Se hoje a tecnologia que incorpora sementes de flores, temperos e hortaliças ao papel reciclado está disponível no Brasil, isso se deve a Andrea. Ela, desde então, vem desenvolvendo e vendendo o produto por aqui. “Meu objetivo foi criar uma empresa inovadora. Além disso, eu já estava de olho na sustentabilidade. Falava-se pouco disso naquela época, mas meus sócios e eu acreditávamos que o assunto ia ganhar importância em pouco tempo”, relata a empreendedora.

Pois é, Andrea tinha razão. E o relatório do Sebrae Tendências de Empreendedorismo 2024 faz coro com a empreendedora. Ele mostra que as tendências mais promissoras e que definirão o cenário empreendedor para os próximos anos são aquelas baseadas em sustentabilidade, tecnologia, inovação, compartilhamento e ações sociais.

“As tendências nascem em função das propostas dos empreendimentos, e os empreendimentos existem para resolver problemas dos clientes”, explica Ênio Pinto, gerente de relacionamento com o cliente do Sebrae Nacional. E que problemas o cliente deseja resolver atualmente? “A sustentabilidade é um deles. Durante a pandemia isso se intensificou. Enquanto estiveram isoladas em casa, as pessoas notaram que as agressões a natureza diminuíram muito, e acharam isso muito positivo. Os empreendedores, então, passaram a ter práticas mais sustentáveis, e naturalmente os clientes abraçaram a ideia”, relata Ênio.

Para o especialista, o ganho é duplo: “adotar práticas sustentáveis reduz o custo de produção, que gera uma economia circular. O produto vira resíduo, volta a ser insumo e se transforma em produto novamente”, comenta.

Se você ainda precisa de argumentos para entender que a sustentabilidade é um ótimo negócio, aqui vai mais um dado. Um estudo global de 2022 sobre o consumo, conduzido pela IBM/NRF concluiu que 62% dos consumidores estão dispostos a mudar seus hábitos de compra para reduzir o impacto ambiental.

Essa é uma realidade muito diferente da que Andrea enfrentou quando tudo era “mato” no terreno da sustentabilidade brasileira. Ela conta que na época em que começou, o maior desafio era mostrar a importância do valor agregado. “Nas prospecções, as pessoas se queixavam do preço do produto, comparando nosso papel semente com o papel convencional”, lembra.

E hoje, quais são os maiores desafios para quem deseja empreender com sustentabilidade?

Portas abertas para a diversidade

Desde muito cedo, Breno Oliveira, fundador da gelateria artesanal il Sordo Gelato (O Surdo, em italiano), em Aracaju-SE, sabia que precisaria se impor fortemente para conquistar seu espaço no mercado de trabalho. Depois de sentir na pele o preconceito pela condição de surdo, escolheu empreender. “Não aceitei ser como outras pessoas com deficiência auditiva que trabalham anos sem serem promovidos. Fui minimizado em entrevistas de emprego, muitos recrutadores não acreditavam na minha capacidade, não aceitavam a surdez”, lembra o empresário.

Sua ideia inicial era vender açaí e paletas mexicanas (os picolés recheados que foram febre anos atrás) numa bike. Enquanto planejava seu empreendimento, decidiu se capacitar. Ao pesquisar um curso de fabricação de paletas, descobriu o gelato (sorvete de origem italiana, feito artesanalmente com ingredientes frescos, para ser consumido no dia de sua preparação). Foi paixão à primeira vista. Em São Paulo fez várias formações sobre o tema e voltou com a ideia do negócio na cabeça: a Breno's Paleta & Gelato, inaugurada em 2015.

O passo seguinte foi trazer o Sebrae para apoiar seu negócio. Participou do Empretec e do Sebrae Canvas e a partir daí diversas mudanças ocorreram (como a troca do nome para il Sordo Gelato, uma adequação ao conceito do negócio). Desde então, a empresa já deu diversos saltos de evolução. Mas esse relato não acaba aí. Isso porque a história do Breno não é apenas sobre uma pessoa com deficiência que empreendeu, teve sucesso e prosperou. Na verdade, a il Sordo Gelato é sobre inclusão e acessibilidade de muitas pessoas.

Todos os cardápios são adaptados, as placas informativas de produtos têm alto contraste para pessoas com baixa visão. Na TV, vídeos ensinam sinais básicos de libras, seja para pedir uma amostra de sorvete, seja para agradecer o serviço. O cardápio também é inclusivo, trazendo opções para quem é vegano, tem intolerância a glúten, lactose e açúcar.

“Quem vem pela primeira vez não sabe bem como interagir. É o mesmo impacto que sentimos lá fora, mas aqui abrimos as portas para a diversidade. Os clientes são acolhidos, perdem a insegurança e passam a se comunicar melhor com os surdos”, afirma Oliveira. A acessibilidade para cadeirantes também é oferecida, e a presença de pets e crianças é bem-vinda.

O resultado de tudo isso é o sucesso. Além da matriz, a il Sordo Gelato tem dois outros pontos de venda na capital sergipana e duas lojas franqueadas em Salvador, lideradas por um empresário com deficiência auditiva. Juntas, as unidades empregam 15 surdos nas funções de atendimento, supervisão e produção do gelato, mantendo sempre a proporção de 80% do quadro com PCD. “Entre nós não há barreiras. Os clientes entram no nosso mundo. Somos referência no Brasil em acessibilidade e, assim, mostramos do que o surdo é capaz”.

“O empreendedor precisa ter a visão de colocar a inclusão no negócio. Seja facilitando a vida de quem trabalha, seja pensando no cliente, seja pensando em si mesmo, no futuro, quando vai gostar muito de estar em um ambiente sem desconforto, que facilite a visão ou o acesso de todos” , Breno Oliveira, fundador da il Sordo Gelato.

Planejamento, capacitação e atitude empreendedora

Seja para abrir uma empresa que trabalha com itens tecnológicos e sustentáveis, como a Papel Semente, seja para criar um negócio inclusivo como a il Sordo Gelato, três aspectos são fundamentais e definitivos: planejamento, capacitação e a atitude empreendedora.

Andrea Carvalho, da Papel Semente, conta que logo que abriu o negócio procurou o Sebraetec para entender a viabilidade econômica do negócio. “Ali pensei no business como um todo, entendi como deveríamos nos posicionar, como pensar em comunicar para o mercado, explicar o que era sustentabilidade e o valor que isso tinha. Com a ajuda da instituição, inclusive, consegui baixar em 40% o valor da minha produção, reduzindo preços para o cliente final”, revela a empreendedora.

O segundo aspecto é a capacitação. Para a il Sordo Gelato, do Breno Oliveira, a construção de um plano de negócios e as capacitações do Sebrae no Empretec foram um divisor de águas para a gelateria. “O Sebrae me deu suporte desde o dia em que comecei a estudar como abrir uma empresa. Ali aprendi a fazer o plano do negócio e toda a gestão”, afirma.

O terceiro componente do tripé é a atitude empreendedora. E todo mundo, mesmo que nunca tenha pensado em empreender, pode contar com o Sebrae. O mais legal é que diversos negócios de baixo custo estão em alta. Que tal desbravá-los?

Confira a lista:

E aí, essas histórias te inspiraram a empreender? Então confira outros insights do relatório Tendências de Empreendedorismo para 2024:

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