A reflexão

qua, 30/06/10
por Paulo Coelho |
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De Frederick Buechner (The magnificent defeat):

“Nós já dialogamos naturalmente com Deus, através da oração. Rezar é quebrar o silêncio. E a necessidade de reconhecer e ser reconhecido. Rezar é o som criado pelo mais profundo de nossos sentimentos”.

“Eu não estou falando apenas das preces formais que costumamos dizer na igreja ou no quarto, antes de dormir. Eu falo daqueles vestígios, fragmentos de oração que as pessoas usam, mesmo dizendo que não acreditam em nada, sem sequer se darem conta de que estão rezando. Algo inesperado acontece, e as pessoas dizem ‘Meu Deus!’, ou então, ‘Nossa Senhora!’, e ali está uma prece, muitas vezes escondida, proferida com vergonha, medo do ridículo, escondida sob a forma de blasfêmia”.

“A oração é um instinto humano de se abrir naquilo que tem de mais profundo. É impossível evitar este instinto. De uma maneira ou de outra, todas as pessoas rezam e rezaram deste o início dos tempos”.

O viajante silencioso

ter, 29/06/10
por Paulo Coelho |
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O governador e sua comitiva estavam em um trem, quando notaram, no mesmo vagão, um senhor mal-vestido, com os olhos fechados. Alguém resolveu afastá-lo dali, mas o governador impediu; aquela criatura serviria para distraí-los durante a viagem.

Provocaram o homem durante todo o trajeto, com gracejos e humilhações.

Quando chegaram à estação, porém, viram que muita gente viera receber o estranho: tratava-se de um dos mais conhecidos rabinos da América, e seus seguidores tinham ajudado a eleger o governador.

Imediatamente, este se deu conta do erro. Puxando-o para um canto, pediu:

“Perdoa as nossas brincadeiras e abençoa-nos, rabino”.

“Eu posso abençoá-lo, mas não posso perdoá-lo. Naquele trem, eu estava, sem querer, representando todos os homens humildes deste mundo. Para receber o perdão, percorra a terra inteira, e se ajoelhe diante de cada um deles”.

Do abismo

seg, 28/06/10
por Paulo Coelho |
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O guerreiro – sem querer – dá um passo em falso e  mergulha no abismo. Os fantasmas se aproximam e o assustam, a solidão o atormenta. Como tem fé, e sempre procurou seguir o caminho do Bom Combate, não pensava que isto fosse acontecer com ele.

Mas aconteceu. Os desígnios da Providência Divina são insondáveis. Envolto pela escuridão, ele se comunica com seu mestre.

“Mestre, caí no abismo”, diz ele. “As águas são fundas e escuras; será que morrerei afogado?”

“Lembre-se de uma coisa”, ele escuta o mestre dizer. “O que afoga alguém não é o mergulho, mas o fato de permanecer debaixo d’água”.

E o guerreiro,  a partir deste momento, usa as suas forças para sair do abismo.

Transparente e secreto

dom, 27/06/10
por Paulo Coelho |
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O guerreiro sabe que nenhum homem é uma ilha, isolada no meio do oceano.

Sabe que não pode lutar sozinho; seja qual for o seu plano, sempre depende de outras pessoas. Precisa discutir sua estratégia, pedir ajuda, e — nos momentos de descanso — ter alguém para contar histórias de combate ao redor da fogueira.

Mas ele não deixa que as pessoas confundam sua  camaradagem com insegurança. Ele e transparente em suas ações, e secreto nos seus planos.

Um guerreiro da luz dança com seus companheiros, mas não transfere para ninguém a  responsabilidade de seus passos.

Meditando no ataque

sáb, 26/06/10
por Paulo Coelho |
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O guerreiro da luz sempre procura melhorar.

Cada golpe de sua espada traz consigo séculos de sabedoria e meditação.

Cada golpe precisa ter a força, e a habilidade de todos os guerreiros do passado, que ainda hoje continuam abençoando a luta.

Cada movimento no combate honra os movimentos que as gerações anteriores procuraram  transmitir através da tradição.

