Oferecido por

Por g1


Sede da Petrobras no Rio de Janeiro — Foto: Daniel Silveira/G1

O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, fechou em baixa nesta sexta-feira (8), puxado por uma queda forte de 10% nas ações da Petrobras, após a divulgação dos resultados de 2023.

A empresa frustrou as expectativas de analistas após registrar uma redução nos lucros em relação ao ano anterior na noite de quinta-feira (7). Também decepcionou o valor abaixo do esperado de dividendos propostos — que são uma parcela do lucro das empresas dividida entre os acionistas.

A empresa teve seu segundo maior lucro histórico em 2023, de R$ 124,6 bilhões, mas isso representa uma redução de 33,8% em relação ao ano anterior. Além disso, foram anunciados R$ 14,2 bilhões em dividendos, dentro do modelo mínimo da companhia. O mercado esperava um pagamento de dividendos extraordinários, o que não ocorreu.

Se aprovado, o total de dividendos pagos referentes a 2023 será de R$ 72,4 bilhões. Em 2022, foram distribuídos R$ 194,6 bilhões.

As ações da petroleira despencaram desde a abertura e chegaram a ser colocadas em leilão no início do pregão. Esse mecanismo é acionado na bolsa quando uma ação cai mais de 10% em relação ao valor que ela registrou no fechamento do dia anterior. (saiba mais abaixo)

Já o dólar fechou em alta, enquanto o mercado repercute a divulgação de novos dados de emprego nos Estados Unidos, que vieram acima do esperado.

Veja abaixo o resumo dos mercados.

Dólar

O dólar fechou em alta de 0,97%, cotado a R$ 4,9816. Veja mais cotações.

Com o resultado, acumulou:

  • alta de 0,54% na semana;
  • ganho de 0,19% no mês;
  • e avanço de 2,66% no ano.

No dia anterior, a moeda norte-americana teve baixa de 0,23%, cotado a R$ 4,9336.

Ibovespa

O Ibovespa fechou em queda de 0,99%, aos 127.071 pontos.

Com o resultado, acumulou:

  • queda de 1,63% na semana;
  • recuo de 1,51% no mês;
  • e baixa de 5,30% no ano.

Na véspera, o índice teve queda de 0,43%, aos 128.340 pontos.

Entenda o que faz o dólar subir ou descer

Entenda o que faz o dólar subir ou descer

O que motivou a queda da Petrobras?

As ações da Petrobras tiveram quedas amplas nesta sexta-feira. As ações ordinárias (PETR3) fecharam em queda de 10,37% e as preferenciais (PETR4), de 9,14%.

Depois do fechamento dos mercados na quinta-feira (7), a Petrobras divulgou seu balanço financeiro e registrou um lucro líquido de R$ 124,6 bilhões em 2023. Trata-se de uma queda de 33,8% em relação aos R$ 188,3 bilhões alcançados em 2022.

No quarto trimestre de 2023, a empresa registrou lucro de R$ 31 bilhões, alta de 16% em relação ao terceiro trimestre. Em relação ao último trimestre de 2022, houve queda de 28,4%.

De acordo com a Petrobras, o resultado é reflexo de alguns desafios que a empresa enfrentou no ano passado, sobretudo em relação à desvalorização de 18% do preço do petróleo nos mercados internacionais.

"Apesar desses desafios, vale ressaltar que tais impactos negativos foram parcialmente mitigados pelo aumento do volume de petróleo comercializado ao longo do período, com destaque para o crescimento nas exportações", diz a companhia, em nota.

O que realmente decepcionou os investidores foram os dividendos de R$ 14,2 bilhões para o quarto trimestre. O valor mínimo para pagamento é de 45% do fluxo de caixa livre (ou seja, o dinheiro que fica à disposição no caixa da empresa). Foi essa a regra usada pela empresa. O mercado esperava um pagamento de dividendos extraordinários, o que não ocorreu.

“Ainda que [a distribuição de dividendos anunciada] esteja em linha com a política de remuneração, [o número] ainda é uma grande decepção”, avaliaram os analistas Pedro Soares, Thiago Duarte e Henrique Péres, do BTG Pactual, em relatório.

A estimativa do BTG Pactual era de que a Petrobras pagasse um dividendo adicional de cerca de US$ 4 bilhões (aproximadamente R$ 20 bilhões), baseado no resultado fiscal da companhia do ano passado.

