50 canções de amor e suas musas desesperadas

dom, 27/05/12
por Luciano Trigo |
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capaAs musas passam, as músicas ficam. As 50 historinhas reunidas no livro Músicas e Musas, de Frank Hopkinson e Michael Heatley (Gutenberg, 144 pgs. R$34,90), têm um elemento em comum: a efemeridade dos relacionamentos amorosos que inspiraram clássicos da música pop (e talvez seja este, justamente, o motor da criação dessas canções: o impulso de de tornar permanente algo que se sabe passageiro). São, portanto, histórias e canções tristes, em sua maioria feitas para mulheres intensas, bonitas, jovens e desesperadas.

Músicas e Musas nos lembra assim quem foram as namoradas, esposas, amantes, groupies, celebridades e ilustres desconhecidas inspiraram 50 clássicos pop: a Emily da música “See Emily Play”, do Pink Floyd; a Lola dos Kinks; a Suzanne de Leonard Cohen; a “dear Prudence”, de John Lennon. Hopkins e Heatley não chegam a fazer grandes revelações, mas o livro vale pelo conjunto de mini-biografias (das canções, das músicas e das bandas), pelas fotografias (capazes de provocar nostalgia mesmo em quem não viveu a época) e pelo capricho do projeto editorial.

Duas canções e suas musas:

Marianne Faithfull tinha 17 anos e acabara de sair de um colégio de freiras quando conheceu numa festinha Mick Jagger e Keith Richards, que compuseram para ela As tears go by. Antes de se envolver com Jagger, ela gravou com a banda The Hollies o hit Carrie Anne. Aos 18 anos, teve um bebê com o vocalista Allan Clarke, que era casado. As 19, embarcou num tumultuado relacionamento com o líder dos Rolling Stones (depois de dormir com outros dois integrantes da banda, Brian Jones e Keith Richards). O uso de drogas era rotineiro, e em fevereiro de 1967 Marianne foi presa numa batida policial na casa de Richards, chapada e vestida apenas com um tapete de pele de urso. “Isso me destruiu”, ela declarou, anos depois. “Num homem ser viciado em drogas pode ser até um charme. Numa mulher, a situação faz dela uma vagabunda e uma mãe desqualificada.”

Marianne Faithfull

Jovem, rica e desmiolada, a californiana Edie Sedgwick atraiu a atenção de Andy Warhol em 1965, mesmo ano em que o artista pop se associou à banda Velvet Undergorund (Warhol desenhou a icônica capa da banana do álbum de estreia do Velvet). Por encomenda de Warhol, Lou Reed compôs Femme Fatale, que retrata Edie como sedutora e irresistível. Depois de participar de alguns filmes experimentais, Edie se afastou da Factory e teve uma breve ligação com Bob Dylan. Mas foi com um amigo do músico, Bob Neuwirth, que ela se envolveu, num namoro marcado pelo abuso de drogas e surtos psicóticos. Depois de passar por várias clínias psiquiátricas, Edie morreu aos 28 anos, de causas desconhecidas.

Edie Sdgwick

Pop star chinês do piano, Lang Lang se apresenta hoje no Rio

qui, 24/05/12
por Luciano Trigo |
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Lang Lang

Com 14 CDs gravados, incluindo um repertório difícil e eclético, e fazendo mais de 100 apresentações por ano em todo o mundo, o pianista chinês Lang Lang, 29 anos, é a sensação do momento na música erudita. Nesta quinta-feira ele se apresentará no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, às 20h30, ocando uma Partita de Bach, uma Sonata de Schubert e os 12 Estudos de Chopin. Pop star, já se apresentou para a rainha Elizabeth 2ª e para o presidente Barack Obama. Em 2008, tocou na cerimônia de abertura das Olimpíadas de Pequim. Tanto quanto pela técnica notável, Lang Lang também é conhecido pelos gestos exagerados ao piano e outras excentricidades, como usar tênis e fraque colorido, e seu nome já virou marca de um modelo de tênis  e de um luxuoso modelo de caneta, o que já basta para torná-lo uma figura controversa.Mas basta ouvir suas gravações para perceber que não se trata de um produto de marketing promovido pela indústria da música, mas de um verdadeiro gênio musical.

Veja aqui o recital de Lang Lang em Viena.

Menino-prodígio, Lang Lang nasceu em 1982, em Shenyang, no nordeste da China, e começou a estudar piano aos 3 anos. Ganhou o primeiro lugar na competição de piano de sua cidade natal aos 5  e entrou para o Conservatório Central da China aos 9. Aos 11 foi premiado na Alemanhda e, aos 13, venceu o II Concurso Internacional Tchaikovsky de Músicos Adolescentes. Em 1997 foi morar nos Estados Unidos, onde se aperfeiçoou com Gary Grafmann, no Curtis Institute, na Filadélfia, e, a partir de 2003, com Daniel Barenboim.  O reconhecimento internacional veio em 1999, quando executou o Concerto para Piano Nº 1 de Tchaikovsky com a Sinfônica de Chicago, no Festival de Ravinia.

