Relembrando o feiticeiro mexicano

dom, 31/10/10
por Paulo Coelho |
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“Quando nasce o sol, eu vou trabalhar. Quando o sol se põe, volto para casa e descanso. Cavei o poço de onde tiro água para beber e cultivo o campo que me dá o alimento. Agindo assim, estou em perfeita comunhão com o Criador e nenhum rei pode fazer melhor que isso”.

Este antigo texto chinês também serve para sintetizar a filosofia de um dos mais importantes pensadores de minha geração, Carlos Castaneda. Seus ensinamentos, condensados em uma série de livros, sempre foram objeto de críticas e dúvidas, mas tiveram um impacto muito grande em minha vida.

Como hoje em dia as pessoas já praticamente não sabem quem é Castaneda, transcrevo e comento alguns de seus trechos pelo menos uma vez por ano. Não sei se com isso conseguirei que não o esqueçam, mas pelo menos, ao folhear suas páginas, me deparo com uma obra que se renova a cada leitura.

A roda do tempo II

sáb, 30/10/10
por Paulo Coelho |
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Mais textos de “A Roda do Tempo” (“The Wheel of time”, Laugan Productions), dos quais o próprio Castañeda selecionou o que lhe parecia mais importante de tudo que publicou:

Os atos têm poder. Especialmente quando o guerreiro sabe que cada luta pode ser sua última batalha. Existe uma estranha felicidade em agir com pleno conhecimento da idéia que podemos morrer no próximo minuto.

O mais difícil neste mundo é adotar a postura de um guerreiro. De nada serve estar triste, queixar-se, ou dizer que alguém está nos fazendo mal. Ninguém está fazendo nada a ninguém, e muito menos a um guerreiro.

A confiança do guerreiro não é a confiança do homem comum. O homem comum busca a aprovação nos olhos do espectador, e chama a isso de certeza. O guerreiro busca ser impecável perante si mesmo, e chama a isso de humildade. O homem comum está ligado aos seus semelhantes, o guerreiro está conectado com o infinito.

Há muitas coisas que um guerreiro pode fazer em um determinado momento, e que não podia fazer há alguns anos. Não foram as coisas que mudaram; o que mudou foi a idéia que o guerreiro tinha a respeito de si mesmo.

O poder sempre coloca ao alcance do guerreiro um centímetro cúbico de sorte. A arte do guerreiro consiste em ser permanentemente fluido, para consegui-lo utilizar.

Todo mundo dispõe de suficiente poder para conseguir alguma coisa. O segredo do guerreiro consiste em desviar a energia que antes dedicava a suas fraquezas, e utilizá-la em seu propósito nesta vida.

A roda do tempo

sex, 29/10/10
por Paulo Coelho |
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Textos de “A Roda do Tempo” (“The Wheel of time”, Laugan Productions), dos quais o próprio Castañeda selecionou o que lhe parecia mais importante de tudo que publicou:

Um guerreiro aceita a responsabilidade de seus atos – mesmo os mais triviais. O homem comum nunca assume seus erros, mas assume qualquer vitória, mesmo que seja dos outros. Ele é um ganhador ou um perdedor, e pode transformar-se em perseguidor ou vítima, mas jamais chegará a condição de guerreiro, porque não merece.

Um guerreiro às vezes deve ser disponível, e às vezes deve estar oculto. É inútil para um guerreiro estar todo tempo disponível, assim como é inútil esconder-se quando todos sabem onde ele está escondido. Alternando a disponibilidade com a indisponibilidade, ele não se cansa à toa, e não cansa aqueles que estão ao seu lado.

Para o homem comum, o mundo é estranho porque, quando não está cansado de viver, está sofrendo por coisas que acredita não merecer. Para um guerreiro, o mundo é estranho porque é estupendo, pavoroso, misterioso, insondável. A arte do guerreiro consiste em equilibrar o terror de ser um homem, com a maravilha de ser um homem.

Sempre vale a pena pagar para ver

qui, 28/10/10
por Paulo Coelho |
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A leitora Soraia envia a seguinte história, que pensa ter sido publicada no New York Times. Eu tenho minhas dúvidas, mas como sempre achei que vale a pena pagar para ver, resolvi transcrevê-la aqui.

Uma pessoa fez o seguinte anúncio no jornal The New York Times: Vendo Mercedes Benz, pouquíssimo uso, preto, turbo. Preço: “US$ 85,00”; tratar com Carolinne, Tel: xxxxxxxxx.

