Por Fábio Santos, g1


'Abin paralela': Investigações apontam que delegado usava grupo para compartilhar informações falsas

'Abin paralela': Investigações apontam que delegado usava grupo para compartilhar informações falsas

A investigação da Polícia Federal sobre o uso de ilegal de sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para espionar autoridades e desafetos políticos no governo Jair Bolsonaro aponta que um dos investigados criou um grupo denominado "grupo dos malucos" para difundir informações falsas ligadas a ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e seus familiares.

A Polícia Federal diz que foram interceptados diversos diálogos entre o policial federal Marcelo Araújo Bormevet e o militar Giancarlo Gomes Rodrigues indicando possíveis ações clandestinas contra os ministros do STF Alexandre de Moraes e Roberto Barroso, "com o escopo de questionar a credibilidade do sistema eleitoral", diz a decisão.

"A difusão de informações falsas diretamente vinculadas a Ministro da Suprema Corte e seus familiares era intencionalmente difundida no grupo nominado pelo próprio APF (agente da Polícia Federal) Bormevet como "grupo dos malucos" destacando a plena ciência dos interlocutores da desarrazoada desinformação produzida", diz o documento.

De acordo com a PF, servidores em exercício da Abin controlavam perfis e grupos utilizados para difundir "desinformação para atacar adversários e instituições". A Polícia Federal, no entanto, não detalhou em qual plataforma esses grupos foram criados.

Polícia Federal diz que investigados se comunicavam pelo "grupo dos malucos" — Foto: Reprodução

A dupla Bormevet e Giancarlo também atuou contra membros do legislativo, aponta a Polícia Federal, atingindo inclusive o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), um aliado do ex-presidente da República.

Em um dos diálogos, o alvo é o deputado Kim Kataguiri (União Brasil). As ações miraram os assessores do parlamentar, com a difusão de informações produzidas pela estrutura paralela.

"Joga essa porra no grupo. Servidor de gabinete do Deputado Kim Kataguiri advoga em causas particulares, sendo pago com dinheiro público", falou Bormevet em um dos grupos.

Sobre essa ação paralela da Abin, a Procuradoria-Geral da República destacou:

"O somatório dos elementos informativos colhidos até o momento permitiu a identificação de inúmeras outras ações clandestinas que contaram com a participação de ao menos um dos dois agentes (Giancarlo e Bormevet) ou de ambos, em completo desvio da finalidade institucional da Abin".

Sessão no plenário do STF — Foto: Reprodução

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Operação da Polícia Federal

Bormevet e Giancarlo são alvos de mandados de prisão e de busca e apreensão em nova fase da operação Última Milha, deflagrada pela Polícia Federal nesta quinta-feira (11). De acordo com as investigações, o grupo investigado usou sistemas de GPS para rastrear celulares sem autorização judicial.

Segundo a PF, nesta fase, os policiais cumprem cinco mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão em Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP).

Alvos dos mandados de prisão e de busca e apreensão:

  • Mateus de Carvalho Sposito;
  • Richards Dyer Pozzer;
  • Rogério Beraldo de Almeida;
  • Marcelo Araújo Bormevet;
  • Giancarlo Gomes Rodrigues.

Há ainda buscas contra outros dois investigados:

  • José Matheus Sales Gomes;
  • Daniel Ribeiro Lemos.

Alvos monitorados

Conforme as investigações da Polícia Federal, no esquema que ficou conhecido como Abin paralela, foram monitoradas as seguintes autoridades, servidores e jornalistas:

Poder Judiciário: ministros do STF Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux

Poder Legislativo: o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o deputado Kim Kataguiri (União-SP) e os ex-deputados Rodrigo Maia, que foi presidente da Câmara, e Joice Hasselmann. E os senadores: Alessandro Vieira (MDB-SE), Omar Aziz (PSD-AM), Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), que integravam a CPI da Covid no Senado.

Poder executivo: João Doria, ex-governador de São Paulo; os servidores do Ibama Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges; os auditores da Receita Federal do Brasil Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homen da Silva e José Pereira de Barros Neto.

Jornalistas: Monica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista.

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