Por Erickson Nogueira e Phelipe Caldas, g1 PB


Tiago Fontes é o principal suspeito do desaparecimento de Ana Sophia, em Bananeiras, e está foragido — Foto: Divulgação

Tiago Fontes, o único suspeito do desaparecimento da menina Ana Sophia, foi encontrado morto em 9 de novembro e teve a identidade confirmada pela Polícia Civil nesta terça-feira (14) por meio de exames de impressões digitais. De acordo com a Polícia Civil, Tiago pesquisou em seu aparelho celular sobre estágio e decomposição de corpo humano e ocultação de cadáver, horas depois do desaparecimento de Ana Sophia e instantes antes das buscas serem iniciadas.

Em entrevista coletiva concedida pela Polícia Civil nesta terça-feira (14), o delegado Aldrovilli Grisi, que investiga o caso, explicou que Tiago Fontes pesquisou sobre vários casos de desaparecimentos de criança que envolvem morte e estupro. Ainda de acordo com o delegado, Ana Sophia está morta e o corpo está oculto. Nesta terça-feira, buscas pelo corpo da menina foram iniciadas na região onde o corpo de Tiago Fontes foi encontrado, na região do s��tio Camará de Baixo, na zona rural de Bananeiras.

“Não estamos trabalhando com achismos, estamos trabalhando com certezas. Hoje temos certeza que Tiago Fontes assassinou Ana Sophia. Não existe a possibilidade dela estar em outro local. Ela está ocultada”, disse o delegado Aldrovilli Grisi.

Ana Sophia desapareceu em 4 de julho, por volta de 12h, quando pediu à mãe para ir brincar na casa de uma colega, como era de costume. A menina de 8 anos era acostumada a andar pelas ruas do distrito de Roma, no município de Bananeiras. Ela se despediu por três vezes e saiu usando um vestido azul florido. Ana Sophia foi até a casa da colega, mas não permaneceu por muito tempo, pois a menina estava de saída com a família para Solânea, cidade vizinha a Bananeiras.

Uma câmera de segurança registrou Ana Sophia se despedindo da colega e retornando, como se estivesse voltando para casa, no entanto, ela nunca chegou na sua residência. Aquele foi o último registro da criança. No mesmo dia, a família de Ana Sophia registrou na polícia o desaparecimento, e as buscas começaram no dia seguinte.

Horas após o desaparecimento de Ana Sophia, Tiago Fontes começou a realizar buscas na internet, através de seu aparelho celular, sobre estágio e decomposição de corpo humano e ocultação de cadáver.

Vídeo mostra Ana Sophia na frente da casa de uma amiga, em Bananeiras — Foto: Reprodução/TV Cabo Branco

De acordo com a Polícia Civil, a cronologia das pesquisas no celular de Tiago Fontes foram:

  • 5 de julho - 7h37 – pesquisa sobre decomposição de corpo humano;
  • 6 de julho - pesquisa o caso da criança Júlia, da Praia do Sol, que foi encontrada num poço assassinada pelo padrasto. Alguns dias depois, ele usa como critério de pesquisa “corpo uma semana após a morte”;
  • 25 de julho - pesquisa sobre estágios de putrefação
  • 28 de julho – pesquisa quanto tempo um fio de cabelo perde a capacidade de ser identificado por um DNA – preocupado com a ocultação de vestígios.

De acordo com Aldrovilli Grisi, Tiago Fontes arquitetou a morte e ocultação do corpo de Ana Sophia. O delegado afirmou que ele teve um comportamento diferente ao sair para trabalhar no dia do desaparecimento da menina. Colocou o carro na garagem, o que não costumava acontecer. E também lavou o local.

O delegado disse ainda que ele saiu para o trabalho por uma rota oposta, na contramão. E no dia seguinte deixou o local antes do horário normal.

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Cronologia da morte e ocultação do corpo de Ana Sophia.

4 de julho

  • 17h50 - No final da tarde, a esposa de Tiago Fontes chega em casa com o carro e ele sai para trabalhar
  • 18h08 - Tiago chega no trabalho em um condomínio em Bananeiras. A Polícia Civil monitorou oito idas ao trabalho do suspeito, e no dia do crime ele mudou a rota de ida ao trabalho.

5 de julho

  • 4h - Ainda no trabalho, Tiago Fontes começa a realizar pesquisas sobre estágio e decomposição de corpo humano e ocultação de cadáver.
  • Entre 5h e 5h08 - Tiago Fontes sai do trabalho, mas não volta para casa pela rota habitual
  • 6h52 - Tiago Fontes chega em casa

De acordo com a Polícia Civil, Tiago Fontes ocultou o corpo de Ana Sophia em dois momentos, de forma provisória, e na janela de tempo em que saiu do trabalho para casa, num tempo de 1h52, ocultou o corpo da menina de forma definitiva.

“Um homem extremamente ardiloso, que se antecipava aos fatos”, relatou Aldrovilli Grisi, delegado que investiga o caso.

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Durante a investigação e coleta de depoimentos, o delegado Aldrovilli Grisi informou que Tiago Fontes ficou próximo de confirmar que matou Ana Sophia em três momentos, contudo, recuou em confessar o crime e se colocou no lugar de vítima.

“Ele [Tiago] ficou perto de confessar [ter matado Ana Sophia] por três vezes o crime quando foi interrogado. Mas não o fez. Ele chegou a dizer: ‘eu não tenho o corpo’. Ele fez uma postura de vítima, mas só existe uma vítima: Ana Sophia”, explicou o delegado.

Segundo o delegado Aldrovilli Grisi, que investiga o caso, a "motivação real [da morte de Ana Sophia] está enterrada com Tiago Fontes" e que o suspeito tinha um relacionamento indireto com a menina, mesmo que ele tenha negado a convivência, mas a Polícia Civil disse que há provas testemunhais.

“Ele tinha conhecimento da rotina da família de Ana Sophia. E aí vem os detalhes, corroborados em depoimentos, de um olhar, de uma cultura injusta com a mulher, a cultura do desvirginamento da criança, um olhar cruel, de um objeto. Com as afirmações que ele mesmo falou, sobre a atividade sexual dele na delegacia, nos leva a supor que se trata de uma crime de cunho sexual”, disse Aldrovilli Grisi.

O delegado Aldrovilli Grisi ainda informou que a família de Ana Sophia vivia em um imóvel alugado pelo sogro de Tiago, que morava em frente a residência da família da menina e Tiago frequentava a casa do sogro.

O corpo de Tiago Fontes foi encontrado sem sinais de hematomas ou perfurações, mas em avançado estado de decomposição. O corpo de Tiago Fontes foi encontrado junto de uma garrafa de bebida alcóolica e uma cama feita com capim, numa área de mata fechada, por trabalhadores rurais. A Polícia Civil acredita que Tiago Fontes morreu por enforcamento, por suicídio. Nas palavras técnicas dos investigadores, ele cometeu uma "autoeliminação".

Isso foi possível de confirmar, segundo a Polícia Civil, por causa de como o corpo foi encontrado. E também porque, na necropsia, conferiu-se que o corpo não possuía fraturas, nem outras marcas de violência externas.

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