Por Braulio Lorentz, g1 — Lisboa - O jornalista viajou a convite do festival


Pedro Sampaio abraça Anitta no backstage do show em Los Angeles, em maio de 2024 — Foto: Divulgação/Instagram do DJ

Nas últimas semanas, Pedro Sampaio já passou por Londres, Miami e Los Angeles. Nesta semana, está dando rolê em Lisboa. Só que ele não está de férias. O DJ e produtor carioca é a atração de abertura da turnê internacional de Anitta, a Baile Funk Experience Tour. No Rock in Rio português, ele toca no domingo (23), mesma noite de Doja Cat, Camila Cabello e Luísa Sonza.

O DJ e produtor passou a ser mais falado em 2020, com o hit dançante “Sentadão”, com sotaque carioca e batida pernambucana. Sampaio começou a tocar como DJ aos 13, e chegou a trabalhar com Dennis DJ, veterano do funk do Rio. Hoje, é ele (um cara agregador, pacato, ambicioso e sem pudor para ser o mais pop possível) um dos embaixadores do estilo dentro e fora do Brasil.

Ao g1, ele conta bastidores da tour de Anitta, que tem menos brasileiros na plateia do que ele esperava. Ele também faz um alerta: popstars latinos estão "roubando" o funk para eles. Pedro não usa essa expressão, mas desenvolve uma ideia com esse sentido ao relatar que artistas famosos do reggaeton e de outros ritmos latinos estão se apropriando das batidas e dos arranjos do funk.

O DJ ainda conta os perrengues chiques de estar em uma turnê internacional com apresentações solo e abrindo shows da amiga. "Quando a gente começa a carreira internacional, a gente vai pro início da nossa carreira", ele resume, resiliente.

Sampaio já recebeu gorjeta em um envelope e teve o som abaixado por um técnico no meio do show. "Eu me vi oito anos atrás. Tipo assim, é claro que esse cara não sabe quem eu sou. E é claro que esse cara tá certo de fazer aquilo."

Leia a entrevista de Pedro Sampaio ao g1.

Pedro Sampaio se apresenta com Anitta em Miami, no Estados Unidos, em maio de 2024 — Foto: Divulgação/Instagram do DJ

g1 - Qual a diferença de pensar em um show, que será feito no Brasil e pensar no repertório de um show fora? Você vai percebendo se tem mais brasileiro, mais gringo… e vai adaptando o set na hora? Como é isso?

Pedro Sampaio - Hoje a gente o Brasil está vivendo um momento muito diferente, então meus shows fora do Brasil não são só necessariamente para brasileiros. A procura pela música brasileira fora do nosso país está cada vez maior. Então, enquanto DJ eu tenho essa essa vantagem, né? Eu posso ir alterando o meu show conforme eu vou sentir no público. Mas sem dúvida nenhuma eu me preparo para receber um público gringo. Então, meu set vai desde versões de músicas em inglês ou espanhol, versões de reggaeton, funk e até mesmo músicas que são clássicas do Brasil que representam a nossa cultura, mas na minha versão.

g1 - E o que vai ter de diferente dos shows de abertura para a Anitta e do show no Rock in Rio?

Pedro Sampaio - São formas de apresentações diferentes, né? No Rock in Rio Lisboa, eu vou para apresentar de fato o artista Pedro Sampaio. É um público meu que vai estar lá. Inclusive eu tenho uma história com Portugal muito vitoriosa: “Dançarina” bateu recorde de “Despacito” como a música ficou mais tempo em primeiro lugar do país. Então, tem uma conexão bem forte com o povo de Portugal. Na turnê da Anitta, eu tenho que abrir para a Anitta, né? Eu estou ali num lugar de aquecer o público. Eu sei meu lugar naquele momento. Apesar de eu já ser um artista brasileiro de nome ali, eu estou ali para abrir para ela, com muito prazer e muito orgulho.

g1 - Tem uma declaração sua muito boa para o g1 que você diz suas letras têm uma ambiguidade, então as crianças conseguem ouvir de um jeito, os adultos de outro, os adolescentes de outro. Como é lidar com esse público infantil?

Pedro Sampaio - Acho que para ser popular a única forma de fazer isso é ter letras desse estilo e fazer também um som desse meu estilo. Qualquer pessoa consegue ouvir e não fica muito nichado. Quer dizer, eu não sei se é a única forma, né? Mas é a forma que eu encontrei para fazer isso.

g1 - Existe essa tentativa de fazer do funk um ritmo global, com ajuda da Anitta, de você e de outros artistas, claro. Esse processo tem um tempo… então, o que você acha que falta para o funk se tornar maior fora do Brasil? Sei que é tipo uma cobrança querer que o funk tenha uma força ainda maior, daí vem a comparação óbvia com k-pop, com reggaeton… como ter o funk como um soft power brasileiro? Como ter mais incentivo dos governos, por exemplo, como acontece na Coreia do Sul e na Suécia?

