Ator que interpreta José Augusto em 'Renascer' conta como foi conhecer o pai só depois de adulto: 'Vazio não preenchido'

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— Zé Augusto é muito sensível, tem olhar diferente para as coisas. Ele volta para a fazenda curado dessa traição. Tenta descobrir quem é o Zé Augusto de verdade. Buba vai ser um amor para ele chamar de seu, e não uma história para agradar a seu pai, como viveu antes. O público pode esperar muitas cenas fofas, mas, antes, ele vai dar uma sacolejada ali, porque se aproxima de Lu — adianta Renan, aos 37 anos.

Para o ator, é importante levar ao público o relacionamento de uma pessoa cis e uma trans, como é o caso de Zé Augusto e Buba. Embora esteja comprometido há seis anos com a namorada, Sarah Firmo, Renan conta que, caso estivesse solteiro, não teria problema em viver uma relação como a da ficção.

— Enxergo as pessoas como elas são. É um privilégio poder dar vida a um personagem que vai colocar luz num tema tão relevante no Brasil, onde pessoas da comunidade LGBTQIA+ são assassinadas diariamente. Não estou aberto para um relacionamento porque sou comprometido, mas as pessoas têm que ser felizes amando do jeito que elas acreditam — conta.

Sobre sua vida amorosa, ele conta: — Batalho todos os dias pelo amor de Sarah. A conquista se faz diariamente. A gente se ama, somos superparceiros, torcemos um pelo outro. Estamos sempre juntos, embora a vida de ator seja muito solitária. O amor tem que ser regado todos os dias.

Nascido e criado no Vidigal, onde integrou o famoso grupo cultural Nós do Morro, o carioca foi salvo pela arte, mas viu amigos se perdendo no mundo do crime.

— As oportunidades chegam muito depois para quem mora na periferia. Quando chegam, né? A dificuldade do dia a dia é a falta de emprego, vencer a fome, o preconceito e a violência que está escancarada na sua própria porta. Quem cresce na periferia é um sobrevivente. Quando você vive à beira da miséria, você amadurece ou enlouquece. Vários amigos cresceram comigo, mas não sei em que beco foi que a gente se perdeu. Eu fui para um lugar, e eles foram para outros.

Apesar das dificuldades, Renan não chegou a passar fome ou viver na miséria. Ele foi criado pela mãe, uma nordestina que veio para o Rio buscar melhores oportunidades na vida. Mas, quando o ator tinha 18 anos, ela morreu.

— Tudo era muito difícil. Minha mãe biológica era uma migrante nordestina, infelizmente não pôde estudar. Criou os filhos sozinha. Quando passou a primeira versão de "Renascer" (em 1993), eu nem lembro se a gente tinha televisão em casa. Hoje, minha família pode me acompanhar no remake. Histórias como a minha a gente vê diariamente, basta olhar para o lado — frisa o ator, que foi adotado afetivamente em 2017 pela atriz Duh Moraes, sua colega de cena em "Novo Mundo".

Já o pai do ator foi ausente em sua infância e adolescência. Renan só o conheceu quando tinha 25 anos. Desde então, vem tentando criar uma relação com ele.

— Infelizmente, ele perdeu as melhores fases da minha vida, meu primeiro dia de aula, minhas primeiras dúvidas. Por mais que a gente abra a escuta, jamais vamos conseguir reconstruir essa relação perdida. A gente vem construindo uma amizade, com uma certa participação. Mas, talvez pela falta desse laço afetivo, tenha uma montanha entre nós. Mantenho um contato constante, mas existe um vazio não preenchido — resume.