Programa:

Bach - Partita nº 1 em si bemol maior

Schubert - Sonata em si bemol maior

Chopin - Doze estudos

 

 

 

 

e-Massa e e-Poder

dom, 20/05/12
por Luciano Trigo |
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As redes sociais estão se tornando veículo para perigosos rituais de justiça sumária e linchamento virtual

 

Nos anos 30 do século passado, assustado diante da incompreensível adesão do povo alemão ao nacional-socialismo em ascensão, o escritor búlgaro Elias Canetti decidiu tentar decifrar o misterioso processo por meio do qual os indivíduos, quando diluídos na massa, são capazes de dar vazão aos instintos mais irracionais e agressivos, abrindo mão de sua consciência crítica e deixando suas vidas serem pautadas por verbos como mandar e obedecer, matar e destruir – bastando para despertar esses impulsos a simples e insuportável presença do outro, de formas de agir e maneiras de pensar que ameaçam o sentimento de segurança proporcionado pela tribo.

capa massa e poder

Canetti publicou suas conclusões em 1960, no hoje clássico ensaio Massa e Poder. Nesse empreendimento intelectual de várias décadas, ele demonstrou as raízes históricas desse comportamento: já em tempos imemoriais, quando o condenado era apedrejado por todos, ninguém assumia o papel de executor. Em determinados países da África, prisioneiros eram enterrados em formigueiros, para que as formigas fossem o carrasco. Mesmo nos pelotões de fuzilamento, os soldados que efetuavam os disparos não eram responsáveis pela execução, já que estavam cumprindo uma missão delegada pela sociedade. A mesma lógica pode ser aplicada aos romanos que crucificaram Jesus Cristo, já que a sentença foi dada pela massa.

Já em 1986, voltando ao tema, Canetti declarou: “Ainda hoje todos participam das execuções públicas, através dos jornais. A diferença é que assim tudo fica mais cômodo. Pode-se ficar tranquilamente instalado em sua própria casa, e, quando tudo termina, o prazer não é estragado pelo mais leve vestígio de culpa.” Ainda não existia a Internet, muito menos as redes sociais. Mas linchamentos midiáticos já eram práticas consolidadas.

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Um caso pessoal. Em 2009 lancei um livro propondo uma reflexão sobre a situação da arte contemporânea, ‘A Grande Feira’, uma análise do conjunto de valores, práticas e instituições que determina, no presente como em qualquer época, o que se considera boa arte, com inevitáveis implicações no mercado. Em poucos dias meu livro se tornou objeto de ódio mortal de um grupo de artistas e seus dependentes nas redes sociais, com posts em que fui chamado de nazista e stalinista, para citar os termos mais brandos. Curiosamente, o ponto em comum entre todos os furiosos defensores do sistema da arte que tive a ousadia de criticar era: nenhum deles tinha lido meu livro.

a grande feiraMesmo sendo um episódio de importância minúscula, envolvendo poucas dezenas de pessoas, tive ali o primeiro contato, no papel de alvo, com um fenômeno social que desde então vem crescendo de forma assustadora: o uso das redes como veículo de rituais de justiça sumária. Em catarses coletivas, disparadas por diferentes pretextos, internautas se mobilizam – às dezenas, centenas ou milhares, dependendo do assunto e do tratamento dado pela mídia – para promover linchamentos virtuais que seria ingênuo classificar de inofensivos, já que podem ter impactos sérios na imagem e na vida de indivíduos e empresas, ou de determinar o sucesso ou o fracasso de obras artísticas e produtos comerciais.

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O ato de agressão coletiva não é apenas de êxito garantido – pela superioridade numérica em relação à vítima indefesa; ele também elimina o risco de punição. A responsabilidade pelo que é dito, da mesma forma que a identidade de quem diz, é diluída no anonimato do grupo. Na massa virtual com quem compartilha sua raiva, o internauta encontra um sentido que talvez não exista em sua existência real, medíocre e atomizada. Daí sua entrega eufórica à desrazão coletiva, que exerce sobre ele a mesma atração hipnótica que a música eletrônica sobre mentes alteradas. A esse fenômeno recente, diretamente vinculado à expansão das redes sociais, proponho chamar, na falta de melhor termo, de “e-massa”.

A e-massa enxerga a realidade em preto e branco e divide as pessoas em “nós” e “eles”. A e-massa se compraz em ironizar, debochar, humilhar, diminuir, expor ao ridículo. A e-massa sabe que sua força vem de sua união, não da consistência de seu pensamento. A e-massa é dogmática: tem a convicção de estar com a razão e está disposta a esfolar e arrebentar quem discordar dela. A e-massa se julga democrática e defensora da liberdade e da tolerância, quando na verdade é autoritária, intolerante e desconhece a liberdade de quem pensa de forma diferente.

Hoje assistimos rotineiramente à conformação de coletivos, para usar um termo da moda, que se mobilizam (mas também se desmobilizam) rapidamente, movidos pelo instinto de manada e pela necessidade de afirmação, de reconhecimento, de pertencimento, em ataques à vítima da vez. Basta ter uma conta no Twitter ou um perfil no Facebook para qualquer indivíduo se arvorar como juiz, promotor e carrasco em casos que mal compreende. O que importa é estar do lado certo – isto é, do lado de quem ataca.