Pedro Sampaio - Já está mais que provado dentro do Brasil que o funk está entre os principais ritmos musicais. E eu digo isso não só no âmbito musical, mas também no âmbito cultural. Enfim, o funk afeta tudo, inclusive o turismo. O funk tem essa potência, tem essa força e eu acredito muito que se nós brasileiros, se o governo também, não passarmos a olhar para o funk como essa potência que ele é…

“Se a gente não incentivar o funk, se não deixar o preconceito de lado, a gente vai perder o funk para o mercado latino. Já existe este movimento: grandes artistas latinos de reggaeton estão gravando músicas no ritmo do nosso funk brasileiro. Inevitavelmente, eles tendo o tamanho que têm e o apoio total, eles vão pegar o funk pra eles.”

Pedro Sampaio se apresenta em Miami, em maio de 2024 — Foto: Divulgação/Instagram do DJ

Cara, eu fui agora lá para Londres, para Los Angeles e para Miami abrir dois shows da turnê da Anitta e fazer um show numa das principais boates de Miami. Eu já vi um dos sócios falar comigo sobre isso: “O reggaeton tá muito grande e o funk tá vindo.” Mas acho que são poucos artistas que a gente consegue exportar, né? Tem muito a ver com a falta de apoio do governo em todo os sentidos, não só do sentido musical, mas educacional. Você tem que aprender uma língua além de português, então tem várias ramificações disso.

g1 - A questão de não falar espanhol às vezes pega, né? São poucos artistas que falam três idiomas, como a Anitta, que tem uma carreira trilíngue… Falando nela, você está tendo a chance de participar da primeira turnê mundial dela, de ver esse momento histórico ao vivo. O que você tem visto? Tem alguma história para contar da turnê?

Pedro Sampaio - Ela sempre falou para mim que quando a gente começa a carreira internacional, a gente vai pro início da nossa carreira. A gente começa de novo. Eu percebi muito isso lá: nos shows que eu fiz com ela e nos shows que eu fiz sozinho também.

Uma coisa aconteceu comigo que não acontecia há muito tempo. Eu estava tocando e aí tinha um limite de volume, porque era um teatro, né? Daí, o cara… acho que isso não acontece comigo há uns oito anos… um cara da casa, um técnico da casa… que nem foi grosseiro nem nada… mas ele chegou e foi abaixando [o volume do som] bem do meu lado, no meu CDJ [equipamento de DJ]. Ele botou a mão no meu volume e abaixou [ri, meio sem graça]. Eu me vi oito anos atrás. Tipo assim, é claro que esse cara não sabe quem eu sou. E é claro que esse cara tá certo de fazer aquilo.

A equipe técnica, o segurança, muitas pessoas… enfim, eles não sabem do meu tamanho no Brasil, da proporção nem nada disso. Eu fiquei assim “nossa”. Eu fiquei rindo. É assim mesmo, né? Teve um show também que eu tinha acabado de sair do palco e veio um cara com um envelope e me deu uma gorjeta. Eu achei incrível porque é isso, né? A gente está começando novamente.

g1 - Quanto dinheiro tinha no envelope?

Pedro Sampaio - Ah, não era muito dinheiro, não. Era uma gorjeta, meio que dizendo “toma aqui, tá… a gente gostou.” Ele falou obrigado e me deu o envelope. Eu não entendi nada. Fiquei pensando que fosse uma multa por ter tocado alto. Porque ele falou “isso aqui tem a ver com o dinheiro”. Isso tem muito a ver com o que a Anitta tinha me falado… ela me passou essa visão, e eu vi na prática: a gente no Brasil tem uma percepção clara da Anitta, do tamanho que ela tem. Quando ela fala dos desafios que ela enfrenta fora… são de fato desafios. Ela não está fazendo drama nem nada. Agora eu vivi isso e eu percebi uma dificuldade muito grande de ter noção de quantos por cento são de brasileiro naquele público.

Eu falava em português tinha uma reação, mas era uma coisa meio nebulosa, não era todo mundo. Eu falava em inglês, alguns respondiam mais. Eu falava em espanhol, o pouco que eu sei, e tinha também uma movimentação ali. Eu tinha pensado em tocar um set bem brasileiro e aí os brasileiros iam ouvir e contagiar os outros. Mas a gente acha que vai ter a maioria de brasileiro e não foi assim, cara. Tem lugares que a maioria era de latino, mas de outros lugares sem ser o Brasil. E eu fiquei muito feliz, porque é um público real. Essa onda está acontecendo!

""Eu falei para ela e falei no palco também algumas vezes: quem está indo nos shows dessa turnê está vendo a história acontecer diante dos olhos. É importante para o funk e para música brasileira."

Pedro Sampaio se apresenta em Miami em maio de 2024 — Foto: Divulgação/Instagram do DJ

Pedro Sampaio aproveita sua turnê internacional de 2024 para 'turistar' em Londres, na Inglaterra — Foto: Divulgação/Instagram do DJ

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