Morte após procedimento estético é investigada em Vitória
A Polícia Civil está investigando a morte de uma vendedora que foi encontrada sem vida, na última quarta-feira (19), na casa em que vivia no bairro Goiabeiras, em Vitória. Danieli Paulino de Oliveira tinha 39 anos e morava sozinha. A família informou à polícia que a mulher teria aplicado fenol no rosto por conta própria. Até a publicação desta reportagem o resultado da perícia não havia sido divulgado e, portanto, ainda não era possível concluir que a morte foi causada por aplicação de fenol.
A TV Gazeta teve acesso ao boletim de ocorrência do caso. Nele, a família relata que Danieli teria comprado o produto para a aplicação do peeling a base de fenol pela internet, sem prescrição médica. Acrescenta ainda que o corpo apresentava avançado estado de decomposição e o rosto estava desfigurado.
Procurada pelo g1, a família da vendedora não quis dar entrevista.
A Polícia Militar informou em nota que, durante a ocorrência do encontro de cadáver, familiares de Danieli relataram aos policiais que a vendedora estava "vivendo problemas espirituais e psicológicos", e que há algumas semanas ela teria feito um procedimento com peeling de fenol.
A Polícia Científica (PCIES) confirmou que a perícia foi acionada no mesmo dia, por volta do meio-dia. No exame perinecroscópico, realizado no local do crime, não foi possível determinar a causa da morte, devido ao avançado estado de decomposição do corpo, que foi então encaminhado ao Departamento Médico Legal (DML) de Vitória para ser necropsiado e para a realização do exame cadavérico, posteriormente, liberado para os familiares.
De acordo com a legislação, o prazo para a emissão do laudo pericial é de 10 dias, podendo ser prorrogado a requerimento dos peritos.
Em situações que requerem exames laboratoriais, o processo pode levar mais tempo, especialmente quando são necess��rios exames de DNA (até 30 dias), exames toxicológicos amplos e exames histopatológicos, um procedimento laboratorial que envolve a análise microscópica de tecidos biológicos (entre 60 a 90 dias).
Já a Polícia Civil (PCES) disse que o caso foi registrado como encontro de cadáver e o procedimento foi encaminhado à Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Mulher (DHPM), que aguarda o resultado dos exames da Polícia Científica. Para que a apuração seja preservada, nenhuma outra informação será repassada.
Compra de produto pode ser feita pela internet
Polícia investiga morte de vendedora após procedimento estético no Espírito Santo; família suspeita de autoaplicação de fenol. — Foto: Reprodução/TV Gazeta
O fenol é um ácido, com capacidade de chegar a camadas profundas da pele, geralmente usado para pacientes com marcas de envelhecimento causado pelo sol ou de acnes. Até o início desta semana não era difícil encontrar sites que vendiam o produto.
Na terça-feira (25), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma resolução que proíbe a importação, fabricação, manipulação, comercialização, propaganda e uso de produtos à base de fenol em procedimentos de saúde em geral ou estéticos.
Uma equipe da TV Gazeta encontrou algumas opções fenol a venda, como uma solução 90%, por R$ 119,26 centavos. Nesta quinta-feira (27) o link ainda estava disponível.
Produto de difícil aplicação
Henrique Chagas era dono de petshop em Pirassununga e morreu após peeling de fenol em SP. — Foto: Reprodução/Facebook
No início deste mês, o empresário Henrique Silva Chagas, de 27 anos, morreu após a aplicação de um peeling de fenol. O procedimento foi feito pela influenciadora digital Natália Fabiana de Freitas Antônio em uma clínica de estética, em São Paulo.
Natália Becker, como é conhecida nas redes sociais, não é médica e disse ter feito um curso online para utilizar o produto.
A reportagem ouviu o médico dermatologista Carlos José Cardoso que fez cursos específicos para o uso do fenol e trabalha com esse tipo de peeling há mais de 20 anos.
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"Peeling de fenol é o peeling mais profundo que existe, é um produto que é simples, mas de difícil aplicação e que exige cuidados depois da aplicação. Então, o paciente tem que estar com o coração em dia, não ter arritmia cardíaca, não pode ter pressão alta, não pode ser diabético. [...] Num paciente mais idoso você pede o risco cirúrgico também", contou.
Cardoso explicou que para realizar o procedimento em sua clínica, em Vitória, precisou equipar uma sala com monitorador de frequência cardíaca, para acompanhar o coração dos pacientes durante e após o procedimento, e, desfibrilador para casos de emergência.
Mesmo com experiência no procedimento, o médico parou de fazer peelings de fenol desde resolução publicada pela Anvisa.
"Eu acho que a Anvisa corretamente a suspendeu, mas acho que foi um pouquinho exagerado suspender para os dermatologistas e para os cirurgiões plásticos também. Eu acho que foi uma medida de urgência, mas creio que em breve vai normatizar para que realmente só médicos façam o procedimento, porque saberiam lidar melhor com as consequências do paciente", avaliou Carlos José.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina informou que a questão não é a proibição da venda, e sim o uso do ácido por profissionais que não são médicos.
O presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Heitor de Sá Gonçalves, disse que recebeu a notícia da proibição com surpresa.
"É importante dizer que isso é um grande equívoco, porque, ao contrário do que diz a resolução, nós temos muitas evidências de eficácia e de segurança do fenol quando realizado com os cuidados imprescindíveis. A nossa posição é de ser veementemente contra a proibição para o uso de fenol para os médicos habilitados e capacitados, de preferência, dermatologista ou cirurgião plástico", falou Heitor.
O peeling de fenol é considerado invasivo e o mais agressivo processo de descamação química da pele. — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
