TV
Por

Conhecida pelo grande público da TV como a Buba de “Renascer”, Gabriela Medeiros é tão doce quanto a personagem que interpreta no folhetim das nove da Globo. Esta é apenas uma das muitas semelhanças entre elas. Assim como na ficção, a atriz paulistana de 22 anos, que começou a estudar teatro aos 13, também é uma mulher trans e já vivenciou na vida real muitos dos dilemas escritos pelo autor Bruno Luperi para a história. “Eu e Buba temos coisas semelhantes e muitas outras coisas que não são iguais. Mas partilhamos a mesma história”, afirma a artista, sem entrar em detalhes sobre essas coincidências. Estreante nas novelas, ela chegou a estudar Psicologia, justamente a profissão da sua personagem. “Tem um pedaço de mim na Buba. Já virou uma simbiose. Quando acabar a novela, vou ter que me desfazer um pouco da essência dela porque a gente se misturou muito”, revela Gabriela durante esta entrevista exclusiva para a Canal Extra.

Com vontade de mostrar “muitas outras facetas”, como ela mesma diz, Gabi, como é chamada pelos amigos, sugeriu posar para nossa capa como uma mulher dos anos 1950, época em que se passará “A garota do momento”, próxima trama das seis da Globo, que tem como pano de fundo o universo da moda e da publicidade. “Estou louca para entrar nessa produção. Todo mundo aqui na Globo comenta que tenho perfil de novela de época. Tenho muita vontade de fazer um trabalho desse como presente para a minha avó, que já está velhinha”, conta ela, ao propor o tema do ensaio em nossa primeira conversa pelo WhatsApp, antes do bate-papo registrado a seguir.

Na entrevista a seguir, Gabriela fala sobre a importância do seu trabalho atual, comenta as críticas sobre sua atuação e revela que ter conhecido a atriz Barbara Paz foi determinante para a sua trajetória profissional.

Por que você quis fazer este ensaio fotográfico para Canal numa pegada anos 50?

Essa vontade brota da minha avó Irene, de 86 anos. A minha grande motivação para ser atriz é ela, que é uma referência de época. Tudo que aprendi sobre cinema e cultura pop foi por intermédio dela. Minha avó é uma mulher clássica. E isso combina muito comigo também. Todo mundo aqui na Globo comenta que tenho perfil de novela de época. Tenho muita vontade de fazer um trabalho desse como presente para a minha avó, que já está velhinha.

E o que a sua avó fala da Buba em “Renascer”?

Ela ama a Buba. Ela chora, se emociona. A Buba é uma personagem muito aceita pelo público mais velho, olha que curioso! Essas pessoas se sensibilizam muito mais do que o público jovem. Lá na Globo comentaram isso comigo depois que fizeram uma pesquisa sobre os personagens da novela. Mas percebi isso também pela forma como sou recebida por esse público específico na rua, no aeroporto... São sempre as pessoas mais velhas que falam: “Como é linda a história dessa menininha”. Nem enfatizam o fato de ela ser trans. Acho que enxergam a Buba como humana, uma mulher que quer ser mãe, que está aí lutando pelo amor. Acho que é isso que sensibiliza.

E como o público em geral recebeu a Buba?

O que eu recebo fora das redes sociais é só amor. Todo mundo fala que ama a personagem, que ela é muito doce. Comentam o jeitinho dela, a forma como ela fala. Muita gente diz que, quando a Buba entra em cena, ela acalma o público. Acho que é isso. Não dá pra se acostumar nem com o amor, nem com o ódio. O meu ofício é justamente trazer indagações e questionar o telespectador o tempo todo. Eu recebo com muito amor esse carinho que vem dos fãs.

Mais de Entretenimento:

Muitas meninas trans se aproximam para comentar a personagem com você?

Muitas chegam pra dizer: “Nossa, tô vendo a minha vida passar na televisão”. Ou então: “Você ajudou meus pais a me entenderem”. Ou ainda: “Já passei por isso, e ver essas cenas me dói muito”. Ela é um reflexo para a comunidade trans. É uma personagem que não está muito no convívio das pessoas, né? Por isso talvez tenha essa difícil interpretação. Mas todo mundo que é trans me fala: “Nossa, você está perfeita. Estou entendendo exatamente o que você está dizendo e tudo o que você está botando ali em cena”.

E como está sendo para você a experiência de interpretar a Buba?

