Música

Por Carol Prado, g1

Nos últimos dias, um som ecoou pelas redes sociais -- e pelas mentes de quem passou por elas:

“Vem galopar
Fazer o roça roça
Dançando tcha tcha tcha
Vem se envolver com a tropa”

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Ao todo, são 14 músicas. Mas uma em especial chamou a atenção da internet: “Vem Galopar”, uma releitura atualizada de “Pagode Russo”, clássico de Luiz Gonzaga.

“Essa gerou o ‘quiquiqui’, fez barulho. A galera dizendo: ‘meu Deus, que letra!’. Como se a gente vivesse numa era de letras muito poéticas... enfim, a hipocrisia”, Juliette analisa, em entrevista ao g1.

Depois do lançamento da faixa, a cantora publicou um vídeo no Instagram respondendo às críticas de quem a acusou de “estragar” um clássico de Luiz Gonzaga. Na gravação, defendeu que “Vem Galopar” mantém o espírito irreverente da música original ao incluir termos com duplo sentido.

"Eu já esperava [as críticas]. Sabia que ia ter essa repercussão e foi proposital. ‘Vem Galopar’ não é música para meditar com a letra, é para dançar, pular, brincar e descer até o chão.”

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Pensada para Anitta

A letra da música era outra originalmente, porque “Vem Galopar” foi primeiro pensada para Anitta. O nome da faixa chegou a aparecer no perfil da cantora no Spotify como lançamento previsto, mas ela desistiu de gravar.

“Mudei algumas coisas na letra e no beat, para deixar com a minha cara. Fizemos algumas adaptações, mas sem perder o foco da inspiração de Gonzaga”, conta Juliette.

Com a versão pronta, a equipe de cantora foi atrás da autorização da família do cantor e compositor, uma das figuras mais emblemáticas da cultura popular brasileira. Os herdeiros de Gonzaga administram os direitos autorais da obra do artista, que morreu em 1989.

“Eles são muito criteriosos com isso. É muito difícil a família de Gonzaga liberar alguma coisa. Eles têm que ouvir e entender que não vai ser nada prejudicial à obra dele.”

O cantor e compositor Luiz Gonzaga — Foto: Reprodução

Juliette diz que, além da permissão para adaptar "Pagode Russo", também foi autorizada pela família de Gozagão a regravar "Numa Sala de Reboco", "São João na Roça", "O Xote das Meninas" e "Olha pro Céu". Todas foram incluídas no "São Juão", em versões ao vivo, ao lado de músicas de Dominguinhos, Alceu Valença, Zé Ramalho e outros compositores.

"Vem Galopar" tem ao todo seis autores, incluindo os créditos da música original -- de Luiz Gonzaga e João Silva. Juliette conclui: “A verdade é que a música é boa e está na cabeça de todo mundo.”

Por que é tão viciante?

Está mesmo. Para além das críticas, “Vem Galopar” tem sido comentada pelo potencial de grudar na mente. Isso não é por acaso.

Capa do disco ‘São JUão (ao vivo)’, de Juliette — Foto: Brunini

Muito se falou sobre a letra, mas o segredo do magnetismo da música está na atualização de uma melodia já bastante conhecida pelos brasileiros. O arranjo mistura a sanfona, a zabumba e o triângulo -- conjunto básico do baião, definido por Gonzaga -- com elementos de funk e uma base eletrônica mais lenta do trap, gênero do rap que está em alta nas paradas de sucessos do Brasil.

O resultado é um beat que "mistura linguagens", segundo Rafinha RSQ, produtor que trabalhou nessa e em outras faixas do “São Juão”. Para ele, o "efeito chiclete" não está nas palavras, mas num trecho instrumental específico, que é apresentado no início da faixa e repetido durante boa parte da melodia.

É uma "frase" instrumental da música, na linguagem técnica, que ajuda quem ouve a decorar as frases cantadas por Juliette. Por isso, há quem não consiga tirar "Vem Galopar" da cabeça.

"Sempre vão existir críticas, mas o importante é que as pessoas vão se acostumando e curtindo a música", diz Rafinha.

Para quem quer ouvir algo mais poético e meditativo, Juliette sugere dar play em outra faixa do álbum: "Amor de São Juão", que ela mesma compôs com o músico paraibano Seu Pereira. "Ou então escuta as outras. É o que eu faço."

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