Qualquer assunto que esteja na mídia pode ser motivo para um novo apedrejamento, e não é preciso forçar a memória para identificar exemplos recentes desse fenômeno:

logo bbb

- o linchamento virtual de um participante da última edição do Big Brother Brasil, acusado pela e-massa de estupro e mais tarde inocentado – quando já tinha sido expulso do programa, com conseqüências para sua vida e profissão que só ele pode avaliar. Curiosamente, logo depois que ele saiu, a e-massa iniciou outro movimento igualmente irracional, pedindo sua volta pelo Twitter: o #foradaniel virou #voltadaniel. Vale lembrar que outro suposto estuprador, Strauss Kahn, provavelmente seria hoje o novo presidente da França se não tivesse sido destruído pela mídia e pela e-massa;

filme sérvio

- o caso da proibição pela Justiça do longa-metragem Um filme sérvio, por conter cenas que simulam estupro de recém-nascido e outras violências contra crianças: o advogado que moveu a ação contra a exibição do filme, com base no Estatuto da Criança e do Adolescente em vigor, sofreu uma avalanche de mensagens ofensivas em seu perfil no Facebook. Esse caso também é exemplar da voracidade passageira da e-massa: o filme continua proibido (por determinação do Judiciário, como, aliás, também acontece em diversas democracias avançadas), mas ninguém se lembra mais do assunto: o furor da e-massa contra a “censura” (que talvez traduza uma nostalgia inconsciente da ditadura) foi tão efêmero quanto intenso;

nan goldin

- o mesmo argumento da censura (palavra mágica que tem o poder de mobilizar instantaneamente a e-massa, mesmo quando de censura não se trata, mas de direito de escolha de quem promove ou de simples cumprimento da lei por quem proíbe), choveram protestos virtuais contra o Oi Futuro por ter cancelado uma exposição da artista americana Nan Goldin com fotografias de menores nus e de atos sexuais e de consumo de drogas diante de crianças. A instituição manteve o patrocínio à exposição, transferida para o MAM, e esclareceu que simplesmente julgava inadequado abrigá-la num espaço constantemente freqüentado por estudantes da rede pública e particular, em visitas guiadas; mas para a e-massa isso é detalhe;

- a enxurrada de mensagens no Twitter com o tag #devolvaodinheirobethania, por conta da autorização do Ministério da Cultura para captar recursos para o projeto de um site da cantora sobre poesia. Não havia dinheiro a ser devolvido, apenas permissão para captar, mas a e-massa não se preocupou com esse detalhe, nem em se informar sobre como funcionam as leis de incentivo. Chegado a uma polêmica, aliás, o músico Lobão deu sua contribuição à e-massa, tuitando críticas à  “Máfia do Dendê”, “essa MPB formada por cadáveres insepultos querendo permanecer no presente contínuo através da chapa branca”;

carolina dieckmann

- por fim, a divulgação ilegal na internet de fotografias íntimas da atriz Carolina Dieckmann provocou a reação em (e-)massa de internautas que transformaram a vítima em réu, outro hábito recorrente da e-massa: “É marketing!”; “Ela está querendo aparecer na mídia!” etc. Esses mesmos internautas, em muitos casos, acessaram e compartilharam as imagens, apesar do alegado desinteresse nas fotos.

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Se, quando limitada à expressão irresponsável de ressentimentos pessoais coagulados, a ação da e-massa já pode ser bastante grave e nociva, muito piores são e serão os casos em que ela estiver a serviço do “e-poder”. Isto é, daqueles que, independente de partido ou ideologia, perceberem e souberem manipular o caráter impulsivo e volúvel da e-massa, a rapidez e a paixão com que ela abraça qualquer causa.

Esse risco é potencializado pelo fato de estarmos em ano de eleições: é fácil visualizar campanhas concebidas para canalizar energias coletivas e ganhar a adesão cega de pessoas comuns, honestas e até bem-intencionadas, mas para quem a pressão social para tomar partido, de forma maniqueísta e incondicional, pode ser irresistível. Depois de feito o estrago, é difícil voltar atrás. A tentação de abrir mão de pensar antes de dizer dizer sim (ou não), para ser reconhecido e aceito pelos pares, pode ser difícil de rejeitar quando a alternativa é o banimento simbólico, moral e social. Elias Canetti demonstrou que isso não costuma acabar bem.

 

 

Baudelaire vai à balada: em busca dos paraísos artificiais

dom, 13/05/12
por Luciano Trigo |
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Charles Baudelaire Capa do livro

Do livro Paraísos Artificiais, de Charles Baudelaire, ao filme Paraísos Artificiais, de Marcos Prado, as drogas são um tema recorrente na criação artística. São inúmeros os casos de escritores que, ao longo dos 150 anos que separam as duas obras, fizeram uso de diferentes tipos de substâncias químicas, do beat Jack Kerouac ao intelectual Aldous Huxley, do poeta Jean Cocteau ao filósofo Jean-Paul Sartre, num rol que ainda inclui Thomas de Quincey, Coleridge, Rimbaud, Fernando Pessoa, Henri Michaux, Walter Benjamin, Philip K.Dick, Timothy Leary, Carlos Castañeda, Hunter Thompson e Irvine Welsh. Sir Arthur Conan Doyle transferiu para seu personagem Sherlock Holmes o próprio gosto pela cocaína, substância que também foi pesquisada e usada por Freud.

