Por Fantástico


Ex-funcionária de Renato Kalil conta que sofreu abusos dentro da casa dele: 'É um doente'

Ex-funcionária de Renato Kalil conta que sofreu abusos dentro da casa dele: 'É um doente'

Um obstetra que xinga, humilha suas pacientes durante o trabalho de parto. A experiência traumática da influenciadora digital Shantal Verdelho com o médico Renato Kalil provocou indignação nas redes sociais e levantou uma onda de denúncias. São outras mulheres que acusam Kalil de violência obstétrica e também de abuso sexual.

Trechos do vídeo do parto da influenciadora Shantal Verdelho vazaram esta semana na internet. A postura do obstetra Renato Kalil chama a atenção. Os registros foram feitos pelo marido de Shantal, Mateus Verdelho. O parto da segunda filha do casal foi em setembro de 2021, em um dos principais hospitais de São Paulo, e durou cerca de 48 horas.

Em uma mensagem de áudio para amigas, que também foi parar na internet, Shantal conta que o médico não gostou quando ela disse que não queria realizar a episiotomia - um procedimento cirúrgico no períneo, região entre a vagina e o ânus, que facilitaria a passagem do bebê.

Uma mulher que acompanhou o parto de Shantal disse que o clima mudou quando o médico chegou ao hospital.

“De uma forma sempre muito prepotente, alguns momentos meio agressivo, e não tendo muito respeito ao cansaço e todo o processo que a Shantal estava passando desde o momento que ela chegou na maternidade. Foi exaustivo��, conta.

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Quando soube da história de Shantal, a jornalista britânica Samantha Pearson resolveu falar.

“Eu senti um alívio naquele momento, porque não foi só eu”, diz Samantha.

Na quinta-feira (16), Samantha prestou depoimento ao Ministério Público de São Paulo e contou que também foi vítima de assédio moral por parte do obstetra em 2020.

“Meu marido estava aqui de lado, tinha pelo menos uma enfermeira e ele disse para mim: ‘Você tem que emagrecer, né? Olha o seu marido, o seu marido bonitão’”, conta Samantha.

Fernanda Sophia fotografa partos e acompanhou de perto o trabalho do médico algumas vezes.

“Com certeza foram os partos mais violentos, agressivos que eu já acompanhei assim. Ele é extremamente arrogante, trata muito mal funcionários. Foi extremamente agressivo com a gestante”, afirma Fernanda Sophia.

Perguntada como se sentia quando terminavam esses partos, Fernanda responde: “Eu me sentia como se tivesse compactuando de alguma com aquilo, porque a minha vontade era gritar e falar: 'Gente, não. Pelo amor de Deus’”.

O que Shantal, Samantha e outras mulheres viveram tem nome: violência obstétrica. No Brasil, quase metade das gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde sofrem maus-tratos. A maioria delas: negras, pobres, jovens e grávidas do primeiro filho.

“(Violência obstétrica) É todo tipo de ação ou omissão que cause constrangimento, lesão física, emocional ou até moral para aquela paciente que está em trabalho de parto. Embora não esteja adstrito só ao momento do parto. A gente tem relatos no pré-natal, do parto propriamente dito, do pós-parto”, explica Maíra Recchia, advogada especialista em defesa de mulheres.

Outros casos

Mas as acusações contra Renato Kalil não se resumem à violência obstétrica. A bancária Letícia Domingues contou que sofreu abusos sexuais do médico enquanto estava internada em São Paulo, em 1991.

“Desde o primeiro dia, eu estava deitada, sonolenta, eu acordei com ele em cima de mim, com o pênis dele na minha boca, a minha camisola estava aberta e com a outra mão ele passava no meu peito e ele acabou ejaculando na minha cara. Eu lembro da situação que eu estava, que eu não tinha força para falar, para gritar”, conta Letícia Domingues.

A bancária conta que só falou sobre o episódio em 2009 para amigos próximos: “Tudo isso aconteceu em 1991. Então demorei muitos anos para falar sobre isso. E agora? Há 30 anos presa nessa mesma condição de medo”.

Com exclusividade para o Fantástico, uma outra mulher, que também prefere não ser identificada, afirma que foi assediada por Kalil numa consulta médica há cinco anos.

“Uma pessoa muito próxima a mim estava fazendo tratamento com ele para engravidar e me indicou e fui numa consulta. Ele me falou que eu tinha um corpo bonito. Achei estranho. Aí ele começou a me perguntar sobre a minha vida sexual, se eu tinha relações sexuais com mulheres. Falei que sim. Eu sou bissexual. E aí ele começou com um papo, falar de uma fantasia que ele tinha e eu comecei a me sentir muito constrangida. Eu tenho muita raiva que no dia eu não consegui fazer absolutamente nada. E aí nunca mais voltei”, afirma.

Uma outra mulher acusa o médico de gordofobia – preconceito contra pessoas gordas – e quebra de sigilo ao comentar sobre situações íntimas de outras pacientes.

“Ele fez comentários comigo como: ‘Essa aí nunca vai engravidar porque está gorda’. Todas as consultas ele fala de outras pacientes, ele cita nomes, ele cita inclusive pessoas famosas. Assim, eu sei de histórias de artistas, de blogueiras. Ele é muito antiético”, diz.

Uma ex-funcionária do médico contou, por telefone, que sofreu abusos dentro da casa dele.

“Para mim ele é um doente", afirma.

O médico Renato Kalil respondeu as acusações em nota enviada por sua assessoria de imprensa. Ele afirmou que jamais recebeu nenhum tipo de reclamação no Conselho Regional de Medicina ou em qualquer hospital; que não teve a intenção de ofender ou magoar qualquer pessoa e que, se alguém se sentiu ofendido, pede desculpas. Disse que repudia veementemente os relatos mentirosos que aludem atos com conotação sexual; que está à disposição e vai colaborar com as autoridades; e que tomará medidas judiciais contra qualquer um que faça acusações caluniosas.

Shantal disse que não tem condições emocionais de conceder entrevista ou se manifestar sobre o assunto e que já prestou seu depoimento perante a autoridade policial.

Na terça- feira (14), o Ministério Público de São Paulo pediu uma investigação contra Renato Kalil e as denúncias estão sendo apuradas pela Promotoria de Violência Doméstica, que instaurou procedimento investigatório criminal.

O Conselho Regional de Medicina de São Paulo abriu um processo interno de apuração das denúncias de Shantal Verdelho. O Hospital São Luiz, onde aconteceu o parto, também apura a denúncia de violência obstétrica.

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