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Por Alexandro Martello, Mariana Laboissière, g1 — Brasília


A participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em uma audiência pública da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados na manhã desta quarta-feira (22) foi marcada por um bate-boca entre o ministro e alguns parlamentares.

Com a reunião, os deputados tinham o objetivo de discutir com Haddad a política econômica do país. No entanto, a discussão extrapolou a pauta da economia e envolveu questões como música, livros, cultura, vacinação, negocionismo e terraplanismo.

A possível retomada do imposto de importação sobre encomendas do exterior de até US$ 50 foi um dos pontos de tensão entre Haddad e o deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP), mas o ministro ainda rebateu afirmações de outros parlamentares como do deputado Abilio Brunini (PL-MT) que questionou se Haddad era um "negacionista da economia". Veja vídeos abaixo.

Taxa nas importações de até US$ 50 gera bate-boca entre Haddad e deputado

Taxa nas importações de até US$ 50 gera bate-boca entre Haddad e deputado

Taxação das importações

O deputado Kim Kataguiri questionou a linha do PT de aumentar a arrecadação por meio de alta de tributos, e afirmou que teria havido uma briga entre deputados do PT e o governo na última semana sobre o assunto. O parlamentar perguntou a Haddad qual a posição oficial do Ministério da Fazenda sobre a retomada da taxação federal.

Em resposta, o ministro da Fazenda afirmou que é preciso mais tempo para o governo tomar uma posição sobre a retomada do imposto federal, e afirmou que a decisão dos governadores de aumentar o ICMS estadual foi "correta".

Ele afirmou ainda que Kim Kataguiri está tentando "ideologizar" o debate, e acrescentou que é "preciso ter coragem" para tomar decisões, mas é necessário "saber o que está acontecendo nas feiras, nas periferias". Haddad afirmou que, desde o ano passado, todas as remessas do exterior passaram a ser registradas.

"Pega o microfone e fala mal do Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo]. Fala! O varejo brasileiro é honrado, feito de empresário honrados, a indústria é honrada. As pessoas que mandaram esse documento para nós são honradas, merecem ser ouvidos. Feche a porta para ouvir e parar de lacrar na rede", declarou Haddad, ministro da Fazenda.

Na réplica, Kataguiri disse não ter insinuado que a indústria brasileira não é honrada.

"Ele [Haddad] Também disse que eu não recebo representantes [do setor industrial], que eu não teria feito questionamento, que estaria lacrando. De três questionamentos que eu fiz, ele não respondeu, sobre privilégios, elite do funcionalismo público, paternalismo. E que o ministro está fugindo de responder é qual o posicionamento do Ministério da Fazenda da imposição de imposto de importação em 60% para as compras online", disse o deputado Kim Kataguiri.

Haddad discute com deputado sobre tributação de jogos em sessão da Câmara

Haddad discute com deputado sobre tributação de jogos em sessão da Câmara

Tributação de jogos

Ao falar sobre dos jogos online, Haddad criticou o apoio de um dos parlamentares à isenção. O ministro queria responder a uma fala do deputado Filipe Barros (PL-PR), mas acabou se confundindo na declaração, que direcionou, novamente, ao deputado Kim. Depois, Haddad se desculpou pelo erro.

"'Bets' que o senhor manifestou, esses jogos online...o senhor está defendendo a isenção de jogo? Quer dizer, não só o senhor está defendendo a permissão dos jogos, mas o senhor quer que seja uma atividade incentivada pela não tributação? Será que o senhor está no juízo perfeito?", questionou Haddad.

"Tem toda uma bancada evangélica que, com legitimidade, defende que as pessoas não joguem, o deputado Kim que vai além. Ele quer incentivar o jogo pela não tributação", completou o ministro.

Nesse momento, o deputado Kim Kataguiri interrompeu a fala de Haddad: "Regimentalmente, quando alguém me imputa uma falsa opinião...eu tenho direito de me defender. Em nenhum momento, ministro, eu falei de aposta", disse.

Em seguida, Haddad corrigiu a menção.

"Foi o deputado Filipe? Não é? Foi o deputado Filipe. Tem razão. É do seu partido, não? Não, não, não. É de outro partido. De qual partido? É do PL, do PL. Me perdoa", completou.

Ao terminar a fala, o ministro da Fazenda pediu para que a bancada evangélica prestasse atenção nos depoimentos em apoio a não tributação dos jogos online.

Haddad discute com deputado: 'Vocês negam que a terra é redonda'

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Indicadores econômicos

Ao analisar alguns dos indicadores econômicos do país, o deputado Abilio Brunini perguntou se o ministro era um "negacionista da economia".

"Olhando todos esses números, olhando esses gráficos — esse aqui que achei que estava invertido, mas é assim mesmo, negativo — a minha pergunta para o senhor é: o senhor é um negacionista da economia? O senhor não acredita na economia? Na ciência da economia. O senhor não acredita nos números? É um negacionista dos números, negacionista das exatas?"

Para justificar a pergunta, Brunini mencionou problemas econômicos envolvendo o preço de produtos alimentícios como o arroz, além do desemprego e de greves. Em seguida, o deputado fez outro questionamento para Haddad.

"O senhor não queria estar no Ministério da Fazenda e queria estar no Ministério da Cultura tocando 'Blackbird'? Essa é a intenção do senhor? Por que não faz o menor sentido", seguiu Brunini.

Em resposta, Haddad disse: "O deputado Abilio me acusa de gostar de livro, filme, música. Deputado, eu gosto da cultura. Eu sei que o 'bolsonarismo' tem dificuldade com as artes. Vocês têm, vocês têm, vocês têm. Vocês não gostam. Mas vocês vão ter que aprender a respeitar um dos maiores patrimônios do país", afirmou.

Em seguida, Haddad argumentou que "se não fosse o Congresso Nacional botando goela abaixo do governo duas leis de apoio à cultura, a cultura tinha morrido no Brasil durante a pandemia. Vocês quase acabaram com a cultura brasileira, que é um dos maiores patrimônios desse país."

Haddad discute com deputado de oposição sobre 'calote' dado por governo Bolsonaro

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'Calote' nos precatórios

Haddad ainda falou que os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro na Câmara são "negacionistas" sobre a vacina contra Covid-19 – e que também negam um calote no pagamento de precatórios durante o governo anterior.

"Eu defendi a vacina o tempo todo, a terra é redonda o tempo todo. E vocês negam que a terra é redonda, vocês negam que a vacina previne, vocês negam que deram o calote em precatório, em governador e eu que sou negacionista?", afirmou o ministro da Fazenda.

O deputado Brunini argumentou que Haddad estava fugindo dos assuntos da pauta e desviando o foco. Em seguida, o ministro respondeu.

"Você me chamou de negacionista, eu estou lhe respondendo. O senhor que é negacionista. O senhor nega o calote?", questionou várias vezes Haddad.

Em outro momento, o ministro disse: "Reafirmou o calote? Eu fico satisfeito que o senhor não é negacionista. Parabéns. Não seja assim, deputado, não seja assim."

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