No Brasil, já em 1924, na crônica No bairro da cocaína, Benjamin Costallat retratou Gaby, uma parisiense dona de pensão na praia da Glória, na qual se reuniam toxicômanos e “aspiravam pitadas de pó em companhia de mulheres”. Indiferente ao sofrimento alheiro, Gaby “venderia a última peça de roupa, a última jóia, para alimentar seu vício” – e o dos seus hóspedes. Era, conclui Costallat, a sacerdotisa de uma nova igreja, a religião da cocaína. Vale lembrar que a cocaína era vendida em farmácias, como analgésico, até meados da década de 30, e consumida livremente em bares e pensões – até ser proibida por lei, em 1938. Entre os escritores brasileiros que tiveram contato com a droga estão Junqueira Freire, Olavo Bilac, Pagu, João do Rio, Lima Barreto e Manuel Bandeira. João Cabral de Melo Neto tinha outro vício: o ácido acetil-salicílico da Aspirina, da qual ele era um consumidor contumaz – e à qual dedicou um famoso poema, em que define o comprimido como “o mais prático dos sóis”.

Não decorre daí que essas experiências tornaram necessariamente melhor ou pior a escrita desses autores, mas em todo caso isso mostra que a atração exercida pelo uso de substâncias que conduzem a estados alterados da mente atravessa os séculos e continua rendendo relatos que no fundo espelham a mesma busca e as mesmas questões abordadas por Baudelaire em meados do século 19. De lá para cá os relatos sobre o vício não mudaram muito: os cenários são diferentes, mas a essência é a mesma: prazer, sofrimento, redenção, perda. Talvez William Burroughs, outro doidão, tivesse razão quando afirmou: “Nunca acontece nada de novo no mundo das drogas”.

Leia aqui um trecho do livro Paraísos Artificiais.

Em Paraísos Artificiais (L&PM, 224 pgs. R$17), publicado em 1860. Baudelaire descreve e compara os efeitos de três substâncias psicotrópicas: o haxixe, o ópio e o vinho. No caso do haxixe, ele se baseou em experiências próprias, como frequentador do Club des Hachichins, círculo de artistas e intelectuais que se reunia no Hotel Pimodan, em Paris, para experimentar as sensações de alargamento dos sentidos provocadas pela droga. Já o capítulo sobre o ópio se baseia no livro Confissões de um Comedor de Ópio (1821), de Thomas de Quincey, que Baudelaire traduziu livremente para o francês, com alguma ênfase nos efeitos nocivos para o organismo do uso crônico da droga, contrapartida cruel da alucinações maravilhosas e surreais que ela proporciona. Para o poeta, sensações mais agradáveis e menos danosas decorrem do vinho – com uma ressalva: desde que consumido com moderação. “Existe um deus misterioso nas fibras da videira. Como são grandes os espetáculos do vinho, iluminados pelo sol interior! Como é verdadeira e abrasadora esta segunda juventude que o homem dele retira! Mas como são, também, perigosas suas volúpias fulminantes e seus encantamentos enervantes”, escreve.

Baudelaire não escreveu portanto para exaltar o uso de psicoativos, mas para alertar contra os seus devastadores efeitos morais e espirituais no indivíduo. Escrevia de cadeira, pois além do consumo de haxixe ele ficou viciado em láudano,  um derivado de ópio, ao qual recorria para aliviar os sintomas da sífilis. Mesmo em relação ao potencial da droga como estimulante da criativdade artística, Baudelaire é reticente: “Aquele que recorre a um veneno para pensar em breve não poderá pensar sem veneno. Dá para imaginar o destino horrível de um homem cuja imaginação paralisada não funciona mais sem o haxixe ou o ópio?”, pergunta o autor de As Flores do Mal.

Não resta dúvida, portanto, sobre a mensagem de Baudelaire. Revela-se no livro, contudo, certa ambiguidade nessa percepção fundadora das drogas na modernidade. Mesmo alertando para os “esforços sobre-humanos de vontade que lhe foi necessário empregar para escapar à danação a qual ele, imprudentemente, se havia devotado”, o escritor relata também os prazeres envolventes e reveladores das substâncias que analisa, de tal forma que é capaz de despertar a curiosidade do leitor mesmo 150 anos depois da publicação do texto: “As palavras mais simples, as idéias mais triviais tomam uma fisionomia nova e estranha; semelhanças e aproximações incongruentes, impossíveis de serem percebidas, jogos de palavras intermináveis, tentativas de comicidade jorram continuamente de seu cérebro. O demônio o invadiu; é inútil resistir (…). De vez em quando, você ri de si mesmo, de sua ingenuidade e de sua loucura, e seus companheiros, se você os tem, riem igualmente de seu estado e do deles; mas, como eles não têm malícia, você não tem rancores”.