Tem um pedaço de mim na Buba. Já virou uma simbiose. Quando acabar a novela, vou ter que me desfazer um pouco da essência dessa personagem porque a gente se misturou muito. Já estou há bastante tempo nesse projeto. Eu, Duda Santos e Humberto Carrão (a Maria Santa e o José Inocêncio da primeira fase da história) fomos os primeiros a chegar nesse elenco. Bem antes da estreia, já estava fazendo a Buba, entendendo a personagem, adentrando nas camadas dela.

A personagem já passou por muitos conflitos até aqui. E sofreu uma grande violência quando Eliana (Sophie Charlotte) contou ao José Inocêncio (Marcos Palmeira) que Buba é uma mulher trans. Como foi retratar essa trama na televisão?

Esse tipo de violência é mais do que real. É latente. Não à toa nosso país é o que mais mata pessoas transexuais. Para além disso, a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos. E a gente ainda está falando de um enredo que tem parte de ficção. Eu sinto que essa personagem vem para educar mesmo o público brasileiro. Nunca se teve uma história de peso assim atrelada a uma mulher trans que fosse tão desenvolvida. São cenas importantes, que denunciam a transfobia, que mostram esse olhar sádico da Eliana em relação a Buba. Ela não está enganando ninguém. Nenhuma pessoa trans tem a obrigação de ficar falando que é trans para todo mundo o tempo todo. As pessoas cis não saem dizendo assim: “Oi, tudo bom, sou uma pessoa cisgênero, heteronormativa...”. Então por que impõem isso sobre a gente o tempo todo? Eu não estou enganando ninguém! Estou vivendo a minha verdade, a minha vida. Só isso que importa.

Como foi para você gravar as cenas em que a Buba se reencontra com os pais após a transição de gênero? Isso mexeu com você, fez com que revivesse sua própria história?

As cenas ficaram lindas, né? Tem um pouco de tudo ali. Eu e Buba temos coisas semelhantes e muitas outras coisas que não são iguais. Mas partilhamos a mesma história. É uma catarse fazer a Buba. No sentido de que estou curando muita coisa dentro de mim também.

Pode me dar exemplos?

Acho que são questões meio pessoais. Eu ainda não penso em me abrir tanto sobre isso.

Voltando para a personagem... Muitas pessoas dizem que a Buba deveria ter uma voz mais ativa na novela. O que você acha disso?

Como que vou dar uma voz tão ativa para uma pessoa que sofreu conversão religiosa, tentou cometer suicídio, sofreu violência paternal, foi expulsa de casa? Como que vou fazer essa personagem tão pra fora? Não tem como fazer isso! Sinto que o público hoje é muito diferente, é imediatista demais, quer processar tudo muito rápido. Se a gente pega o telespectador que consumia novela nos anos 80 e 90, percebe que ele tinha muito mais calma para acompanhar o enredo. Hoje tudo enjoa logo, tudo passa voando. Mas eu falei: “Vou por esse caminho de propósito, e não vão entender”. Realmente não entenderam. Mas acho que, depois das sequências com a mãe e com o pai, a galera pensou: “Uau! Então é por isso que tal coisa foi assim”. Foi uma estratégia minha como atriz.

Quais foram os momentos que mais a sensibilizaram até aqui na novela?

Desde o começo nas cenas com o Rodrigo Simas, depois com o desejo dela em torno da gravidez, as sequências com os pais, com o José Inocêncio (Marcos Palmeira)... Todo o meu arco é muito dramático. Acho que é impossível não sensibilizar.

Muita gente criticou a reação “fria” de Buba ao receber a notícia da morte do Venâncio (Rodrigo Simas). Mas você já explicou que as cenas da reação dela foram cortadas... O que você sentiu ao ver essas críticas?

Me machucou porque não foi uma escolha minha. Pela minha inexperiência, eu me assustei um pouco com a reação das pessoas julgando de forma tão maldosa. Teve muito hate camuflado de transfobia também. Mas acho que o resultado final ficou bonito. Cada personagem sentiu de um jeito. O foco realmente era a reação do Inocêncio por conta do diabinho da garrafa. Do pacto que ele fez, em que um dos filhos teria que ser sacrificado. O (diretor artístico da novela) Gustavo (Fernández) soube fazer essa direção muito polida. Foram decisões tomadas com carinho. O que foi mostrado da Buba é que ela se fechou naquele momento. E é tão difícil fazer cena recebendo notícia de morte de alguém. É uma situação muito difícil mesmo.

Essa é a sua primeira novela. Ao mesmo tempo, você vive uma personagem que foi emblemática na dramaturgia. Qual é a sua responsabilidade nisso tudo?

