Por Guilherme Mazui, g1 — Brasília


  • Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a Vale por 'enrolar' no pagamento de reparações em Mariana e Brumadinho.

  • Essas cidades mineiras foram atingidas por rompimentos de barragens da empresa.

  • Presidente disse que a dívida da Vale é com o povo afetado, não com Minas Gerais.

  • Lula cobrou do ministro Alexandre Silveira sobre o andamento das negociações

  • Silveira afirmou que o acordo com a Vale está 90% concluído e será finalizado em breve.

  • Lula está em Minas Gerais para eventos e anúncios de investimentos.

Lula concede entrevista em Minas Gerais. — Foto: Reprodução/ CanalGov

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta sexta-feira (28) que vai cobrar da Vale dívida de reparação de danos em Mariana e Brumadinho — cidades afetadas pelas barragens que se romperam. E que a empresa está "enrolando" para pagar ressarcimento.

"Estou pré-disposto a negociar a dívida da Vale não com Minas Gerais, a dívida da Vale com o povo da região que foi solapada pelas barragens Mariana e Brumadinho", afirmou Lula.

"Aquele povo tem que receber suas casas, aquele povo tem receber indenização. O rio tem que ser recuperado. E a Vale está lá com dinheiro aplicado sem querer pagar. Vamos também fazer acordo para que a Vale pague essa dívida", prosseguiu o presidente.

Lula afirmou que cobrou do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, como está a negociação. O ministro, segundo Lula, disse que está 90% concluído. Silveira é um político de Minas Gerais.

"[Silveira] vai me apresentar na semana que vem ou na outra para a gente bater o martelo e fechar esse acordo", disse Lula.

No caso de Brumadinho, as obras de reparação têm ocorrido, mas alguns valores de reparação têm sido cortados na Justiça, segundo uma assessoria jurídica (veja vídeo abaixo).

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A declaração do presidente foi dada à Rádio FM O Tempo, em um momento em que o presidente falava da dívida do estado de Minas Gerais com a União.

Em outro momento da entrevista, Lula disse que a Vale "está enrolando" os afetados pelo rompimento das barragens.

"A Vale, vamos ser francos, a Vale está enrolando o povo de Mariana e o povo de Brumadinho. Vamos ser francos, gente, isso não é brincadeira. Faz sete anos. Criou uma empresa para fazer o quê? O que que essa empresa faz? Essa empresa já fez as casas? Essa empresa já pagou indenização?", questionou o presidente.

'"A Vale está muito quietinha e ela sabe que ela tem que pagar. Ela sabe que ela tem que pagar', completou.

Lula está em Minas Gerais desde esta quinta-feira (27). Ele desembarcou em Belo Horizonte, no meio da tarde, e em seguida participou de evento em Contagem, na Região Metropolitana, onde anunciou investimentos na saúde, ao lado da prefeita Marília Campos (PT).

Nesta sexta-feira (28), o presidente tem agenda na capital.

A expectativa é de que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), apresente na próxima segunda-feira (1º) um projeto de lei com objetivo de reduzir os juros das dívidas dos estados.

Em troca, os devedores deverão entregar ativos que possuem em empresas ao governo federal e investir em segurança, por exemplo.

Lula elogiou o presidente do Senado que, na sua opinião, atualmente "é a figura pública mais importante de Minas Gerais".

Lula foi questionado sobre uma eventual candidatura de Pacheco ao governo mineiro, em 2026.

"Acho que ele tem todas as condições de fazer disputar eleitoral e ganhar as eleições", afirmou.

Tragédias

A barragem de Fundão rompeu em 5 de novembro de 2015, em Mariana, e causou o maior desastre ambiental da história do país. Dezenove pessoas morreram.

Cerca de 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração destruíram comunidades e modos de sobrevivência, contaminaram o Rio Doce e afluentes e chegaram ao Oceano Atlântico, no Espírito Santo. Ao todo, 49 municípios foram atingidos, direta ou indiretamente.

Já a tragédia em Brumadinho ocorreu em janeiro de 2019. O rompimento da barragem da Vale deixou 270 pessoas mortas e despejou milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração na bacia do Rio Paraopeba.

O que diz a Vale

A Vale não quis comentar as declarações do presidente Lula.

Mas, sobre o caso de Mariana, emitiu uma nota à imprensa em que reafirma o compromisso com a reparação e compensação relacionadas ao rompimento da barragem do Fundão (veja nota na íntegra abaixo).

Nota da Vale

"A Vale, como uma das acionistas da Samarco, segue engajada no processo de mediação conduzido pelo Tribunal Regional Federal da 6a Região (TRF6) e busca, junto às autoridades envolvidas, estabelecer um acordo que garanta a reparação justa e integral, tendo como prioridades o meio ambiente e as pessoas atingidas, representadas nas negociações por diversas instituições de justiça como as defensorias e os ministérios públicos. A Vale reafirma seu compromisso com as ações de reparação e compensação relacionadas ao rompimento da barragem de Fundão, da Samarco."

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