Por Raquel Lima, G1 DF


  • O Código Civil Brasileiro é um documento que regula os direitos e deveres dos cidadãos em diversas áreas da vida, desde o nascimento até a morte.

  • Atualmente, está em tramitação no Congresso Nacional uma reforma do Código Civil, que visa modernizar e desburocratizar a legislação vigente há mais de 20 anos .

  • O relatório final foi aprovado em abril pelo STJ e altera centenas de artigos considerando questões como direitos dos animais, novas formas de família, proteção no ambiente virtual e inteligência artificial.

  • Para que as pessoas "decifrem" essas mudanças, a Escola de Assistência Jurídica da Defensoria Pública do Distrito Federal realiza um ciclo de palestras online, entre 9 e 11 de julho, com a participação de especialistas e juristas envolvidos na elaboração do projeto.

Dentre os exemplos de modificações que o Código Civil brasileiro sofreu em vinte anos estão o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a filiação socioafetiva e até a multiparentalidade — Foto: getty images

O Código Civil Brasileiro regula todos os aspectos das nossas vidas: do nascimento à morte. Trata do casamento, de contratos, negócios, reparações, e é normal que ele seja revisto de tempos em tempos para incluir as transformações da sociedade.

Debatida desde 2023, a reforma do Código Civil quer atualizar o texto, que tem mais de 20 anos, para acompanhar as mudanças na sociedade. A comissão de juristas do Superior Tribunal de Justiça aprovou o relatório final em abril de 2024, e a reforma altera centenas de artigos (veja abaixo).

Segundo o membro da Comissão de Juristas para Reforma do Código Civil, Carlos E. Elias, o anteprojeto de Reforma do Código Civil não é um Novo Código. Ele apenas atualiza algumas regras do Código Civil atual em razão das mudanças significativas que tivemos nas últimas décadas.

"O Código Civil é a lei mais básica do cotidiano dos cidadãos. É essa norma que trata de casamento, de sucessão hereditária, de contratos, de filiação e de outras questões básicas do cidadão. Alguns juristas antigos até diziam que o Código Civil é a Constituição do homem comum. Trata-se, pois, da norma mais importante para o cotidiano do cidadão," diz Carlos Elias.

Para que as pessoas "decifrem" essas mudanças, a Escola de Assistência Jurídica da Defensoria Pública do Distrito Federal realiza um ciclo de palestras online, entre 9 e 11 de julho, com a participação de especialistas e juristas envolvidos na elaboração do projeto (saiba mais abaixo).

Segundo os juristas, algumas inovações foram necessárias por conta das transformações sociais. O atual texto do Código Civil não é tão adequado para a realidade atual, marcada por diferentes modelos de família, por exemplo.

"Várias regras do atual Código acabam por pressupor a existência de um único modelo de família, como se todas as famílias fossem compostas de casais que s�� se divorciarão com a morte e que só possuem filhos biológicos. Essa falta de aderência à realidade plural também se reflete nos outros campos do Direito Civil. Por isso, a atualização do Código Civil é indispensável para conectar essa lei tão importante à realidade quotidiana da sociedade do século XXI," diz Carlos Elias.

Uma das mudanças consideradas fundamentais é a permissão da chamada "sunset clause" – cláusula do pôr-do-sol- nos pactos antenupciais. Ao casar, os cidadãos podem estabelecer que, durante os primeiros anos, vigorará a regra do regime da separação de bens. Após isso, passaria a vigorar o regime da comunhão universal de bens.

Outra inovação é permitir que as pessoas façam uma espécie de "testamento" para o caso de perda de lucidez, estabelecendo quem deverá ser seu curador e como deverá ser feita a sua gestão financeira e pessoal.

"Essas regras são importantes para dar mais liberdade para as pessoas. Outras são importantíssimas para uma sociedade como a nossa, marcada pela longevidade e por muitas pessoas que envelhecem sem ter familiares confiáveis. No geral, o anteprojeto procura dar mais liberdade para as pessoas organizarem seus projetos de vida, de acordo com as próprias particularidades," aponta Carlos Elias.

Principais alterações no Código Civil 📝

Mudança nos trechos que tratam de casamento e união estável 💍

  • Fim da menção a "homem e mulher"
  • Uso da expressão "duas pessoas" contemplando todo e qualquer casal

Há também a criação de um novo termo para se referir a pessoas unidas civilmente: os conviventes. A proposta também menciona "sociedade convivencial" como resultado da união estável, o que não significa a criação de uma nova forma de família.

Direito animal 🐶

  • Reconhecer juridicamente os animais como seres capazes de ter sentimentos e direitos

Segundo a proposta da comissão de juristas, os animais terão direito a uma proteção jurídica especial, que será definida em lei posterior. O projeto também abre caminho para que animais sejam indenizados por violências e maus-tratos, a fim de reparar danos sofridos.

Direito digital 💻

  • Regras sobre o uso da inteligência artificial
  • Proteção de crianças e adolescentes

A comissão propõe que as plataformas digitais sejam responsáveis civilmente pelo vazamento de dados de usuários ou terceiros. Também estabelece que as empresas devem adotar medidas para garantir a segurança das informações dos usuários.

Outra mudança sugerida pelos juristas é inserir no Código Civil que indenizações poderão ser cobradas por danos cometidos no ambiente virtual.

Entendendo o Código Civil

Com o objetivo de permitir a compreensão da reforma e os impactos esperados por ela, nos campos legislativo e prático, a Escola de Assistência Jurídica da ‌Defensoria Pública do Distrito Federal (Easjur/DPDF) promove um ciclo de palestras online entre 9 e 11 de julho.

A ideia é proporcionar um espaço para discutir os pontos polêmicos e fundamentais das mudanças propostas na reforma do Código Civil Brasileiro, com a participação de autoridades no assunto.

Para o Defensor Público-Geral Celestino Chupel, o ciclo de palestras é de grande relevância para a instituição e para a sociedade como um todo, pois promove uma compreensão profunda das recentes mudanças legislativas e seus impactos.

"O encontro promoverá a capacitação profissional, a integração entre teoria e prática, a educação jurídica, a discussão multidisciplinar, o aprimoramento legislativo, a justiça social, a participação democrática, a transparência e a prevenção de conflitos jurídicos", diz Celestino Chupel.

👉🏽As inscrições estão abertas e podem ser feitas até o dia 7 de julho pelo Portal de Eventos da Easjur/DPDF.

O que prevê a reforma do Código Civil em debate no Senado

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