O guerreiro desenvolve a beleza de seus golpes, não para destruir seu adversário, mas para honrar os amigos que lhe ensinaram a arte da espada.

Sabendo esperar

sex, 25/06/10
por Paulo Coelho |
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O guerreiro da luz precisa de tempo para si mesmo. E usa este tempo para o descanso, a contemplação, o contato com a alma do mundo. Mesmo no meio de um combate, ele consegue meditar.

Em algumas ocasiões o guerreiro senta-se, relaxa, e deixa que tudo que está acontecendo ao seu redor continue acontecendo. Olha tudo a sua volta como se fosse um espectador, não tenta crescer nem diminuir – apenas entregar-se sem resistência ao movimento da vida.

Aos poucos, tudo que parecia complicado começa a tornar-se simples. E o guerreiro se alegra.

Dos detalhes

qui, 24/06/10
por Paulo Coelho |
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O guerreiro da luz presta atenção nas pequenas coisas. Porque elas podem atrapalhar os grandes avanços.

Um espinho, por menor que seja, faz o viajante interromper seu passo. Uma pequena célula – invisível aos nossos olhos – pode enlouquecer e destruir todo um organismo sadio. A lembrança de um instante de medo pode nos transformar em covardes a cada manhã. Um momento de hesitação no meio do combate pode abrir a guarda para o golpe fatal do inimigo.

O guerreiro está atento às pequenas coisas. Ele às vezes é duro demais consigo mesmo, mas prefere agir desta maneira.

“O diabo mora nos detalhes”, diz um velho provérbio. Um guerreiro jamais esquece isto.

Do medo

qua, 23/06/10
por Paulo Coelho |
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O guerreiro da luz fica apavorado, quando precisa tomar deci¬sões importantes.

“Isto é grande demais para você”, diz um amigo em quem confia. “Vá em frente, tenha coragem”, diz outro amigo em quem confia. E suas dúvidas aumentam.

Depois de alguns dias de angústia, ele recorre ao melhor con¬selheiro de todos: o escuro do seu quarto.

Nas sombras, ele vê a si mesmo no futuro. Vê as pessoas que serão beneficiadas e preju¬dicadas por sua atitude. Sabe que, ao dar um passo adiante, deixará alguma coisa – ou alguém – para trás. Ele não quer causar sofrimentos inúteis, mas tampouco quer abandonar o caminho.

O guerreiro que observa a si mesmo deixa que a decisão se manifeste. Se for preciso dizer sim, ele dirá com coragem. Se for preciso dizer não, ele dirá sem covardia.

O medo e o desejo

ter, 22/06/10
por Paulo Coelho |
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O guerreiro da luz contempla as duas colunas que estão ao lado da porta que pretende abrir. Uma se chama “Medo”, outra se chama “Desejo”.

O guerreiro olha para a coluna do Medo, e ali está escrito: “você vai entrar num mundo desconhecido e perigoso, onde tudo que aprendeu até agora não servirá para nada”.

O guerreiro olha para a coluna do Desejo, e ali está escrito: “você vai sair de um mundo conhecido, onde estão guardadas as coisas que sempre quis, e pelas quais lutou tanto”.

O guerreiro sorri – porque não existe nada que o assuste, e nada que o prenda. Com a segurança de quem sabe o que quer, ele abre a porta.

Da criança

seg, 21/06/10
por Paulo Coelho |
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O guerreiro da luz acredita. Assim como as crianças – nas quais sempre se espelha – o guerreiro é todo entusiasmo.

Ao contrário das outras pessoas, que estão sempre exigindo provas, o guerreiro da luz acha que uma coisa é verdade até que alguém consiga demonstrar que é mentira.

Porque crê em milagres, os milagres começam a acontecer. Porque tem certeza que seu pensamento pode mudar sua vida, sua vida começa a mudar. Porque está certo que irá encontrar o amor, este amor termina aparecendo.

De vez em quando, ele se decepciona. Às vezes, ele se machuca. E então escuta os comentários: “como é ingênuo!”

Mas o guerreiro sabe que vale o preço. Para cada decepção, tem duas conquistas a seu favor. Todos os que acreditam sem medo, sabem disso.