Os que leram o anúncio pensaram que, por um erro gráfico, ao invés de US$ 85.000,00 imprimiram apenas US$ 85,00. Outros acharam que era uma espécie de trote, e acabaram não telefonando.

Até que Joseph Smith, em sua ingenuidade, resolveu ligar para Carolinne e esta lhe confirmou o preço. Quis saber se era algum acessório, ou uma miniatura – e a mulher lhe informou que não, tratava-se do próprio automóvel.

Mais do que depressa Joseph correu para a casa de Carolinne com os US$ 85,00 e – para seu espanto – lá estava Mercedes, lindo e reluzente na garagem.

Depois de ter pago, e já com o recibo nas mãos, perguntou:

“Senhora, fechamos o negócio e o carro é meu, mas por que o vendeu tão barato?”

“Bem, meu marido faleceu recentemente. Em seu testamento, pediu que o automóvel fosse vendido, e o valor destinado a Anny, sua secretária. Como sempre desconfiei que era sua amante, eu, como inventariante, estou executando seu desejo, mas à minha maneira”.

Michelangelo e a Capela Sistina

qua, 27/10/10
por Paulo Coelho |
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Quando encomendou a pintura da famosa capela, o Papa deu uma série de recomendações a Michelangelo: cenas do Antigo Testamento, profetas, apóstolos…O pintor não ficou muito satisfeito, mas mesmo assim concordou.

Começou a fazer o trabalho de acordo com as instruções recebidas, e embora todos elogiassem, ele estava insatisfeito com os resultados.

Um domingo foi descansar em uma taberna do Trastevere, que tinha fama de servir o melhor vinho de Roma. Pediu um copo, achou a bebida um pouco avinagrada, mas nada disse – afinal de contas, o local era conhecido pela qualidade, e talvez seu paladar que estivesse errado! De repente, um homem na mesa ao lado levantou-se e reclamou: “Este vinho não presta!”.

O taberneiro pareceu surpreso: “Não é possível, servimos o que há de melhor nesta cidade! Deixe-me experimentá-lo”. Bebeu um pouco, olhou para o freguês, puxou uma faca, e disse: “Tem razão. Não merece ser servido aqui”.Com a lâmina rasgou os recipientes de couro, e a rua foi inundada por um rio vermelho.

Naquele mesmo instante, Michelangelo teve uma revelação: todos pensavam que a pintura que estava executando era a melhor de Roma, como o vinho daquela taberna. Ele até então não se atrevera a dizer nada, porque era a opinião da maioria, inclusive do Papa!

Levantou-se na mesma hora, foi até os murais, apagou tudo e recomeçou de novo. Foi chamado de louco por todos, mas conseguiu criar um mural que até hoje é
considerado como um marco na história da arte.

Comenta Dom Rafael: “precisamos ter a valentia de rasgar, cortar, queimar, para poder recomeçar e reconstruir”.

Encontrando o mestre correto

ter, 26/10/10
por Paulo Coelho |
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Nosso caminho irá cruzar sempre com muita gente que, por amor ou por soberba, quer nos ensinar algo. Como distinguir o amigo do manipulador?

A resposta é simples: o verdadeiro mestre não é aquele que ensina um caminho ideal, mas o que mostra ao seu aluno as muitas vias de acesso até a estrada que ele precisará percorrer para encontrar-se com seu destino. A partir do momento em que encontra esta estrada, o mestre não pode mais ajudá-lo, porque seus desafios são únicos.

Isso não vale nem para o amor, nem para a guerra – mas sem compreender este item, não chegaremos a lugar nenhum.

Refletindo sobre o aprendizado

seg, 25/10/10
por Paulo Coelho |
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O rabino Elisha Ben Abuyah costumava dizer:

“Aqueles que estão abertos às lições da vida, e que não se alimentam de preconceitos, são como uma folha em branco, onde Deus escreve suas palavras com a tinta divina”.

“Aqueles que estão sempre olhando o mundo com cinismo e preconceito, são como uma folha já escrita, onde não cabem novas palavras”.

“Não se preocupe com o que já sabe, ou com o que ignora. Não pense no passado nem no futuro, apenas deixe que as mãos divinas tracem, a cada dia, as surpresas do presente”.

