Empreender tem muito mais a ver com aprendizado e persistência do que com um dom natural; se o dono do negócio souber delegar e treinar sua equipe, o gado também engorda quando ele sai de férias; e até mesmo quem nunca abriu uma planilha pode se capacitar, desenvolver as habilidades e os comportamentos necessários e virar referência no mercado.

“Empreendedorismo não é vocação, é um comportamento que se adquire. Aliás, você não só adquire como tem a possibilidade de desenvolvê-lo ao longo da vida. É claro que as experiências da pessoa, a família com a qual ela convive e o contexto em que está inserida podem impulsionar atitudes empreendedoras, mas é possível, sim, treinar comportamentos e conhecimentos para se tornar um empreendedor”, avalia Eduardo Curado, gerente de gestão de soluções do Sebrae Nacional.

Para ajudar quem já empreende e quem sonha empreender a desenvolver as habilidades e os comportamentos necessários para a boa gestão de qualquer negócio, há 30 anos o Sebrae é a instituição licenciada no Brasil a aplicar a metodologia da ONU/UNCTAD Empretec. “Participar do Empretec é aprender a pensar e agir como empreendedor. Cada um é colocado em situações nas quais diversas habilidades e modelos mentais são postos à prova. Com isso, a pessoa poderá antever dificuldades e oportunidades, além de entender quais são as atitudes empreendedoras necessárias para evoluir. É um encontro imersivo de seis dias em que o participante é desafiado em atividades práticas, cientificamente fundamentadas, que apontam como um empreendedor de sucesso age. Quem participa sai transformado”, explica Daniella Cristina Santana, coordenadora nacional do Empretec.

A coordenadora conta que a metodologia é baseada nas dez características de comportamento empreendedor, e reforça que o foco do programa é totalmente comportamental: “não ensinamos a usar ferramentas ou tecnologias. Queremos desenvolver a base, que são as habilidades necessárias para que o empresário saiba lidar com os seus desafios e tomar as melhores decisões”.

Entendendo as transformações do mercado e as necessidades específicas de cada segmento, desde 2021 o Empretec vem evoluindo e lançou dois novos formatos: o Empretec Rural e o Empretec Startup. De acordo com a Agência Sebrae, no Empretec Rural o participante faz atividades práticas que apontam como é um empreendedor de sucesso no ambiente do agronegócio. Já o Empretec Startup é focado em empresas disruptivas e inovadoras, privilegiando o desenvolvimento das características de comportamento empreendedor no contexto das empresas altamente mutáveis e crescentes.

Para participar, é preciso passar por uma entrevista de seleção, e cada localidade tem seu calendário próprio de realização. Desde o seu lançamento, em 1993, foram mais de 300 mil participantes em 13,8 mil turmas em todo o país. Atualmente, a metodologia é empregada em 43 países e o Brasil representa 63% da base de participantes.

Banana com inovação

A produtora rural Vanessa Pacheco e seu marido, Raphael, são técnicos agrícolas e proprietários do sítio Vale das Bananas, localizado na pequena Luiz Alves, em Santa Catarina. Para eles, o manejo da terra e a busca pela excelência do produto nunca foi problema. Tanto que possuem certificações orgânica e biodinâmica, um indicativo de que o empreendimento produz alimento com responsabilidade social e respeitando o meio ambiente.

Para Vanessa, no entanto, o desafio de empreender estava em como tornar o produto diferenciado no mercado, e de que modo aproveitar o excedente de bananas produzidas no verão, gerando mais lucro para empresa durante o ano todo. “Como agricultores, nunca tivemos experiência em comércio, rótulos, site, mas essas habilidades foram nascendo porque fomos atrás de outras experiências, rede de contatos, conhecidos que já passaram por isso e fomos em busca de informações”, explica. Nesse contexto, ela resolveu fazer o Empretec Rural.

