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Por Jornal Nacional


PF realiza quarta fase da operação que investiga ações ilegais na ABIN no governo Bolsonaro

PF realiza quarta fase da operação que investiga ações ilegais na ABIN no governo Bolsonaro

A Polícia Federal realizou nesta quinta-feira (11) mais uma fase da operação que investiga ações ilegais da Agência Brasileira de Inteligência durante o governo de Jair Bolsonaro. Segundo a PF, a espionagem de parlamentares e de ministros do Supremo está ligada ao grupo conhecido como o Gabinete do Ódio, instalado no Palácio do Planalto durante o governo passado.

Foram cinco mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão em Brasília, Curitiba, Juiz de Fora, Salvador e São Paulo. A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF - Supremo Tribunal Federal.

É a quarta fase da Operação Última Milha, que já afastou ex-diretores da Abin da gestão de Alexandre Ramagem no governo Bolsonaro. Ramagem foi diretor-geral da agência de julho de 2019 a março de 2022. Atualmente, é deputado federal pelo PL e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro. Ele também é investigado nesse inquérito.

Os presos nesta quinta-feira (11) são: o policial federal Marcelo Araújo Bormevet e o militar Giancarlo Gomes Rodrigues, que trabalharam na Abin na gestão Ramagem e foram alvos de busca e apreensão na primeira fase da operação. Já Rogério Beraldo de Almeida, Matheus de Carvalho Sposito e Richards Dyer Pozzer seriam, segundo a PF, os responsáveis por fazer ataques virtuais a adversários políticos do governo Bolsonaro.

Os investigadores encontraram várias mensagens em que Bormevet e Giancarlo se referem a ordens ilegais dadas por quem chamam de "mestre" ou "chefe". De acordo com a PF, as provas indicam que a expressão "mestre" é potencialmente vinculada ao superior hierárquico Alexandre Ramagem e que as ações clandestinas eram voltadas para obtenção de vantagens políticas advindas dos ataques aos opositores, instituições, sistema eleitoral e outros eixos de atuação.

A investigação identificou uma ligação entre esse esquema de monitoramento ilegal na Abin e a atuação do chamado Gabinete do Ódio - um grupo que atuava no governo Bolsonaro para disseminar ataques nas redes sociais contra adversários políticos. De acordo com a Polícia Federal, autoridades dos Três Poderes da República e jornalistas foram monitorados pelo grupo, que acessou computadores de forma ilegal e rastreou celulares sem autorização judicial.

Entre as autoridades que foram espionadas estão, segundo a PF, os ministros do Supremo Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux; o presidente da Câmara, Arthur Lira, do Progressistas; o deputado federal Kim Kataguiri, do União Brasil; os senadores Alessandro Vieira, Omar Aziz, Renan Calheiros e Randolfe Rodrigues - todos ligados à CPI da Covid; além do ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a ex-deputada federal Joice Hasselmann, jornalistas, servidores do Ibama e auditores da Receita.

Em conversas em 2021, Giancarlo e Bormevet falam da atuação do ministro Alexandre de Moraes, que alguns dias antes tinha incluído o ex-presidente Jair Bolsonaro no inquérito das fake news. Nas transcrições, os dois usam palavrões que o Jornal Nacional não vai reproduzir.

Ainda segundo a PF, o grupo criminoso também divulgava informações sabidamente falsas com o objetivo de questionar a credibilidade do sistema eleitoral. A PF afirma que "as ações de difusão e de desinformação para desestabilizar o período pós-eleitoral eram continuamente realizadas, inclusive com incitação das Forças Armadas e realização de greve por parte dos caminhoneiros".

Em outro trecho do relatório, a PF revela que os investigados trataram da chamada minuta do golpe, uma proposta de decreto inconstitucional para manter Bolsonaro no poder.

"Nessa linha, o policial federal Bormevet, atuando na Presidência da República, questionou seu subordinado militar Giancarlo, que estava em exercício na Abin, no dia 21/12/2022, sobre a possibilidade de o então presidente da República, Jair Bolsonaro, assinar, em suas próprias palavras, 'a p... do decreto'". De novo, diálogos com palavrões:

Bormevet: O nosso PR imbrochável já assinou a p... do decreto?
Giancarlo: Assinou nada. Tá f... essa espera, se é que vai ter alguma coisa.

Durante a investigação, a Polícia Federal encontrou no computador de Alexandre Ramagem um áudio de 1h08 - segundo a PF, possivelmente gravado por ele mesmo -, no qual o então Presidente da República, Jair Bolsonaro, o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, e possivelmente a advogada do senador Flávio Bolsonaro tratam sobre as supostas irregularidades cometidas pelos auditores da Receita Federal na confecção de um Relatório de Inteligência Fiscal que deu início à investigação contra Flávio Bolsonaro. Para os investigadores, isso evidencia o uso da estrutura da Abin para tentar retaliar os auditores que investigaram Flávio no caso da rachadinha.

O senador Flávio Bolsonaro se manifestou na noite desta quinta-feira (11) e negou qualquer atuação irregular no caso das rachadinhas. Disse que, na época, teve os dados sigilosos acessados de forma criminosa de dentro da Receita Federal e que o processo foi encerrado pela Justiça. Flávio acusou a Polícia Federal de atacá-lo nessa investigação.

"Parece que tinha uma força-tarefa do crime dentro da Receita contra mim. Isso tudo não tem absolutamente nada a ver com a minha defesa jurídica na época, que diz respeito a questões processuais, nada de mérito, e que foram reconhecidas pela Justiça e o processo acabou. Portanto, nada a ver com qualquer coisa da Abin. Agora, eu não posso correr atrás dos meus direitos de vítima que eu fui de criminosos de dentro da Receita Federal que isso é usado contra mim? Faça-me o favor, isso eu não vou aceitar", disse Flávio Bolsonaro.

Na decisão que autorizou a operação desta quinta (11), o ministro Alexandre de Moraes afirma que "a autoridade policial também observou que houve a instrumentalização da Abin, com nítido desvio institucional das ações clandestinas, para monitorar pessoas relacionadas às investigações envolvendo familiares do então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro", como Jair Renan Bolsonaro e o senador Flavio Bolsonaro; e que as investigações revelaram que a estrutura infiltrada na Abin representava apenas uma célula de organização criminosa mais ampla, voltada ao ataque de opositores, instituições e sistemas republicanos.

Entre os crimes investigados estão organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.

A assessoria do deputado Alexandre Ramagem afirmou que na operação só há ilações mal fundamentadas, sem nenhuma demonstração de que a direção da Abin tenha participado de monitoramentos ilegais.

A defesa de Richards Pozzer disse que ele é um cidadão curioso que fazia pesquisas sobre atividades de pessoas públicas nas horas vagas e que é um preso político acusado de exercer seu papel como cidadão.

O Jornal Nacional não conseguiu contato com as defesas dos outros quatro presos na operação desta quinta-feira (11), e não obteve retorno das assessorias do ex-presidente Jair Bolsonaro, nem do ex-ministro Augusto Heleno.

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