Essa ambiguidade, de certa maneira, subsiste. Em todas as produções artísticas contemporâneas que tematizam a droga, ou que são produzidas sob seu efeito, existe esse convívio tenso entre atração e repulsa, entre resistência e entrega, entre alerta racional e exaltação irracional.

Cena do filme 'Paraísos artificiais'

No cinema essa dicotomia é ainda mais evidente que na literatura, talvez pela imposição comercial de se levar em consideração o gosto e os limites da plateia. Sem forçar muito a memória, nos filmes que tematizaram a droga a punição é uma companheira constante do êxtase. Exemplos: The trip, de Roger Corman (1967);  Sem destino, de Dennis Hopper (1969); O desespero de Veronika Voss, de Rainer Werner Fassbinder (1982); Drugstore Cowboy, de Gus Van Sant (1989); Mistérios e paixões, de David Cronenberg (1991); Trainspotting, de Danny Boyle  (1996); Réquiem para um sonho, de Darren Aronofsky (2000). Em todos o protagonista ou algum personagem importante morre ou é preso ou se estrepa de alguma maneira como consequência direta do vício.

De certa forma, o padrão se repete no longa-metragem Paraísos artificiais, de Marcos Prado, no qual quase todos os personagens são de alguma maneira punidos – o que tem levado parte do público a considerar o filme moralista, enquanto outra parte, paradoxalmente,o julga ousado demais, talvez mais pelas (belas) cenas de nudez e sexo que propriamente pelas drogas. Não concordo com nenhuma das duas visões. Acho tão careta e autoritário julgar o filme a partir de uma posição fechada pró-drogas quanto a partir de uma posiçãofechada anti-drogas. Uma e outra enxergam a questão de forma absoluta, como se o sentido, os efeitos e as consequências da droga fossem os mesmos em qualquer época, em qualquer contexto, em qualquer pessoa.

Não são.  O haxixe de Baudelaire não é a bala da balada. A maconha como evasão da opressiva realidade brasileira dos anos 70 não é a maconha da juventude consumista da Barra da Tijuca dos anos 2000. O impacto do tráfico  e sua relação com a violência urbana também mudaram radicalmente, o significado político do consumo é outro. O que não mudou é que, em qualquer época, excessos podem ter consequências sérias. Tudo isso precisa ser levado em conta em qualquer criação artística, ao menos se a intenção for tratar do assunto de maneira honesta, sem julgamentos fáceis nem proselitismo.

Plasticamente impecável, Paraísos artificiais traz sequências que lembram, em sua primeira metade, a atmosfera das cenas filmadas no deserto californiano de Zabriskie Point, de Antonioni, talvez o melhor retrato da contracultura e da juventude americana dos anos 60 já feito no cinema.  (Aliás, o protagonista de Zabriskie Point também é punido, e o filme é tudo menos moralista.) O diretor Marcos Prado consegue produzir no espectador o que a experiência de uma rave pode ter de maravilhosa para quem gosta e frequenta. Nem por isso ele cede à tentação de retratar o universo da música eletrônica e o boom das drogas sintéticas como uma realidade cor de rosa, onde todo mundo se ama e nada de ruim pode acontecer. Seus personagens são de carne e osso, têm problemas familiares, sofreram com perdas e lidam com o desafio de superá-las. E, graças a um roteiro cuidadosamente estruturado, aparecem lidando com essas questões de formas diferentes em tempos e lugares variados: em uma palavra, amadurecem. Nesse processo, se alguma restrição pode ser feita ao filme, é sua relativamente curta duração (96 minutos), já que algumas sequências pediam um tempo e um desenvolvimento maiores.

Ao mesmo tempo, o filme fala diretamente aos sentidos do espectador, a quem consegue envolver de forma quase hipnótica – mais pela fotografia e pela montagem que pela música eletrônica, sempre irritante para quem não está sob efeito de nenhuma droga. Nessa tentativa de traçar um panorama realista e ao mesmo tempo poético de um fenômeno social ligado à classe média, e portanto próximo da maioria dos espectadores – empreendimento pouco comum entre nossos diretores, mas afeitos a retratar as “distantes” camadas mais carentes da população – Paraísos artificiais se destaca como exemplo do profissionalismo e da maturidade da atual fase do cinema brasileiro.

 

Livro revela segredos da Guerra das Malvinas, 30 anos depois

dom, 06/05/12
por Luciano Trigo |
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Capa

No livro O Código das Profundezas (Civilização Brasileira, 280 pgs. R$39,90), o jornalista Roberto Lopes conta a história, até agora desconhecida, da desastrada atuação argentina durante a Guerra das Malvinas, que completa 30 anos. O autor faz revelações sobre a conduta irresponsável e quase estúpida do Governo argentino e a precariedade dos equipamentos de guerra, como submarinos caindo aos pedaços. Mas fala também sobre a coragem de alguns comandantes nas situações mais adversas. O lançamento é oportuno, num momento em que as Malvinas/Falklands voltam a ocupar o noticiário internacional, agora por conta dos fortes interesses econômicos no petróleo descoberto na região. Nesta entrevista, Lopes destaca alguns episódios daquele conflito e anuncia seu próximo livro, sobre brasileiros que lutaram voluntariamente ao lado de Hitler, na Segunda Guerra.

