhor coisa que eu fiz. Senti que estávamos no auge, então cheguei à conclusão de que essa era a oportunidade de fazer sucessão e deixar os filhos confortáveis", explica.

Eliza aconselha que manter os filhos perto pode auxiliar o processo de sucessão, além de fortalecer laços.

"Os filhos crescem ouvindo dos pais que lavoura é difícil e os pais ao mesmo tempo fazem de tudo para os filhos se projetarem para outra atividade. Mas hoje, depois de formados, estamos chamando-os de volta, porque estamos ficando velhos e pensando: para quem eu vou deixar tudo isso?"

Lindalva Suek e Daniel

Lindalva Suek e o filho Daniel, que trabalham juntos no campo — Foto: Arquivo pessoal

Lindalva Suek sempre teve os pés na roça, como ela mesma costuma dizer, e se acostumou a ouvir do pai desde a infância que o sítio que estava na família há quatro gerações um dia seria seu.

O "cavernoso", como a propriedade é carinhosamente chamada, é administrada de longe por ela e seu marido, já que o casal trabalha em Guarapuava e só vai aos finais de semana para a comunidade de Faxinal de Santo Antônio, em Candói, onde o sítio está localizado.

Quando Lindalva teve o filho, Daniel, o avô incentivou nele desde cedo o amor pelo campo.

"Ele dizia que queria ser dentista, mas vivia plantando e ajudando o avô na roça. Por volta dos 13 anos, durante o jantar, ele me perguntou: ‘mãe, você não ficaria triste se eu não fosse dentista e fosse agrônomo? Respondi que só estava esperando ele se dar conta disso", relembra Lindalva.

Hoje engenheiro agrônomo e pós-doutor na área, Daniel toca o sítio durante a semana e planeja formas de tornar a propriedade ainda mais produtiva.

"Ele já me disse que vender o sítio está fora de cogitação. O 'cavernoso' é o nosso recanto, o desafio agora é fazer aquele lugar se tornar ainda mais produtivo", diz.

Lilian Buzato e Luís Felipe

Mãe encontrou no filho caçula o interesse em manter a propriedade da família — Foto: Arquivo pessoal

Na família Buzato, a história se repete.

Filha caçula de seis irmãos, Lilian sempre esteve bastante próxima do pai nos cuidados com a fazenda em Tibagi, que já está na família há quatro gerações. Quando o pai faleceu, ela assumiu a propriedade de vez.

"Na época não se falava em sucessão, mas no meu caso foi algo muito natural", explica.

Mãe de três filhos, ela viu no caçula, Luís Felipe, a oportunidade de manter o negócio em família. Lilian conta que ficou quase sete anos passando para Luís Felipe todos os ensinamentos aprendidos com o pai dela, fortalecendo laços e trilhando o caminho da sucessão familiar.

"Essa parte da sucessão, da mesma forma que meu pai foi fazendo comigo, naturalmente, eu também fiz com meu filho", diz.

A vantagem de trabalhar em família, na opinião de Lilian, é que no final todo mundo sempre se acerta, basta se sentar e conversar por algum tempo. Já o desafio está em aceitar as novas ideias que os filhos trazem.

"Eles enxergam tudo com outros olhos. Querem mudar uma coisa e a gente fica na retranca, porque pensa que não vai dar certo. É um desafio porque são cabeças pensantes de épocas bem diferentes. Mas sempre digo que temos que arriscar. Se eu quero deixar um sucessor, tenho que dar espaço para ele trabalhar, vir com ideias novas", completa.

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