Sugestões de leitura

dom, 26/04/09
por Luciano Trigo |
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Os exilados de Montparnasse (1920-1940), de Jean Paul Caracalla. Record, 288 pgs. R$40

Em uma Paris fervilhante, após a Primeira Guerra Mundial, conviveram os mais importantes nomes da literatura do século XX: Fitzgerald, Hemingway, D. H. Lawrence, Joyce, Miller, Pound, Gertrude Stein, Edith Wharton. Esses artistas escolheram viver em total independência, adotaram Montparnasse como refúgio boêmio e constituíram um grupo que marcou a história da literatura e que ainda suscita o interesse da crítica e do público. Caracalla recria essa época e, em um retrato delicioso, mostra a cidade e os personagens mais interessantes que fizeram parte de sua história recente.

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Villa Air-Bell 1940 – O refúgio da intelectualidade, de Rosemary Sullivan. Rocco, 526 pgs. R$66

No ano de 1940, em meio às perseguições dos espiões e colaboradores de Hitler em Paris, então com as fronteiras fechadas e as ruas sob permanente vigilância, um grupo de artistas e intelectuais franceses residentes na França da época – figuras como André Breton, Max Ernst, Marc Chagall, Walter Benjamin e Victor Serge – encontra refúgio na Villa Air-Bel, uma mansão nos arredores de Marselha. Financiada por uma organização norte-americana, a casa acolheu esta elite pensante e fugitiva que procurava, em sua produção criativa, lucidez e abrigo para os horrores do mundo exterior. A instável convivência em Air-Bel – marcada por debates acalorados, violentas discussões e paixões clandestinas – e os artifícios utilizados para adiar a inevitável chegada das autoridades nazistas às portas da Villa são o mote desse livro.

Obamamania invade as livrarias

sáb, 18/04/09
por Luciano Trigo |
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capaJá passam de dez os livros de ou sobre Barack Obama lançados no Brasil (ver capas e informações abaixo). Mas um dos mais interessantes e polêmicos publicados nos Estados Unidos não foi (e provavelmente nem será) traduzido: trata-se de The Obama Nation – Leftist politics and the cult of personality, de Jerome Corsi. Convém avisar que o autor faz uma leitura abertamente ideológica, conservadora e republicana do fenômeno Obama, mas nem por isso o livro deixa de ser interessante, do ponto de vista jornalístico. Ou seja, naquilo que contém de análise e prognóstico é altamente questionável; mas, como reportagem, traz revelações surpreendentes, sobretudo num contexto de aprovação praticamente unânime e de homogeneidade de discursos da mídia sobre os méritos do presidente americano.

Corsi começou a pesquisar a vida de Obama já em 2004, quando ele se elegeu Senador pelo Illinois. Mais de 600 notas de rodapé fundamentam com remissões a variadas fontes as informações contidas no livro – algumas delas chocantes, sobretudo para o americano médio. Por exemplo, revelações sobre os anos do jovem Barack no Havaí e na Indonésia, seus antecedentes familiares e sua conversão ao Cristianismo. Algumas acusações de Corsi acabaram ganhando ampla repercussão na mídia, como a suposta associação de Obama com líderes de movimentos radicais, ou seu apoio a um candidato muçulmano nas eleições presidenciais do Quênia, terra de seu pai. Mais interessante é a teoria de que Obama estimula um certo culto á personalidade, o que tem antecedentes periogosos na História. Obama, afirma Corsi, é um discípulo fiel de Saul Alinsky, líder comunista que desenvolveu eficazes técnicas de manipulação e marketing político.

Já no primeiro capítulo, Corsi demole a visão romântica e heróica que Obama construiu de seu pai no livro Dreams from my father: Corsi revela que Barack Obama Senior era polígamo e alcoólatra, tendo abandonado a namorada grávida na África antes de conhecer a mãe do presidente no Havaí – para mais abandoná-la e voltar à África, inde morreu num acidente de carro em Nairobi, provocado pelo alcoolismo, detalhes convenientemente esquecidos nas memórias do presidente. E esta é apenas uma das muitas mentiras ou omissões apontadas em The Obama Nation. O ponto de Corsi é: se Obama é capaz de mentir sobre seu pai, sobre o quê ele não mentiria?

Apesar de tendencioso,The Obama Nation tem o mérito de mitigar o clima de oba-oba (oba-Obama?) que contamina o noticiário sobre o atual ocupante do cargo mais poderoso do planeta: até para evitar frustrações futuras, é positivo que exista alguém para lembrar que Barack Obama é humano e falível, e não um super-herói com poderes extremos.