- ‘O código das profundezas’ revela a precariedade dos submarinos e navios argentinos na Guerra das Malvinas. O que levou a Argentina a embarcar naquela aventura bélica se estava tão despreparada?

ROBERTO LOPES: A idéia da retomada das Ilhas Malvinas pelas armas partiu da Marinha argentina. O vice-almirante Juan José Lombardo, chefe de Operações Navais da Força, julgava que os militares precisavam de uma causa suprapartidária para reunificar a conflituosa sociedade argentina. A chamada “guerra suja” havia criado um clima de instabilidade interna insuportável no país. As Malvinas foram a motivação escolhida. Mas a verdade é que, nos planos da Junta Militar presidida pelo general Leopoldo Galtieri, essa ação não deveria gerar qualquer aventura.

Por um tremendo erro de cálculo, os principais chefes militares argentinos se convenceram de que seria impossível aos ingleses, distantes quase 13 mil quilômetros das Malvinas, recuperar as ilhas pela força. Tanto que o Estado-Maior Conjunto sequer havia preparado um plano de defesa consistente para o arquipélago. Os militares argentinos esperavam, sinceramente, que uma negociação diplomática com a ajuda dos Estados Unidos e da ONU pudesse encerrar a crise. Isso está explicado em detalhes no livro, com base na documentação militar argentina e, sobretudo, nas ordens de retirada dos navios das ilhas, emitidas tão logo Buenos Aires retomou o controle sobre o arquipélago.

Mas, por uma questão de justiça, o meu livro também mostra que nem todos os almirantes argentinos avaliaram, erradamente, que os ingleses ficariam parados diante da perda das Malvinas. O problema é que o julgamento deles não prevaleceu. O próprio almirante Lombardo, que era um oficial submarinista, ficou impossibilitado de organizar uma emboscada para a frota britânica em alto-mar, usando os três submarinos disponíveis em sua Armada.

foto 1- Além dos equipamentos ruins, quais foram as principais falhas dos argentinos na operação? Que episódios você destacaria como representativos da coragem e da estupidez dos militares argentinos?

LOPES: Uma operação militar de retomada e controle de área insular extensa e remota, como era o caso das Malvinas, Geórgias e Sandwich, exige muito planejamento e preparo antecipado, porque, além do inimigo propriamente dito, você precisará se preocupar com as questões de transporte e as exigências de logística: envio de suprimentos, disponibilidade de combustível, estado de conservação do armamento etc. Isso para não se falar das condições ambientais, que, naquelas latitudes do Atlântico Sul, são terríveis. Os argentinos não se planejaram para todas as hipóteses possíveis na crise, e ainda foram à guerra enfrentando um embargo internacional chefiado pelos Estados Unidos, que os impediam de comprar as melhores armas.

Os dois exemplos, de coragem e de estupidez, dos argentinos podem ser recolhidos dentro da própria Força de Submarinos argentina. As tripulações dos navios dessa força mostraram extraordinária coragem e compromisso com o dever ao partirem para as missões de combate em navios com motores quebrados, equipamentos eletrônicos que não funcionavam com perfeição e torpedos defeituosos! Meu livro mostra que, em dezembro de 1981, quatro meses antes do ataque às Malvinas, um teste com os torpedos mais modernos dos argentinos, de fabricação alemã, evidenciou que eles, ao serem disparados, apresentavam sérios problemas. O exemplo de estupidez pode ser identificado na doutrina argentina de emprego dos submarinos. Em vez de usarem esses navios como elemento ofensivo, aproveitando ao máximo a capacidade dissuasória de uma embarcação furtiva, que navega debaixo d’água, os almirantes argentinos os usaram como transporte de destacamentos de fuzileiros navais…

Foto 2- Na época, parte da imprensa brasileira foi simpática à causa argentina, com o argumento de que bastava olhar o mapa para saber que as Malvinas eram Argentinas. Essa percepção persiste ainda hoje no Brasil? Esse sentimento nacionalista e anti-imperialista é totalmente irracional?

LOPES: Essa percepção vigora ainda hoje, e teve seu valor até renovado recentemente, pelos governos Lula e Dilma, mas por um outro motivo: o temor de que grandes potências militares, como Inglaterra e Estados Unidos, venham explorar os recursos petrolíferos existentes no subsolo do Atlântico Sul. Sempre digo que os almirantes brasileiros deveriam mandar erigir um monumento em bronze em forma de esguicho de petróleo, e colocar diante da entrada do prédio do Comando da Marinha em Brasília, porque foi a descoberta do pré-sal que moveu o ex-presidente Lula e sua sucessora na direção de autorizar os fortes investimentos que estão sendo feitos na Marinha, especialmente nos setores de submarinos e de navios-patrulha.

