Parabéns também para nossa Curva das Expectativas Flutuantes
Passada a euforia das comemorações, e depois de ter aberto todos os presentes (como eu resolvi classificar cada comentário deixado aqui sobre o último post – aliás, muitíssimo obrigado), retomo aqui as energias para o blog ano 2! Considerando que escrevo este post no meio de uma longa viagem de trem por este país que vou explorar por esta e mais duas semanas (calma, as pistas sobre ele só virão semana que vem), depois de alguns dias bastante intensos de gravação, onde as horas do relógio teimam em não falar a mesma língua do meu metabolismo, não sei bem onde vou buscar essas energias…
Mas é preciso correr atrás delas, pois é tempo de uma nova Curva das Expectativas Flutuantes – e, ao pensar num título para hoje, me ocorreu que ela já está na sua décima segunda edição mensal (é a décima primeira, na verdade, mas permita-me uma licença poética…). Logo, parabéns para ela também. Aos que chegam agora (e não são poucos o que se declararam, nos comentários anteriores, como freqüentadores recentes deste blog), vale lembrar a origem desse despretensioso exercício de reflexão sobre nosso tão volátil interesse pela produção cultural.
Inspirado (ou melhor, descaradamente copiado) da revista “New York”, ela não pretende julgar os eventos culturais, mas apenas medir o nível de entusiasmo e/ou rejeição ao que está acontecendo na temporada. Assim, algo que aparece na categoria “bochicho” não é necessariamente bom – mas está sendo bastante aguardado. E o que acaba classificado como “ressaca” não é necessariamente ruim – só que ninguém agüenta mais ouvir falar, ou, de repente, depois que ele foi visto/lido/escutado/assistido, deixou a impressão que não era tudo aquilo que se esperava.
E não se trata de nenhuma palavra final. Desde o início, convido os próprios internautas a dar palpites, concordando ou discordando – sempre de acordo com o que eles estão percebendo no boca-a-boca das filas de cinema, teatro, noites de autógrafo, ou mesmo em conversas na frente da TV. Se você der uma olhada na primeira curva, vai ver como nossa expectativa é realmente flutuante (descontando o fato de, vejam só, “O ano em que meus pais saíram de férias” ter voltado às manchetes por causa do Oscar).
Enfim, como a Curva é baseada em comentários – e não nos próprios eventos que nela aparecem -, dou-me o luxo de fazer esta edição longe do território nacional. Mesmo distante, os e-mails não param – e uma passadinha diária pela internet ajuda a dar uma atualizada no que está sendo mais ou menos falado. Nesse sentido, nada supera a pergunta “quem matou Taís?”. Já experimentou dar um google nela? Na minha última tentativa, encontrei 218 mil links. Eu sei, eu sei: esse mistério vai ser desvendado amanhã (e se você estiver lendo isso depois de sábado, minha colocação nem vai fazer mais sentido). Mas hoje, quinta, quando vai ao ar o penúltimo capítulo de “Paraíso tropical”, essa discussão está no ponto de saturação – a um passo de se tornar um ruído irrelevante nas conversas informais. Porém, conto com a astúcia de Gilberto Braga para que o tópico de discussão dos próximos dias seja: “Você viu quem matou a Taís?”.
Ainda falando de TV, acho que, à essa altura, posso falar bem de um quadro do “Fantástico” sem ser cabotino, certo? Um ano depois, todo mundo já entendeu que isso aqui não é um instrumento de propaganda do programa onde eu trabalho, certo? Se restar alguma dúvida, é uma pena, pois eu não tenho como não falar de algo que é uma unanimidade quanto às ótimas críticas: as reportagens de Regina Casé nas periferias pelo mundo. Não vou me alongar (porque aí sim vai parecer esquisito), mas se você já viu pelo menos um episódio, vai concordar. E, de certa maneira ainda na periferia (pelo menos no que diz respeito aos ouvidos mais cosmopolitas), não faltam elogios também para o novo disco de Manu Chao, “La radiolina”.
Como prova de que uma mesma atração pode começar numa ponta e terminar na outra, a montagem brasileira de “Os produtores”, impecável adaptação que esteve em alta conta no “pré-bochicho”, está agora tirando a paciência da platéia no segundo ato – um fenômeno que não é exclusivo, diga-se, desse espetáculo (vide o exemplo recente do não menos impecável “Sweet charity”). Será que a platéia brasileira nunca vai se acostumar ao ritmo de um musical da Broadway? Vem aí (ou melhor, vem aí “por Nova York”) uma versão para os palcos de outro filme de Mel Brooks (autor de “Os produtores”): “Young Frankenstein”. E o bochicho, mesmo antes da estréia, é tão intenso que dá para ouvir daqui – de onde eu estou -, e no Brasil também!
Porém, voltando à montagem de Miguel Falabella, deixo aqui os mais sinceros votos de que ela atravesse essa fase e chegue logo à etapa “ressaca da ressaca” – exatamente onde está “A cidade do sol”, de Khaled Hosseini, que superou toda a saturação de livros sobre o Oriente Médio e conseguiu conquistar não só os leitores (que corriam o risco de ficar com implicância permanente ao tema), mas também a crítica.
Com esses exemplos todos, deu para entender o espírito (se é que você é da “geração” que não pegou o início da Curva lá no final do ano passado)? Muito bem, então fica fácil agora falar do resto. Dá para sentir que, com a estréia oficial do filme finalmente por aqui, mencionar “Tropa de elite” (que está no “ponto de saturação”), sem ter algo novo para dizer pode ser um passo em falso social? E que é evidente que “High school musical 2″ não despertou exatamente a febre da história original, não é mesmo? Preciso explicar porque dois dos diretores independentes americanos mais queridinhos de todos os tempos, Wes Anderson e Todd Haynes, já estão criando um pré-bochicho para seus filmes, respectivamente “The Darjeeling train” e “I’m not there”?
Então aí está a Curva deste mês. E repito, o convite feito há quase um ano: comente, critique, acrescente – ou faça agora sua própria lista e mande para cá. Ah! E na segunda-feira, prometo: você vai encontrar aqui uma foto inédita e uma pergunta já conhecida: “onde eu estou”?