O vídeo que está sendo novamente compartilhado por causa da tragédia climática no Rio Grande do Sul é de um trecho da participação do jornalista Alexandre Garcia em um programa no Youtube da revista Oeste, em 8 de setembro de 2023. Naquele mês, outro desastre climático —também no Rio Grande do Sul— causou a morte de 54 pessoas, no Vale do Taquari.

No vídeo, o jornalista disse: “(...) é preciso investigar que não foi só a chuva. A chuva foi a causa original. Mas em governos petistas foram construídas, ao contrário do que recomendavam as medições ambientais, 3 represas pequenas. Que aparentemente abriram as comportas ao mesmo tempo. Isso causou uma enxurrada parecida com aquelas que acontecem aqui perto de Brasília, na Chapada dos Veadeiros, que levam as pessoas, que matam as pessoas. Porque a água vem de repente (...)”.

A informação não é verdadeira. Na região do Vale do Taquari, existem três hidrelétricas no rio das Antas, que pertence à bacia hidrográfica Taquari-Antas.

A Companhia Energética Rio das Antas (Ceran), que administra as hidrelétricas, informou que as três barragens possuem vertedouro do tipo soleira livre, ou seja, não têm capacidade de armazenamento e nem de regular o fluxo do rio. Em caso de eventos extremos, todo o excedente de água passa por cima da barragem.

Em nota, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) explicou que as três usinas são do tipo fio d'água, ou seja, operam apenas com o fluxo natural do rio. Segundo a Aneel, a represa de Castro Alves não dispõe de comportas. Já as barragens de Monte Claro e 14 de Julho possuem esses dispositivos.

A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República declarou que “´é falso que as atuais enchentes no Rio Grande do Sul foram causadas pela abertura simultânea das comportas de três barragens do rio Taquari”. Diz ainda que as hidrelétricas na região do Vale do Taquari são controladas por empresa privada, e que “repudia a publicação de fake news em um momento como esse”.

A Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do governo do Rio Grande do Sul disse apenas que “as barragens de geração de energia, como as da Ceran, são reguladas e fiscalizadas pela Aneel”.

Em 11 de setembro do ano passado, três dias depois de dizer que ”três represas pequenas que aparentemente abriram as comportas ao mesmo tempo” e que “isso causou uma enxurrada”, o jornalista Alexandre Garcia publicou um vídeo no seu canal no Youtube. Ele diz que naquele momento dispunha apenas de informações publicadas na imprensa gaúcha de que circulavam nas redes sociais especulações sobre a abertura das barragens e que a prefeitura de Bento Gonçalves tinha pedido explicações à Ceran sobre, entre outros pontos, a abertura ou fechamento das comportas. Garcia acrescentou que no dia 8, a Ceran ainda não tinha se manifestado oficialmente negando a abertura das comportas.