Por G1 PA — Belém


Covid-19 se espalhou rapidamente por Melgaço e gerou duros impactos econômicos

Covid-19 se espalhou rapidamente por Melgaço e gerou duros impactos econômicos

O município de Melgaço, no arquipélago do Marajó, é um dos maiores produtores de açaí do Pará. A cidade é responsável por 23% de todo o fruto consumido no estado. Por conta disso, a coleta e o comércio de açaí é a principal fonte de renda de milhares de melgacenses. No entanto, a atividade que movimentava a cidade sofreu um grande impacto devido a pandemia da Covid-19. Devido ao isolamento social e a baixa procura pelo fruto, muitos habitantes da cidade ficaram sem renda e precisaram se reinventar para sobreviver. O impacto econômico causado pela pandemia em Melgaço é o foco da segunda reportagem da série "A Covid-19 no Marajó", transmitida pela TV Liberal nesta quinta-feira (2).

A série "A Covid-19 no Marajó" foi dividida em três reportagens, que mostram o enfrentamento da doença nas cidades da maior ilha marítimo-fluvial do mundo. O trabalho fez parte de uma parceria do jornalismo da TV Liberal com o fotógrafo Tarso Sarraf, que fez imagens e entrevistas impactantes sobre a situação da Covid na Ilha do Marajó. Após a transmissão, as reportagens ficam disponíveis no G1 Pará.

O porto de Melgaço, antes agitado pela chegada de latas de açaí que seriam comercializadas, hoje está parado. A cidade enfrenta um grave problema econômico por causa da pandemia. O fruto, coletado em Melgaço, era enviado de barco para Breves, onde era comercializado. No entanto, no dia 7 de maio, Breves entrou em regime de lockdown, decretado pelo Governo do Pará. Por conta disso, a venda de açaí reduziu.

"Tivemos uma queda de quase 50% no preço do açaí. As pessoas não tem vindo aqui comprar. Por isso o preço do açaí continua baixando. Isso é muito ruim pra gente que vive disso", lamenta o atravessador de açaí Evandir Santos.

23 de maio - Profissionais da saúde visitam comunidades ribeirinhas do município de Melgaço para fazer teste de coronavírus (COVID-19), na região de Marajoara, no arquipélago do Marajó, no estado do Pará — Foto: Tarso Sarraf/AFP

Além dos impactos causados pelo lockdown em Breves, município vizinho, a natureza também não ajudou a cidade de Melgaço. A pandemia coincidiu com o entressafra do açaí, intervalo entre as colheitas, quando o fruto fica mais escasso.

"Por conta do lockdown lá em Breves não temos o que fazer. Não adianta chegar com a produção lá se não temos pra onde vender. Peixe e camarão que pescamos também não tem mais destino. Pescamos agora só pra comer", contou o pescador Claudiney.

A grande maioria da população em Melgaço é como Evandir e Claudiney: trabalhadores autônomos. No município, apenas 4,3% da população tem alguma ocupação formal, segundo o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, o órgão aponta que a cidade possui o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, com 0,418.

As consequências da pandemia também foram vistas na frente da agência da Caixa Econômica da cidade. Devido ao grande número de autônomos, o auxílio emergencial, fornecido pelo Governo Federal, foi a garantia de sobrevivência pra grande parte dos mais de 27 mil habitantes da cidade.

Busca por tratamento envolve grandes distâncias

Ambulancha atende pacientes afastados — Foto: Ronaldo Ferreira/ PMS

A cidade de Melgaço é entremeada por diversos rios. Grande parte do município fica em cima de palafitas de madeira. Por isso, o principal meio de locomoção na região são as embarcações. No entanto, a dificuldade de acesso à algumas regiões também é um desafio para profissionais de saúde. Todos os dias, médicos e enfermeiros precisam percorrer enormes distancias e barco para atender pacientes. Durante essas viagens, os profissionais descobrem pessoas que estavam doentes há dias, mas sequer tinham ideia de que estavam contaminadas.

"Nós estamos entrando com um kit de tratamento, desenvolvido pelo Ministério da Saúde. Nós estamos usando a medicação, um antibiótico, um corticoide, a ivermectina e estamos tratando os sintomas desses pacientes", explica a enfermeira Handressa Mayra. Ela veio de Rondônia e trabalha no município há cerca de um ano, pelo programa Mais Médicos.

Outro personagem importante na luta contra a Covid-19 na cidade é a médica Valdenora Andrade, que trabalha no município há 38 anos. Ela, formada em Belém pela Universidade Federal do Pará (UFPA), foi para Melgaço em 1982. Desde então, tratou surtos de cólera, sarampo e H1N1. Apesar disso, ela afirma que a Covid-19 foi o seu grande desafio.

10 de junho: Mulher com Covid-19 chora enquanto se prepara para ser transferida para um hospital em Breves, no Pará, depois de ficar hospitalizada por cinco dias em Melgaço, a sudoeste da Ilha de Marajó. — Foto: Tarso Sarraf/AFP

"Tem sido uma luta árdua devido as grandes distancias. Então, nós temos que nos deslocar para essas comunidades mais distantes. Tem gente aqui que não tem nenhum meio de transporte pra chegar ao centro da cidade. Como vivemos em uma região cercada de rios, o acesso fica mais difícil. Então, é obrigação das gestões dar essa assistência ao interior", afirma a médica.

Valdenora é um dos dois médicos disponíveis em toda a cidade. De acordo com o instituto Marajó Vivo, Melgaço possui apenas dois médicos e quatro leitos clínicos. Não há leitos de UTI na cidade. Quem precisa de UTI deve ser encaminhado pra Breves

Durante a pandemia o transporte de pacientes deve ser rápido. O serviço aeromédico da Secretaria de Saúde do Pará (Sespa), que antes fazia uma viagem por dia, agora faz entre quatro e cinco. O principal destino delas é o Marajó.

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