Segue uma lista dos principais lançamentos da Obamamania no Brasil:

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Barack Obama – O caminho para a Casa Branca, edição especial preparada pela revista Time (Publifolha, 96 pgs. R$34,90)
Obamanomics – Como a economia da justiça pode mudar o mundo, de John R.Talbott (Saraiva, 296 pgs. R$34,90).
A origem de meus sonhos, de Barack Obama (Gente, 452 pgs. R$59,90)

Menos e melhores lançamentos

dom, 12/04/09
por Luciano Trigo |
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Capa 1Para quem gosta de bater perna em livrarias, como eu, foi visível um certo desaquecimento do mercado editorial nos primeiros meses de 2009. Aos poucos, porém, as editoras recuperam o ritmo. O que se percebe é que elas estão mais seletivas em seus lançamentos, o que é bom. Em tempos de euforia, muita bobagem é vendida, e como o espaço nas prateleiras é finito, às vezes o marketing fala mais alto, e excelentes livros passam despercebidos. Nesse sentido, como em outros setores da economia, a crise pode ter, por assim dizer, um efeito colateral saudável, ao menos para os leitores: menos – mas melhores – lançamentos disputam a sua atenção (e o seu bolso). Retomando sua vocação natural de acompanhamento do mercado, a coluna Máquina de escrever preparou uma seleção dos melhores lançamentos das últimas semanas.

No ambicioso O resto é ruído (Companhia das Letras, 646 pgs. R$64), Alex Ross, jornalista e crítico musical da revista The New Yorker, conta a história da música erudita do século 20 - ou seria a história do século 20 através de sua música? Ross entrelaça conhecimentos musicais sólidos com as conturbadas conjunturas política, social, econômica e cultural que de certa forma pautaram as transformações e rupturas musicais na Europa e nos Estados Unidos. Sem preconceitos, o autor mostra como a sempre difícil e elitista vanguarda musical acabou sendo incorporada por formas populares de cultura, como o cinema, e influenciando bandas como Velvet Underground. Rico em informações e com um estilo fluente, Ruído se lê como uma grande reportagem e vem se somar a outros dois lançamentos recentes da Companhia das Letras que também fazem grandes balanços da cultura: Modernismo – O fascínio da heresia, de Baudelaire a Beckett e mais um pouco  (552 pgs. R$64), do historiador Peter Gay, e New Art City – Nova York, capital da arte moderna (684 pgs. R$89), do crítico de arte Jed Perl, ambos obras de referência de alto nível e de leitura indispensável, sem deixar de ser agradável.  Um detalhe interessante sobre Ruído é que um acompanhamento de áudio gratuito pode ser ouvido no site www.therestisnoise.com/audio, uma espécie de trilha sonora que enriquece bastante a leitura.

Capa 3Em A tirania do petróleo – A mais poderosa indústria do mundo e o que pode ser feito para detê-la, Antonia Juhasz (Ediouro, 432 pgs. R$59,90) faz revelações sobre o impacto da indústria petrolífera e seu custo para o meio-ambiente, a democracia e a economia do planeta. É um panorama elucidativo e preocupante sobre um tema mais que atual. A autora demonstra por A + B que o petróleo foi a verdadeira razão das intervenções americanas no Iraque e afirma que o setor é um dos responsáveis pela crise econômica que vivemos. Seus alvos preferenciais são a Era Bush e as chamadas Big Oil, as grandes empresas transnacionais que acumularam um poder inédito na História, com seu controle cartelizado sobre a produção, o refino e a distribuição. Com base em segredos e mentiras, as Big Oils - equivalente atual das chamadas “Sete Irmãs” de décadas passadas - influenciam diretamente decisões governamentais, num jogo de poder e manipulação sem precedentes. A tirania do petróleo faz uma reflexão necessária sobre a abalada ordem econômica mundial e a necessidade de buscar alternativas energéticas mais razoáveis – antes que seja tarde.

capa 7A arte de recusar um original, do canadense Camilien Roy (Rocco, 144 pgs. R$25) é uma divertidíssima compilação de 99 cartas fictícias de editores recusando originais, em estilos que vão do furioso ao preguiçoso, do poético ao teatral. Como é sabido, alguns dos maiores romances da literatura universal receberam cartas desse tipo – entre as mais famosas está a de André Gide rejeitando o manuscrito de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust (Gide nunca se perdoou pela mancada…). Infelizmente, é improvável que A arte de recusar um original repita no Brasil o sucesso que fez em países com um mercado editorial mais robusto e democrático, como a França, mas por sua sua inteligência e ironia merece ser lido - inclusive por algumas soi-disant profissionais de editoras brasileiras que menosprezam abertamente originais que chegam sem recomendação, fechando a porta de antemão a novos talentos. 

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Um panorama do cinema mundial

ter, 07/04/09
por Luciano Trigo |
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capa1No Brasil e no mundo, o cinema enfrenta desafios que devem transformar radicalmente seu mercado e sua indústria – e a própria relação entre filme e espectador. Novas tecnologias colocam em questão antigos modelos, embaralham relações simbólicas estabelecidas e abrem brechas para o surgimento de novos players. No cenário globalizado, a velocidade das mudanças atropela as tentativas locais de controle institucional. Do atrito entre práticas subversivas e modelos caducos estão nascendo novas relações com a imagem, da produção ao consumo. Impossível prever quais serão os desdobramentos desse processo a longo prazo: o certo é que o cinema vive um momento de grandes riscos – e grandes oportunidades, sobretudo para a circulação de novos produtos.