Penso muito nessa responsabilidade. No sentido de me cobrar mesmo. E às vezes me pergunto se o que estou fazendo é realmente bom. Mas entendi que só tenho 22 anos. É o que você falou. Essa é minha primeira novela! E acho que estou num caminho muito bonito. As pessoas ao me redor me elogiam bastante. Os diretores, o preparador de elenco, atores que contracenam comigo... Então acho que está tudo certo. Do jeito que deve ser e no meu tempo. Eu não posso oferecer mais do que isso. Posso oferecer o que trago comigo até o momento. E tem a questão da experiência que estou adquirindo. Todo mundo partiu de um começo.

Como você chegou em “Renascer”?

A minha seleção aconteceu a partir do meu trabalho em “Vicky e a musa”. A produtora de elenco Marcela Bergamo entrou em contato comigo. Fiz três selfie tapes (testes de vídeo em que a própria pessoa se filma) e depois tive que vir para o Rio. Fiquei uma semana em testes antes de chegar no texto final. Ali já passei a fazer o teste junto com a Teca (Lívia Silva). Foi uma sequência de cenas bem extensa, e havia muitas pessoas concorrendo à personagem.

Gabriela Medeiros, a Buda de Renascer, com a mãe — Foto: Instagram
Gabriela Medeiros, a Buda de Renascer, com a mãe — Foto: Instagram
Buba em 'Renascer', Gabriela Medeiros mostra foto na infância com a avó — Foto: Instagram
Buba em 'Renascer', Gabriela Medeiros mostra foto na infância com a avó — Foto: Instagram

Rolou muita ansiedade nesse período?

Eu entreguei na mão do destino. Eu sempre sou assim. O que tem que ser pra mim vai ser.

Você conversou com a Maria Luisa Mendonça, que fez a Buba na novela de 1993. O que ela conversou com você na ocasião?

Trocamos algumas ideias sobre a personagem. Foi ela que falou pra mim que eu deveria ir pelo caminho da doçura. A Buba é doce. E isso é uma coisa que eu levo mesmo.

Diferentemente da primeira Buba, que era uma pessoa intersexo, a de agora é uma mulher trans. Qual a importância de mostrar esse cotidiano na TV aberta?

É histórico esse momento que a gente está vivendo. A Buba de fato está mostrando muitas nuances. Tem o relacionamento, a questão familiar, o companheirismo, o acolhimento... Tem transfobia também. Acho que está mostrando para todo o Brasil essa realidade.

Você já falou sobre o desejo de interpretar uma mulher cis...

Não é uma vontade de interpretar uma mulher cis. Não é isso.

O que é?

Eu não quero fazer personagens que só envolvam temáticas trans. Mulher é mulher! Por que não posso fazer uma mulher deprimida? Ou então uma mulher com ansiedade, sabe? Acho que é preciso desmistificar a mulher trans, ir muito além disso. É uma figura feminina. Quais são as causas dessa mulher? Ela foi casada? Se divorciou? É uma mulher que passa por alguma necessidade? Ou é uma mulher muito rica que tem suas questões? Ir além desse campo de só ser uma trans em cena, o que eu acho lindo. Mas a gente só vai mudar o cenário a partir do momento em que começar a desfazer essa imagem.

Como foi a sua preparação para interpretar a Buba?

Meus estudos foram muito além do texto. A Buba vem dos meus poemas, dos meus desenhos, dos mitos gregos. Eu vim compondo a personagem com muita coisa. A Buba tem muito ar. Ela é etérea. Eu fui bem a fundo nessa pesquisa.

A Buba feita pela Maria Luisa ainda é muito lembrada. Você pensa em também ficar marcada pela personagem?

A Buba é um papel muito marcante mesmo. A própria Maria Luisa ficou marcada. Se tiver que ser assim comigo, fico feliz. Sinal de que fiz um lindo trabalho também. Mas quero poder mostrar outras nuances minhas como atriz. E quero que o público veja o quão facetada eu sou artisticamente. Para poder interpretar qualquer tipo de personagem.

Como você faz para deixar a Buba no estúdio e não levá-la para casa? É difícil se desligar dela quando você tem cenas mais dramáticas ou fortes?

No começo eu não sabia separar isso. Mas hoje o que eu deixo no estúdio fica lá. Quando saio, sou eu. Não é ela. Embora sempre reverbere alguma coisa da personagem em mim.

E como está a sua rotina durante a novela?

É bem puxada. Tem que estudar diariamente. Passo o dia inteiro na Globo. No meu tempo livre, estou estudando ou trocando com os meus colegas. Nós gravamos muitas cenas fora da ordem cronológica e temos que nos concentrar muito.

