Até 2015, Rafael e outros produtores extraíam o molusco dos manguezais para comercialização na região. O problema é que o método tradicional de coleta devastou o ecossistema local e eles se esgotaram.

“Nós degradávamos tanto os manguezais que, com o passar do tempo, as ostras acabaram. Precisávamos comprar de outros estados, aumentando o custo da produção. Ou seja, por falta de conhecimento, acabamos com o nosso único meio de subsistência”, lamenta o produtor.

A falta de conhecimento relatada por Rafael ainda é o maior desafio para a implementação de um processo produtivo autossuficiente e, portanto, mais econômico, chamado de economia circular.

De acordo com a pesquisa do Sebrae “Engajamento dos pequenos negócios brasileiros às práticas de economia circular”, trata-se de um processo que visa à eliminação de resíduos, à prolongação do ciclo de vida de produtos e materiais, além da restauração da natureza, sendo benéfico tanto para as empresas quanto para a sociedade e o meio ambiente.

“A adoção de práticas de sustentabilidade, governança e equidade nas organizações, é fator de competividade. Para os pequenos é uma questão de aderência às exigências de mercado e fundamental para a sua perenidade”, explica Eraldo Ricardo, integrante do Comitê de ESG do Sebrae.

Apesar disso, a pesquisa do Sebrae “Engajamento dos pequenos negócios brasileiros às práticas de economia circular”, lançada em maio deste ano durante o Congresso Internacional da Sustentabilidade, em Cuiabá-MT, mostra que o caminho para a conscientização ainda é longo. Dos mais de 4 mil empreendedores entrevistados, 83% não estão familiarizados ou não compreendem o conceito de economia circular.

“Esses dados fornecem uma visão detalhada do grau de conhecimento e engajamento dos empreendedores em práticas de economia circular, destacando a necessidade de maior conscientização e implementação dessas práticas”, reforça Juliana Borges, Analista de Competitividade – Economias Transversais e Emergentes. Rafael era um deles, mas com o apoio do Sebrae, isso mudou.

Sem alternativas para continuar o negócio, Rafael e mais 16 produtores procuraram o Sebrae RN. “Lá, nos incentivaram a criar nossa associação, a AproOstras, para captar recursos e fortalecer a cadeia produtiva. A convite do Sebrae, fomos até Belém do Pará e conhecemos o cultivo sustentável.”

As sementes (ostra jovens nos estágios iniciais de maturação) eram colocadas em uma área de proteção de cerca de 1,5km. Ali, se desenvolviam para, então serem enviadas aos berçários e terminarem o ciclo de crescimento. “Para nós, coletores tradicionais, foi um choque cultural. Aprendemos técnicas de cultivo sustentável, passamos a conhecer melhor a fisiologia do produto, como manuseá-lo e aproveitar os resíduos”, relata Rafael.

Mas os desafios não acabaram. Mesmo usando a nova técnica, as ostras cultivadas não eram a espécie ideal (a chamada ostra negra), de modo que ela teve de ser produzida em laboratório. Além dos cursos de capacitação, o Sebrae apoiou a pesquisa e subsidiou a compra de 60 mil sementes para cada produtor. “Com o valor da venda da primeira safra, tivemos condições de comprar nossas sementes e nos tornamos autossuficientes”, comemora Rafael.

Toda essa transformação deu aos produtores de Tibau do Sul o prêmio Green Destinations Story Awards 2024, uma competição mundial dos 100 destinos mais sustentáveis do planeta. Hoje, a associação produz 75 toneladas de ostras e possui um bar flutuante onde os produtores vendem diretamente para os clientes e oferecem pratos da iguaria – tudo com o apoio dos técnicos do Sebrae.

“Além da demanda do consumidor, que está cada vez mais exigente e atento ao impacto ambiental dos produtos e serviços que contrata, os donos de micro e pequenas empresas [MPE] compreenderam que uma gestão mais eficiente da energia, da água e de outros insumos também representa um ganho de produtividade para os negócios”, reforça Décio Lima, presidente do Sebrae.

O setor de alimentação é um bom exemplo do match dos pequenos empreendedores com a sustentabilidade. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae em parceria com a Abrasel mostra que estão no caminho certo.

Os resultados indicam um amplo interesse na adoção de práticas sustentáveis, impulsionado principalmente por eficiência e redução de custos. Elas visam à economia circular (Gestão), o consumo de recursos (Fornecedores), a gestão energética (Energia) e a recuperação de recursos/resíduos (Resíduos).

Cátia Lopes e Camila Marconi, impactadas pela pandemia, reinventaram suas carreiras ao abrir a Padóca do CA, uma padaria com foco na cozinha afetiva e na sustentabilidade, localizada no Lago Norte, Brasília. Em 2023, a padaria ganhou destaque nacional como a primeira padaria Lixo Zero do Brasil. De acordo com a certificadora Teoria Verde, o conceito Lixo Zero refere-se ao máximo aproveitamento e correto encaminhamento dos resíduos para reuso e a redução – ou mesmo o fim – do envio destes materiais para os aterros sanitários e\ou para a incineração.

Já o selo Lixo Zero é conquistado por estabelecimentos que colocam esse conceito em prática, desviando de aterros entre 95% e 99% de seus resíduos para reuso em diversos setores da sociedade.

Após sete meses de planejamento detalhado e capacitações pelo Sebrae, o estabelecimento abriu suas portas com a proposta de oferecer comida de qualidade enquanto implementava práticas de redução, reutilização e reciclagem de resíduos. O sucesso se materializou dois anos depois, com uma taxa de desvio de aterro de 96,2%.

“O Sebrae foi fundamental para a nossa jornada desde o início. Eles nos ofereceram consultorias em produtividade, finanças e marketing digital, além de nos ajudar a desenvolver e ajustar nosso plano de negócios. A parceria também nos promoveu em diversos eventos e mídias, ajudando a alcançar reconhecimento nacional", explica Camila.

As sócias também investem na formação e retenção da equipe, garantindo atendimento de qualidade e implementação de práticas autogerenciáveis. "Transformar a Padóca do CA na primeira padaria lixo zero do Brasil foi extremamente desafiador. É um processo caro e exige muita perseverança, mas estamos comprometidas em reduzir nosso impacto ambiental e inspirar outras empresas a fazer o mesmo”, finaliza a empreendedora.

Entendendo a importância do tema, o Sebrae conta com uma ampla oferta de formações sobre sustentabilidade. O curso "ESG para pequenas empresas" é uma capacitação a distância que visa ajudar empresários de todos os portes a implementar práticas de ESG (Environmental, Social and Governance, ou Ambientais, Sociais e de Governança, em português) em seus negócios. Com duração de 15 horas, o curso é gratuito e pode ser acessado pelo computador ou pelo aplicativo do Sebrae. Ao final, os participantes recebem um certificado de conclusão.

O Sebrae também disponibiliza um ambiente on-line onde as empresas podem acessar diversas iniciativas de ESG e realizar um diagnóstico para avaliar seu nível de maturidade em relação ao tema. Consultorias como a Sebraetec também estão à disposição para oferecer suporte adicional. Essas iniciativas visam capacitar os empresários a adotarem práticas mais sustentáveis e responsáveis, contribuindo para um mercado mais equilibrado e consciente.