A Lição da Borboleta

dom, 24/10/10
por Paulo Coelho |
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A leitora Sonaira D’Avila me envia a seguinte história:

Um homem estava observando, horas a fio, uma borboleta esforçando-se para sair do casulo. Ela conseguiu fazer um pequeno buraco, mas seu corpo era grande demais para passar por ali. Depois de muito tempo, ela pareceu ter perdido as forças, e ficou imóvel.

O homem, então, decidiu ajudar a borboleta; com uma tesoura, abriu o restante do casulo, e libertando-a imediatamente. Mas seu corpo estava murcho e era pequeno e tinha as asas amassadas.

O homem continuou a observá-la, esperando que, a qualquer momento, suas asas se abrissem e ela levantasse vôo. Mas nada disso aconteceu; na verdade, a borboleta passou o resto da sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas, incapaz de voar.

O que o homem – em sua gentileza e vontade de ajudar – não compreendia, era que o casulo apertado e o esforço necessário à borboleta para passar através da pequena abertura foi o modo escolhido pela natureza para exercitá-la e fortalecer suas asas.

Algumas vezes, um esforço extra é justamente o que nos prepara para o próximo obstáculo a ser enfrentado. Quem se recusa a fazer este esforço, ou quem tem uma ajuda errada, termina sem condições de vencer a batalha seguinte, e jamais consegue voar até o seu destino.

O sapo e a água quente

sáb, 23/10/10
por Paulo Coelho |
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Adapto aqui um texto enviado pelo advogado Renato Pacca, que atribui sua autoria a um gerente de uma agência bancária em São Paulo:

Vários estudos biológicos demonstram que um sapo colocado num recipiente com a mesma água de sua lagoa fica estático durante todo o tempo em que aquecemos a água, mesmo que ela ferva. O sapo não reage ao gradual aumento de temperatura (mudanças de ambiente) e morre quando a água ferve.
Inchado e feliz.

Por outro lado, outro sapo que seja jogado nesse recipiente com a água já fervendo, salta imediatamente para fora. Meio chamuscado, porém vivo!
Às vezes, somos sapos fervidos. Não percebemos as mudanças.

Achamos que está tudo muito bom, ou que o que está mal vai passar – é só questão de tempo. Estamos prestes a morrer, mas ficamos boiando, estáveis e apáticos, na água que se aquece a cada minuto. Acabamos morrendo, inchadinhos e felizes, sem termos percebido as mudanças à nossa volta.

Sapos fervidos não percebem que além de serem eficientes (fazer certo as coisas), precisam ser eficazes (fazer as coisas certas). E para que isso aconteça, há a necessidade de um contínuo crescimento, com espaço para o diálogo, para a comunicação clara, para dividir e planejar, para uma relação adulta. O desafio ainda maior está na humildade em atuar respeitando o pensamento do próximo.

Há sapos fervidos que ainda acreditam que o fundamental é a obediência, e não a competência: manda quem pode, e obedece quem tem juízo. E nisso tudo, onde está a vida de verdade? É melhor sair meio chamuscado de uma situação, mas vivos e prontos para agir.

Reflexão

sex, 22/10/10
por Paulo Coelho |
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De Dom Rafael Llana Cinfuentes (adaptado livremente do livro “Insegurança, Medo e Coragem”, Ed. Quadrante):

“Sabemos que nem toda ação audaciosa corresponde a uma conduta corajosa. Há ações que são fruto de atitudes reprováveis. Como podemos distinguir o que é imprudência do que é a coragem?”.

“Aristóteles nos dá uma definição muito apropriada dessa distinção:” O bravo é corajoso. O temerário deseja apenas parecer corajoso ““.
“E Torelló escreve:” O homem intrépido e forte expõe-se consciente e livremente ao perigo, e até ao perigo da morte, mas sempre a serviço de valores superiores; terá que ser razoável se quiser ser forte. A estupidez nunca é uma virtude.

“Todos sentimos medo da dor, do fracasso, da crítica maldosa, da doença, da morte, mas todos nós soubemos defender, alguma vez, nossos pais ou nossos direitos. Não há, pois, ninguém que possua a coragem em estado puro. Não se encontra a coragem na palma da mão: está escondida nos mais profundos recantos do coração, como uma mina oculta que deve ser descoberta e explorada”.

Um homem valente é aquele em quem a coragem acaba por prevalecer sobre o medo.