Por Rodrigo Ortega, G1


Veja trailer de 'Um limite entre nós'

Veja trailer de 'Um limite entre nós'

Quando o Oscar for mostrar um trecho de "Um limite entre nós", naquele momento da cerimônia em que eles costumam representar os indicados com suas cenas catárticas, não se assuste se eles perderem o ponto de corte e passarem o filme inteiro. São quase 2h20 de epifanias e discussões de Troy (Denzel Washington) sobre relações sociais e familiares nos EUA racistas dos anos 1950.

Tudo gira em torno de um homem turrão de meia-idade: a esposa resiliente Rose (Viola Davis), o amigo confidente Jim (Stephen Henderson), o primogênito boêmio Lyons (Russell Hornsby), o caçula ambicioso Cory (Jovan Adepo) e o irmão veterano de guerra deficiente Gabriel (Gabriel Maxson). A relação com cada um é questionada e afetada por uma crise existencial de Troy.

As cenas, quase todas diálogos dentro ou ao redor da casa da família, discutem acontecimentos que não são mostrados na tela. Parece teatro, e não é por acaso. O filme é baseado na peça "Fences", de 1983, ganhadora do Pulitzer e remontada em 2010 com Denzel Washington no papel de Troy. Após o trabalho no palco, ele resolveu produzir, dirigir e estrelar versão para o cinema.

"Um limite entre nós" teve quatro indicações ao Oscar: melhor filme, melhor ator (Denzel Washington), melhor atriz coadjuvante (Viola Davis) e melhor roteiro adaptado (que seria um prêmio póstumo a August Wilson, também autor da peça). Veja aqui a lista completa de indicados.

Denzel Washington, diretor e protagonista de 'Um limite entre nós' — Foto: Divulgação

A escolha por não fugir muito do formato da peça deixa os dois atores brilharem - além de Denzel, Viola Davis também esteve na adaptação de 2010 para a Broadway. O contato antigo com o texto parece ajudar a encarnar personagens contraditórios e com trajetórias pouco previsíveis. É o oposto de outro filme do Oscar que também mostra de um jeito mais convencional e palatável o racismo nos EUA em meados do século passado: "Estrelas além do tempo".

O chefe de família de "Um limite entre nós" não chega a ser anti-herói, mas sua coragem é tão clara quanto a dificuldade de lidar com a família. Por um lado, enfrenta o racismo no emprego de coletor de lixo (os negros não podiam ser motoristas, apenas lixeiros). Por outro, quer proibir o filho de tentar carreira no beisebol, dizendo que seria preterido por brancos assim como ele mesmo foi.

Chora, Viola

Troy não é um cara que provoca empatia à primeira vista. Tanto que a personagem de Viola Davis, que o salvou na juventude, sofre para manter a relação após anos de romance. No entanto, seus conflitos não remetem só à classe-média baixa negra americana dos anos 1950. Também fazem pensar dificuldades de ser pai, na busca por cumplicidade conjugal e outros dramas universais.

Viola Davis em 'Um limite entre nós' — Foto: Divulgação

Viola Davis levou o Globo de Ouro e é favorita ao Oscar. Denzel ganhou força após vencer o prêmio do sindicato dos atores, mas terá briga acirrada com Casey Affleck, de "Manchester à beira-mar" pela estatueta. Na disputa por melhor filme, não está entre os favoritos (todo mundo é azarão perto de "La la land"). Há um pouco mais de chance de prêmio pelo roteiro adaptado da peça. Mas, convenhamos, não parece haver tanta adaptação assim.

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