O governo da senhora Cristina Kirschner percebeu essa preocupação de Brasília, e, com isso, ganhou fôlego para apontar o abuso britânico, ao preparar a exploração do petróleo malvinense. Buenos Aires também esgrime, habilidosamente, o argumento de que existe uma resolução antiga da ONU, que proíbe a exploração comercial de áreas sob litígio entre dois ou mais países. Ora, os argentinos dizem que a área das Malvinas é reclamada por dois governos. O problema é que a maior parte dos países representados na ONU não pensa assim, e o atual governo argentino não desfruta de bom conceito na comunidade internacional, especialmente agora, que adotou a via da expropriação de bens estrangeiros.

Clarín- Qual era a posição do Governo brasileiro em 1982 e qual é essa posição oficial hoje?

LOPES: Não há diferenças entre a posição brasileira de 1982 e a de hoje. O Itamaraty considera ilegal a ocupação militar das Malvinas feita pelos ingleses no início do século 19, apontadas por reclamações argentinas que datam, formalmente, de 1833.

Como em muitos outros casos (proteção aos civis no conflito interno na Síria, pesquisa nuclear no Irã, direitos humanos em Cuba, etc.), a teoria diplomática do Itamaraty faz bastante sentido, mas sua sintonia com a realidade deixa muito a desejar. Isso permite que o governo brasileiro pareça, às grandes potências, inconfiável.

- Quais são os interesses econômicos envolvidos hoje? O petróleo explica a nova ofensiva argentina no sentido de impor limitações à população das ilhas?

LOPES: O petróleo resume toda a questão econômica em relação às Malvinas. Sem ele, as chamadas Ilhas Falklands, como os britânicos gostam de dizer, têm muito pouca importância. Especialmente para um governo como o de Londres, que dirige um país em recessão e com mais de 2,5 milhões de desempregados. O PIB das Falklands foi, ano passado, de 150 milhões de dólares, irrisório.

Londres gostaria de dar mais independência às Falklands, para que elas pudessem iniciar, dentro da Commonwealth, uma trajetória de estado autônomo, mas, nove anos atrás, o Peronismo, ou pelo menos o Peronismo representado pelo Kirschnerismo, recusou até mesmo compartilhar os lucros da exploração do óleo que está enterrado ao largo do litoral norte das Malvinas.

O futuro dependerá do sucessor de Cristina Kirschner. Se ele for um governante entreguista e apaziguador como Carlos Saul Menem foi, nos anos de 1990, em relação a Washington, por exemplo, a crise das Malvinas se desanuviará. Mas se esse sucessor continuar a usar as Malvinas como fator de unidade nacional, como Galtieri fez no passado e a senhora Kirschner faz hoje, os argentinos continuarão a criar empecilhos e tensões para o desenvolvimento das Falklands e da exploração do petróleo no arquipélago.

Galtieri- Nos anos 90, seu livro ‘Rede de Intrigas’ revelou o colapso da nossa indústria bélica. Qual a situação da indústria bélica brasileira hoje, e quais são seus principais problemas e desafios, sobretudo em relação ao (des)equilíbrio militar com nossos vizinhos latino-americanos?

LOPES: O livro Rede de Intrigas, que publiquei pela Record em 1994, retrata a farsa publicitária em torno da indústria de armamentos brasileira, e seu colapso econômico e técnico, em 1993, mas é o livro de uma era pretérita. No início da década de 1990 trabalhei na direção da Avibras, de São José dos Campos, que fabricava e exportava foguetes militares para os países árabes. Convenci-me de que, a menos que aceitasse parcerias com os grandes fabricantes internacionais de armamentos, a indústria nacional caminharia para o abismo. E o que aconteceu? Veio o desastre. A Engesa faliu, a Avibras entrou numa espiral de dificuldades econômicas que a levou à concordata. A situação de hoje é muitíssimo diferente, porque a palavra de ordem entre os industriais do setor de Defesa é a associação com os detentores estrangeiros da melhor tecnologia de equipamentos de Defesa. Isso lhes abre perspectivas de um futuro muito mais promissor.

- Mudando um pouco de assunto, já que você acompanha de perto a desclassificação de documentos relativos à América Latina na Segunda Guerra. Quando se pensa em submarino, logo vem a lembrança do torpedeamento de embarcações brasileiras por submarinos alemães, em 1942, que acelerou a entrada do Brasil na guerra. Em relação a esse episódio, algo de novo foi revelado?

LOPES: Sim. Descobri, recentemente, que os arquivos da Marinha do Brasil guardam evidências bastante detalhadas de que navios mercantes argentinos espionaram os comboios marítimos que trafegavam pela costa brasileira, em apoio ao esforço de guerra Aliado. Os barcos argentinos que acompanhavam os comboios organizados pelas Marinhas dos Estados Unidos e da Inglaterra  transmitiam sua posição em alto-mar, pelo rádio, para o território continental argentino. Pelo que pude perceber, essas informações eram repassadas, quase que automaticamente, à Embaixada do Reich, em Buenos Aires.

