Viver o câncer
Por — Rio de Janeiro

Os casos de câncer têm crescido nas últimas décadas, o que especialistas atribuem em parte ao envelhecimento da população. No entanto, uma tendência vai na contramão da transição demográfica: o aumento em populações mais jovens. Segundo um estudo publicado no periódico BMJ Oncology, em 2019 foram 3,26 milhões de novos pacientes oncológicos no mundo com idades inferiores a 50 anos, 79,1% a mais do que o número registrado em 1990.

Ainda de acordo com a pesquisa, um tipo de tumor cresceu de forma mais significativa durante essas quase três décadas, 138%, chegando a 225,7 mil novos casos no ano mais recente. É o caso do câncer colorretal, também chamado de câncer de intestino, diagnóstico que engloba tumores em parte do intestino grosso, no reto e no ânus. No Brasil, segundo dados do DataSUS, o número de diagnósticos do tipo abaixo dos 50 cresceu 143,6% entre 2013 e 2023.

Além dos números, a tendência é observada no dia a dia de especialistas ouvidos pelo EXTRA. Décio Lerner, coordenador do Centro de Oncologia do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), no Rio de Janeiro, e mestre em saúde coletiva e controle do câncer pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), conta que tem recebido pacientes até mesmo abaixo dos 40:

— Essa foi uma temática discutida no congresso anual da ASCO (Sociedade Americana de Oncologia Clínica), ocorrido recentemente em Chicago (EUA), já que, em linhas gerais, este aumento do câncer em pacientes jovens vem sendo observado em vários países. Aqui no HSVP, aproximadamente 20% são diagnosticados abaixo dos 40 anos, número muito acima do que se via antigamente. Nos últimos 10 anos, essa porcentagem ficava abaixo de 10%.

Rafael Vaz Pandini, coloproctologista e membro do Comitê Científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, que atua em serviços tanto da rede pública, como da privada, destaca que muitos casos em jovens são identificados em estágios mais avançados, o que dificulta o tratamento:

— Temos diagnosticado e tratado pacientes com câncer de intestino aos 30 anos, 40 anos com mais frequência. Infelizmente, a maioria destes pacientes descobrem o tumor em estágios mais avançados, pois em geral os sintomas precisam ficar mais exuberantes para que esse público faça exames direcionados ao diagnóstico do câncer colorretal, uma vez que não era esperado ter a doença nessa época da vida. Esse aumento de incidência já está comprovado em estudos populacionais.

Nesse contexto, um novo estudo, publicado no final de maio na revista científica JAMA Network Open, revisou 80 trabalhos diferentes, envolvendo quase 25 milhões de pacientes com menos de 50 anos, e buscou identificar os principais sinais de alerta da doença. Em quase metade (45%) dos casos, o sangue nas fezes foi o sintoma inicial, seguido por cólicas abdominais (40% dos casos) e alterações nos hábitos intestinais (27% dos casos).

Porém, o trabalho mostrou que, a partir do momento em que os adultos abaixo de 50 procuravam um médico pela primeira vez com uma das queixas citadas, geralmente levava de quatro a seis meses até que recebessem um diagnóstico.

— Estes sintomas não são valorizados num paciente jovem e, muitas vezes, nem mesmo por médicos, o que leva a atrasos no diagnóstico — diz Lerner.

Pandini acrescenta que outros sintomas que podem surgir são dor anal; perda de peso importante; fraqueza; anemia; esforço ou dificuldade ao evacuar; fezes afiladas e massas palpáveis no abdômen. E cita que os sinais de fato podem não se manifestar de forma tão evidente no público mais jovem:

— Um público idoso, por ser mais frágil, pode apresentar consequências mais evidentes dos sintomas e sinais logo no início do quadro, enquanto que em pessoas jovens, os profissionais de saúde podem tender a não considerar importante as alterações iniciais, pois aquele até então não é um grupo de risco para o câncer colorretal.

Por que o câncer colorretal cresce?

Os especialistas afirmam que não se sabe ainda exatamente os motivos que justificam o crescimento, mas citam uma série de fatores que podem ajudar a desvendá-lo.

— Em países em transição demográfica e epidemiológica, como no Brasil e outros na América Latina, as rápidas mudanças nos fatores de risco associados à “ocidentalização do estilo de vida”, o acesso inadequado à detecção precoce com atrasos no diagnóstico e o acesso inadequado a tratamento de alta qualidade podem explicar os aumentos na incidência e mortalidade por câncer colorretal, independentemente da faixa etária — diz Flávia Miranda Corrêa, consultora médica da Fundação do Câncer e doutora em Saúde Coletiva pela Fiocruz.

Lerner diz ser possível que alterações na microbiota (bactérias que habitam normalmente o intestino e que desempenham um papel importante no sistema imune) “possam levar a um aumento do risco na população mais jovem”. Nesse contexto, cita os fatores de risco que interferem nesse processo:

— A obesidade, falta de atividade física, uso excessivo de alimentos ultraprocessados e uso excessivo de antibióticos podem ser fatores que alteram este microbioma, podendo levar a um estado de inflamação crônica e maior risco de câncer.

Os pesquisadores reforçam também o papel significativo do tabagismo e do consumo de álcool como hábitos que contribuem para o surgimento de uma ampla gama de doenças, entre elas o câncer colorretal.

Além disso, Pandini acrescenta que “pode haver um componente genético e epigenético significativo que esteja agindo como um gatilho para gênese do câncer nesse público jovem”.

Em relação ao tratamento, especialmente quando detectado em fases mais precoces, a perspectiva é boa, diz Alexandre Jácome, oncologista clínico membro do Comitê de Tumores Gastrointestinais Baixo da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC):

— O tratamento depende de uma série de fatores, principalmente da localização e do estágio da doença. Frequentemente envolve mais de uma modalidade terapêutica, incluindo cirurgia, quimioterapia, radioterapia ou até imunoterapia em uma pequena parcela dos casos. As perspectivas de cura são satisfatórias, principalmente para tumores diagnosticados em fases mais iniciais.

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