Para quem se interessa pelo assunto, é indispensável a leitura dos cinco volumes da coleção Cinema no Mundo: Indústria, Política e Mercado, organizada pela pesquisadora paulista Alessandra Meleiro (Escrituras, 256 pgs.cada; R$25 por volume). Para traçar um panorama atual da situação do cinema nos cinco continentes, Alessandra – também autora de O novo cinema iraniano, especialista em políticas culturais e pós-doutoranda na Universidade de Londres – reuniu um time de mais de 30 especialistas e profissionais da área (apenas três brasileiros), que investigam em profundidade aspectos culturais, econômicos e tecnológicos da produção cinematográfica.

 

capa 1Há no Brasil um visível crescimento de lançamentos de livros sobre cinema e audiovisual, merecendo destaque duas obras de referência muito úteis para os cinéfilos e o público em geral: 1001 filmes para ver antes de morrer, de Stephen Jay Schneider (Sextante, 960 pgs. R$59,90) e Cinema – Guia Ilustrado, de Ronald Bergan (Zahar, 510 pgs. R74,50) – ambas ricamente ilustradas. Mas são raríssimos os estudos sobre o mercado de cinema, como os presentes na coleção Cinema no Mundo.

 

Os textos não se limitam a apresentar o cinema contemporâneo dos Estados Unidos, da Europa, da Ásia, da África e da América Latina do ponto de vista da economia do audiovisual e das diferentes políticas adotadas em cada país: eles refletem sobre questões mais abrangentes, como a diversidade cultural e a economia política da cultura, o impacto da indústria cinematográfica na sociedade e diferentes modelos de comercialização e consumo. É um debate que está esquentando no mundo inteiro, à medida que se percebe que o mercado audiovisual é dos que mais crescem no planeta, movimentando bilhões de dólares por ano.

 

Mas até que ponto bens culturais como filmes devem ser entendidos como commodities? Quais as implicações desse enquadramento progressivo da cadeia produtiva do cinema numa lógica capitalista avançada (o filme como produto) – e, por outro lado, dos movimentos espontâneos de resistência simbólica (o filme como expressão crítica e estética) – sobretudo em países nos quais a indústria do cinema não se consolidou de forma sustentável?

 

nollywoodPor exemplo, é inevitável reconhecer a inteligência estratégica da indústria norte-americana, que muito cedo entendeu o potencial econômico e simbólico do cinema. Desde os seus primórdios o cinema americano se desenvolveu seguindo com obstinação uma agenda agressiva de conquista de mercados – primeiro internamente, em seguida a nível planetário. Enquanto no Brasil, historicamente, o cinema viveu de surtos e sempre dependeu da ajuda paternalista do Estado, na América rapidamente se montou um modelo que se alimenta do próprio crescimento e exporta não apenas filmes, mas valores e padrões de comportamento (e hoje não apenas nas salas de cinema, mas em diversas janelas, do DVD ao telefone celular). É certo que esse expansionismo planejado sufocou a possibilidade de crescimento de cinematografias nacionais planeta afora, mas não adianta chorar sobre o leite derramado: é preciso – e possível – desenvolver modelos próprios de crescimento, como mostram os mercados da Índia, do Irã e, mais recentemente, da Nigéria, onde a explosão da produção, favorecida pelas tecnologias digitais, já fez cunhar a expressão “Nollywood”.

 

Entre outros ensaios, integram a coleção:

- A indústria cinematográfica no Japão (Chris Howard); 

- A distribuição de filmes na China continental (Shujen Wang); 

- A conexão com a distribuição, pirataria e importação paralela em Hong Kong (Shujen Wang); 

- A política cinematográfica brasileira para o século 21 (Jom Tob Azulay); 

- A circulação global e local do novo Cinema argentino (Tamara L. Falicov); 

- O porquê de Hollywood ser global (Janet Wasko); 

- A falsa oposição entre “Hollywood” e “Independentes” (Drew A. Morton);

- As tendências e evolução do Cinema africano e sua ideologia (Ferid Boughedir); 

- O papel dos festivais na recepção e divulgação do Cinema africano (Mohamed Bamba); 

- O contexto político e institucional do financiamento público da indústria cinematográfica e audiovisual na Europa (André Lange e Tim Westcott);

- As várias faces dos festivais de Cinema europeus (Marijke de Valck);

- Os padrões de competitividade e proteção da indústria cinematográfica alemã (Marc Silberman);

- O mercado cinematográfico brasileiro (André Gatti).