Como se sabe, na metade final da Segunda Guerra a Argentina era comandada por um grupo de militares simpatizantes da Alemanha nazista. Tenho os nomes de vários desses navios argentinos e de seus comandantes, mas não tive tempo de fazer avançar minha pesquisa. Trabalho, nesse momento, em um outro projeto. Porém, tudo indica que, durante certo período, as informações colhidas por essa ação de espionagem no mar chegaram aos submarinos alemães encarregados de patrulhar as águas brasileiras, ou foram despachadas diretamente ao comando da frota submarina nazista do Atlântico, que funcionava na cidade francesa de Lorient.

- Outro episódio curioso de submarino na Segunda Guerra foi o afundamento do cruzador Bahia por um submarino alemão, que supostamente levava dirigentes nazistas para a Argentina (segundo alguns, Hitler inclusive). Qual é a sua leitura desse episódio?

LOPES: Não há evidências documentais (ou testemunhos orais) de que isso tenha acontecido. Pelo menos até agora. Sou um historiador, preciso me basear em provas. Fico, por enquanto, com o resultado da investigação feita à época pela própria Marinha, de que a explosão no “Bahia” deveu-se a um terrível acidente.

- Fale rapidamente sobre o seu próximo livro, que envolve a participação de civis brasileiros na defesa da Alemanha nazista.

LOPES: Meu novo original, em fase de conclusão, chama-se Águias Perdidas. O texto fala dos dez civis brasileiros que, por diferentes circunstâncias, foram parar na Alemanha nazista, e por convicção pessoal, necessidade econômica ou espírito aventureiro, decidiram se empregar no governo Hitler. Eles trabalharam na programação para o estrangeiro da emissora de ondas curtas de Berlim, numa revista das Forças Armadas alemãs, no Ministério da Propaganda de Joseph Goebbels, e até em operações clandestinas, que misturavam propaganda e espionagem. Trata-se de um assunto absolutamente fascinante – com surpresas até a última página já na fase do pós-guerra – e dificílimo de ser investigado, por dois motivos: o desaparecimento de boa parte da documentação alemã da época, e o constrangimento que o assunto desperta nos descendentes e amigos desses brasileiros alvos da pesquisa.

A verdade é que mídia brasileira ainda não percebeu a velocidade com que a papelada secreta referente à Segunda Guerra vem sendo desclassificada – liberada – pelos principais centros de documentação, em Washington e em Kew Gardens (Inglaterra). Isso tem uma explicação bem simples: com o passar das décadas, os diferentes sigilos estão vencendo. Os documentos secretos ingleses sobre a Guerra das Malvinas, por exemplo, só começarão a ser liberados à pesquisa em 2072. Poucos se lembram, mas em janeiro do ano que vem a subida de Adolf Hitler ao poder na Alemanha já completará seu 80º aniversário. Atualmente trabalho em nada menos do que seis projetos de pesquisa, cada um mais sedutor do que o outro. O desafio é completá-los.

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Anjos e Safados no Holocausto: 1938-1939 de Roberto Lopes. afonte, 272 pgs. R$ 39,80

Roberto Lopes relata esquemas de fraudes e vendas de passaportes, uma verdadeira indústria sustentada pelo desespero e pelo sofrimento de um sem número de perseguidos por Hitler. Com a ascensão do regime nazista na Alemanha, em muitos casos a única maneira de continuar vivo ou livre era buscar exílio em outro país. Nesse contexto, Nesse cenário, a América Latina parecia um paraíso tropical, onde o dinheiro valia mais que qualquer ideologia antissemita ou embargos diplomáticos. Foi assim que a já famosa corrupção desta parte do mundo atraiu a atenção dos perseguidos que podiam pagar por um passaporte. Mas essa história não foi feita apenas de estelionatários e aproveitadores. Alguns embaixadores e funcionários de consulados desempenharam papel fundamental na retirada de judeus da Europa sem exigir sua contraparte financeira. O autor dedica parte do volume, por exemplo, ao casal Aracy Moebius de Carvalho e João Guimarães Rosa –funcionários do consulado do Brasil em Hamburgo– e ao cônsul Murilo Martins de Souza e ao vice-cônsul Roberto de Castro Brandão, pessoas que agiram de boa fé.

Capa 2Ultramar Sul – A última operação secreta do Terceiro Reich de Juan Salinas e Carlos de Nápoli. Civilização Brasileira, 490 pgs. R$57,90

Segundo os autores, terminada a Segunda Guerra, um comboio de submarinos alemães partiu rumo à Argentina numa operação secreta concebida para que os principais aliados de Hitler fugissem para o hemisfério Sul – há suspeitas históricas, inclusive, que o próprio Führer poderia estar entre eles. Este trabalho de pesquisa afirma que, no trajeto, um dos submarinos torpedeou uma embarcação brasileira, o cruzador Bahia, causando a maior tragédia naval já conhecida no país. No entanto, contra muitas evidências, o desastre que resultou na morte de mais de 300 tripulantes foi considerado pela marinha brasileira como um acidente. Com uma documentação inédita, os argentinos Juan Salinas e Carlos De Nápoli trazem à tona detalhes desta que pode ter sido a última operação do Terceiro Reich, com o conhecimento velado dos Estados Unidos e da Inglaterra.