“Foi muito importante participar do Empretec para que eu passasse a acreditar que é possível ir além com cautela, planejamento, organização, objetivos e outras coisas que no dia a dia a gente não se dá conta. Ficou muito claro onde era preciso melhorar, modernizar e inovar”, relata. Um dos resultados da participação da empreendedora no projeto foi a criação de um subproduto da banana: a banana passa. “Meu marido sempre sugeria que produzíssemos banana passa, mas eu tinha muito medo e dizia que ele gostava de inventar mais atividades para a gente. Com o Empretec, entendi que produzir banana passa não era inventar, era inovar!”, brinca.

Trilhas para todos os estágios do empreendedorismo

Se desenvolver os comportamentos e as habilidades adequadas é a base do empreendedorismo de sucesso, a busca por formações específicas, por conhecimento de técnicas, novas metodologias e ferramentas também é fundamental. Por isso, o Sebrae oferece, de modo online e presencial, quatro trilhas de conhecimento para quem sonha ter o próprio negócio ou quer elevá-lo a um novo patamar. “São quatro famílias que representam momentos completamente diferentes, mas que constroem uma grande jornada empreendedora para quem quer começar, para quem quer se tornar empreendedor, para quem quer fazer algo novo, e para quem quer alcançar novos desafios”, explica Eduardo Curado.

Divididos nas famílias “Comece”, “Seja”, “Faça” e “Alcance”, elas atendem a cada fase de vida do empreendedor. “Na família Comece, oferecemos as soluções para quem quer começar o negócio, independentemente do tamanho. A família “Seja” é para quem quer se tornar empreendedor e precisa desenvolver habilidades como liderança, comunicação e muitas outras. A família “Faça” é para o empresário que quer desenvolver novas ferramentas para a empresa, como um bom plano de negócio, um bom fluxo de caixa, uma boa gestão de pessoas, de fornecedores e outros. Finalmente, temos a família “Alcance”, com soluções para que o empreendedor alcance novos desafios e, quem sabe, tornar seu pequeno negócio um grande negócio!”, relata Curado.

Rainha do motor

Andreia Justos sempre preferiu os carros às bonecas. Descobriu isso aos seis anos, e durante a infância e a adolescência frequentava a oficina mecânica do pai. Aprendeu o ofício naturalmente e, aos 16 anos, decidiu abrir sua primeira oficina mecânica. “No começo, fazia serviços simples com ferramentas usadas, mas com muita capacitação e estudos fui aprendendo mais e me apaixonei por motores. Hoje, aceito trabalhos de alta complexidade e atendo, para minha alegria, muitas mulheres”, relata.

Em 2019, decidiu que era hora de divulgar seus conhecimentos nas redes sociais, e embora tenha conquistado muitos seguidores, também teve de lidar com haters, que não admitiam ver mulheres falando de um tema considerado “masculino” por alguns. “Durante um tempo essa reação preconceituosa me abalou, mas depois entendi que se uma mulher se inspirasse com a minha história, já teria valido a pena”, reflete Andreia.

Em 2022, teve seu primeiro contato com o Sebrae na Feira do Empreendedor. Lá, conheceu a Arena TikTok, um espaço dedicado a palestras e bate-papos sobre como usar a rede social para alavancar os negócios. “Naquela palestra eu aprendi sobre a importância do fazer e mostrar, de que era preciso narrar, criar uma história do conteúdo que eu estava transmitindo. Foi uma mudança transformadora nos meus vídeos e em 24 horas ganhei 22 mil seguidores”, comemora.

Em 2023, foi a vez de Andreia ser a palestrante da Arena TikTok e inspirar mulheres a desenvolverem habilidades para terem um negócio de sucesso. Atualmente, trabalha a portas fechadas, e 100% da sua clientela é proveniente dos seus vídeos na plataforma e do “boca a boca” digital. “Algumas das minhas clientes são de fora de São Paulo e mandam o carro de guincho só para receber o meu atendimento. Esse respeito e essa confiança são impagáveis, e eu retribuo isso com muita qualidade e transparência”, comemora a empresária.