Por Roberto Peixoto, g1


Área de desmatamento da Mata Atlântica no Paraná, em sobrevoo da SOS Mata Atlântica em março de 2023. — Foto: Zig Koch/SOS Mata Altântica/Mata Atlântica

Novos dados divulgados nesta quarta-feira (24) pela Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam para uma realidade preocupante para a Mata Atlântica: em um período de um ano, entre outubro de 2021 e de 2022, mais de 20 mil hectares da floresta foram derrubados.

Essa é a segunda maior área desmatada dos últimos seis anos, uma taxa que equivale a um Parque Ibirapuera desmatado a cada três dias.

Os números fazem parte do Atlas da Mata Atlântica, um estudo realizado desde 1989 pela fundação e o Inpe.

Ainda de acordo com o levantamento, apesar desse índice indicar uma redução de 7% em comparação ao período anterior (21.642 hectares derrubados em 2020-2021), a área desmatada atualmente no bioma está 76% acima do registro mais baixo na série histórica, que foi de 11.399 hectares entre 2017 e 2018 (veja gráfico abaixo).

Taxa anual de desmatamento na Mata Atlântica (ha)
Área desmatada é a segunda maior dos últimos 6 anos.
Fonte: ATLAS DOS REMANESCENTES FLORESTAIS DA MATA ATLÂNTICA/SOS MATA ATLÂNTICA

Segundo Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da SOS Mata Atlântica e coordenador do Atlas, esses números pintam um panorama “preocupante e inaceitável” para a floresta, um bioma segundo ele essencial para a conservação da água e a prevenção de grandes tragédias, como a ocorrida no último mês de fevereiro no litoral norte de São Paulo.

“Se por um momento pareceu que havíamos virado o jogo, agora o desmatamento está novamente vencendo. E o mundo inteiro sai perdendo”, diz.

Cálculos da fundação mostram ainda que, como resultado de toda essa derrubada entre 2021 e 2022, foram lançados 9,6 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera, uma taxa utilizada para comparar as emissões de diferentes gases de efeito estufa, com base no seu potencial de aquecimento global.

“A esta altura o desmatamento já precisava ter sido abolido e as ações de reflorestamento deveriam ser uma prioridade em todos os estados da Mata Atlântica. A realidade, infelizmente, é muito diferente”, complementa o pesquisador.

Mata Atlântica no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em Petrópolis, no Rio de Janeiro. — Foto: Patrícia Figueiredo/g1

Estados e municípios recordistas de desmate

O mais novo Atlas da Mata Atlântica também mostra os estados “campeões” de desmatamento: Minas Gerais lidera a derrubada com 7.456 ha, seguido por Bahia (5.719 ha), Paraná (2.883 ha), Mato Grosso do Sul (1.115 ha) e Santa Catarina (1.041 ha).

Ao todo, esses cinco estados concentram 91% do desmatamento da Mata Atlântica.

Ainda segundo o estudo, o desflorestamento apresentou aumento em oito estados: Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Sergipe. Por outro lado, nove registraram redução na taxa: Ceará, Goiânia, Mato Grosso, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio Grande do Norte, Santa Catarina e São Paulo.

O levantamento ainda revelou dez municípios que se destacam negativamente no desmatamento do bioma, representando 30% do total no último período. Entre eles, cinco estão localizados no “campeão” Minas Gerais, um no Mato Grosso do Sul e quatro na Bahia.

Estados com mais desmatamento de Mata Atlântica
Área desmatada (ha) no período de 2021-2022.
Fonte: ATLAS DOS REMANESCENTES FLORESTAIS DA MATA ATLÂNTICA/SOS MATA ATLÂNTICA

As três principais cidades baianas na lista são: Wanderlei (1.254 hectares desmatados), Cotegipe (907 ha) e Baianópolis (848 ha). Em seguida, aparecem os municípios de outros estados: São João do Paraíso (MG, 544 ha), Araçuaí (MG, 470 ha), Porto Murtinho (MS, 424 ha), Francisco Sá (MG, 402 ha), Capitão Enéas (MG, 302 ha) e Gameleiras (MG, 296 ha).

No relatório divulgado, a Fundação SOS Mata Atlântica argumenta que todo esse desmatamento tem sido impulsionado principalmente pela conversão de áreas florestais em pastagens e culturas agrícolas no bioma.

A especulação imobiliária, especialmente nas proximidades de grandes cidades e no litoral, é apontada como uma das principais causas.

Uma taxa que traduz essa disparidade é a seguinte: apenas 0,9% das perdas no último período se deram em áreas protegidas, enquanto 73% ocorreram em terras privadas.

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