Como a relação da Buba com o Augusto (Renan Monteiro) mexeu com ela?

A relação dela com o Augusto lhe trouxe amor e confiança. Acho que o Venâncio não dava uma base sólida para a Buba. Ele a deixava meio que perambulando. Já o Augusto está ali. É alicerce, segura na mão dela e também mostra alguns caminhos. Acho que um aprende muito com o outro. Tem uma troca genuína.

Me conta um pouco da sua trajetória antes da novela...

Cursei Psicologia, trabalhei no mercado financeiro. Mas o meu destino se cruzou com o da Barbara Paz (veja depoimento da atriz e de outros colegas sobre Gabriela na página 17) e aí tudo começou quando fiz a série “Vicky e a musa”, do Globoplay. Barbara é uma amigona. A gente troca muito. Ela sempre me disse: “Vai pra cima, você tem potencial, se joga”. Tenho um imenso carinho por ela. Partilhamos do mesmo “mood”, a gente tem essa estética de filmes noir. Amo de paixão. Acho que uma se viu muito na outra.

O desejo de trabalhar profissionalmente como atriz surgiu nessa época?

Foi através de “Vicky e a musa”. Foi quando me deparei com tudo aquilo e decidi seguir profissionalmente. Eu tinha muita dúvida, muito medo. É uma profissão que gera uma certa instabilidade. Eu só acreditei no meu sonho, arrecadei um dinheiro e vim pro Rio fazer teste, conhecer as pessoas. E me joguei. Acho que sou essa pessoa que não tem medo de se lançar para o mundo, sabe? Se não deu certo, terão outros caminhos. Tem o plano A, o plano B, e o plano C. Essa é minha vida. Não quero envelhecer e me arrepender do que não fiz. Eu morro de medo disso. Quero chegar aos 60 anos e dizer: “Putz, vivi, gente!. Fiz tudo o que eu tinha pra fazer!”

Além da atuação, você desenha e escreve. Qual é a importâncias dessas atividades pra você?

Fiz teatro dos 13 aos 15 anos. Sempre escrevi muito. A escrita faz parte de mim, do que eu sou. A poesia me salva. E os desenhos também são parte dos meus processos internos.

Você pensa em fazer uma exposição com seus desenhos?

Penso. Mas isso é uma coisa mais pra frente. Acho que antes eu preciso me consolidar no mercado como atriz para depois entender o que tem por vir, sabe? Mas quero lançar livro, escrever roteiro, publicar muita coisa ainda. Esse é o meu destino. Trabalhar com arte.

O que ainda não contou que gostaria de falar?

Tem coisas que estou deixando para conversar em outro momento, em algum programa da TV aberta. Tem muita coisa que tenho pra falar. Mas aqui a gente já falou bastante, né?

Mais recente Próxima Zeca Camargo é desligado da Band e anuncia demissão nas redes sociais
Mais do extra

Meia-atacante deve ser o novo reforço cruzmaltino

Coutinho deve assinar com Vasco por empréstimo nesta segunda-feira

Tricolor segue na última colocação do Campeonato Brasileiro com seis pontos em 13 rodadas

Fluminense muda de ideia e vai ao mercado por um novo técnico; Odair Hellmann e Mano Menezes são favoritos

Rubro-negro chegou aos 27 pontos, abriu três para Botafogo e Bahia e quatro para o Palmeiras, que ainda joga na rodada

Flamengo vence Cruzeiro e segue na liderança do Brasileiro

Treinador interino do Fluminense acumulou a segunda derrota em dois jogos

Após mais uma derrota, Marcão explica escalação com três volantes e projeta duelo contra o Inter: 'Vai ser diferente'

Homens aproveitaram a ocasião para furtar material de cobre

Sem policiais por perto, cabine da PM vira alvo de criminosos na Linha Amarela

Material, sem documentação, seria vendido em Itaperuna, no Norte Fluminense

PF prende casal que transportava 17 mil munições

Craque posou com loira durante sua viagem pelos Estados Unidos

Neymar é tietado por jogadora, filha de brasileira, em Las Vegas; conheça

No duelo de tricolores desesperados, melhor para o time gaúcho, que saiu vitorioso em Caxias do Sul

Fora de casa, Fluminense perde para o Grêmio e segue na lanterna do Brasileirão

Colegas de profissão do casal elogiaram os atores nas redes sociais

Otávio Augusto se declara para a mulher, musa da TV nos anos 1980: 'Há 38 anos juntos'

Animal é reverenciado pelos membros da tribo Lakota

Filhote branco de bisão ligado a profecia de prosperidade desaparece em parque nos EUA