Economistas explicam contexto da queda das ações da Petrobras

Economistas explicam contexto da queda das ações da Petrobras

Em vez de ser distribuído, o lucro remanescente do exercício, que totaliza R$ 43,4 bilhões, será integralmente destinado para a reserva de remuneração de capital da empresa, que tem a finalidade assegurar recursos para remuneração de acionistas e recompras de ações.

Nesta sexta-feira, o diretor financeiro da companhia, Sergio Caetano, afirmou que a empresa pode distribuir o montante aos acionistas "a qualquer momento", caso haja uma decisão futura neste sentido.

"A apuração (de dividendos extraordinários) continua sendo no final do ano a cada exercício. Uma outra questão é o recurso que está em reserva, que como o (CEO) Jean Paul (Prates) falou, continua sobre análise e pode acontecer a determinação de distribuição a qualquer momento."

Para analistas, o histórico de investimentos da companhia gera receio nos investidores de que a empresa esteja tomando um rumo ruim de alocação de capital.

No plano estratégico da Petrobras de 2020 a 2024, ainda na gestão passada, a companhia havia anunciado o desejo de realizar de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões em desinvestimentos (venda de ativos, como edifícios, equipamentos etc.) para o período. Mas isso já foi revertido no planejamento até 2028.

Em entrevista à GloboNews, o economista André Perfeito afirmou que o que está na mesa agora são as dúvidas do mercado a respeito do que a companhia vai fazer com o dinheiro que não foi distribuído como dividendo e que, agora, ficou como recurso dentro da estatal.

"Já se viu no mercado que a Petrobras vai se orientar para mais investimentos. Mas que investimentos? De que jeito? Vai ser transição energética? Isso vai dar quanto lucro? É natural que [...] o mercado e os investidores estrangeiros queiram saber o que vai ser feito com esse lucro", afirmou.

Economista analisa queda da Petrobras na bolsa após decidir não pagar dividendo extra aos acionistas

Economista analisa queda da Petrobras na bolsa após decidir não pagar dividendo extra aos acionistas

Para os analistas da XP Investimentos André Vidal e Helena Kelm, o cenário faz com que os investidores “repensem sua visão sobre os riscos da Petrobras.���

“Vemos a tese de investimentos agora como uma questão de avaliar a probabilidade de grandes movimentos de M&A [sigla em inglês para fusões e aquisições] ocorrerem no curto prazo”, avaliaram em relatório.

Eles afirmam que, se foi isso que levou à decisão do Conselho de Administração, as ações provavelmente cairão ainda mais, “devido a uma combinação de má alocação de capital com dividendos mais baixos”.

“Por outro lado, se isso tiver sido motivado principalmente pela vontade do governo de manter um ‘plano de reserva’ para o caso de as contas fiscais se deteriorarem em breve, então esse dinheiro estocado acabará sendo pago de volta aos investidores e as ações poderão apresentar um bom desempenho de retorno total no futuro”, completaram os analistas em relatório.

A XP Investimentos, em relatório, disse que esperava uma distribuição de dividendos de R$ 19,2 bilhões, "para o mínimo", a R$ 27,1 bilhões, "para o extraordinário".

O Conselho de Administração da Petrobras encaminhou à Assembleia Geral Ordinária (AGO) um pagamento equivalente a cerca de R$ 1,10 por ação, dividido em duas parcelas de R$ 0,55 por ação.

"Tal valor implica em um rendimento de 2,7% no 4T23 e 10,8% em termos anualizados – interessante, mas não o suficiente para justificar um posicionamento mais agressivo no papel", pontua Vitor Souza, analista de Setor Elétrico e Saneamento da Genial Investimentos.

Em relatório, Souza destaca que os números apresentados pela petroleira são vistos como "neutros". "Ainda que abaixo do consenso, é importante mencionar que o resultado trimestral foi puxado para baixo devido a um evento não-recorrente e não-caixa (ou seja, situações específicas e que não são previstas para os próximos trimestres) de valor expressivo: R$7,4 bilhões", comenta.

Saindo do Brasil e olhando para o exterior, o destaque fica com os novos dados de emprego divulgados nos Estados Unidos pela manhã. O payroll, como é conhecido, é um dos mais importantes relatórios de empregos do país, mostrou a criação de 275 mil vagas, contra expectativa de 198 mil.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!