Educação Financeira

Payroll: por que a criação de empregos nos EUA impacta a economia brasileira?

Dados do payroll mostram o quanto a economia americana está aquecida e os seus reflexos são sentidos por aqui

Payroll: por que a criação de empregos nos EUA impacta a economia brasileira?
Juros e economia (Foto: Adobe Stock)
  • O Payroll de junho ficou levemente acima das expectativas, mas aparentemente o mercado de trabalho americano está desacelerando
  • Esses dados são importantes porque existe uma relação entre o mercado de trabalho e a inflação - e o banco central americano está de olho
  • Mudanças na perspectiva inflacionária dos Estados Unidos reflete em economias emergentes como a do Brasil

O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou nesta sexta-feira (5) o relatório de empregos do país, conhecido como payroll. O total de vagas criadas em junho ficou um pouco acima das expectativas, embora o desemprego tenha avançado. Esses números são importantes porque dão pistas sobre a força da economia americana e sua inflação. Seus reflexos não ficam limitados às fronteiras norte-americanas: eles também influenciam no Brasil.

Segundo os analistas consultados pelo Projeções Broadcast, era prevista uma mediana de 200 mil postos de trabalho, mas o resultado fechou em 206 mil empregos em junho. Por outro lado, a taxa de desemprego dos EUA aumentou para 4,1% em junho, ante 4% em maio. A previsão era de que a taxa permaneceria em 4% no mês passado.

Na avaliação de André Valério, economista sênior do Inter, mesmo com esses números há sinais de que está ocorrendo uma desaceleração do mercado de trabalho americano. “Com o resultado de junho e as revisões dos resultados prévios, a média móvel de 3 meses de adição de novos empregos ficou abaixo dos 200 mil empregos pela primeira vez em mais de 2 anos”, aponta.

Publicidade

Conteúdos e análises exclusivas para ajudar você a investir. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Vale lembrar que esses dados, juntamente ao Índice de Preços para Gastos de Consumo Pessoal (PCE), estão sendo observados com atenção pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para entender quando será o momento oportuno para o início do ciclo de cortes nos juros. Para Valério, o payroll desta sexta-feira deve ser visto com bons olhos. “O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) tem se mostrado mais sensível a dados negativos de atividade do que de inflação. Mantida essa tendência, esperamos que o Fed dê início ao ciclo de cortes na reunião de setembro.”

Qual a relação entre o mercado de trabalho e a inflação?

Pode parecer difícil de entender, mas existe uma relação entre o mercado de trabalho e a inflação. Não só nos EUA, mas em todos os países. Isso porque quando há um mercado de trabalho aquecido e com baixo desemprego, uma consequência disso é o aumento dos salários já que os trabalhadores têm maior poder de barganha. Consequentemente, podem haver a elevação dos custos de produção e o aumento dos preços dos produtos e serviços, o que gera uma inflação de oferta.

E, quando há mais pessoas empregadas e com renda disponível, haverá um aumento na demanda de bens e serviços. Nesse caso, se a oferta não conseguir acompanhar a procura, haverá a inflação de demanda.

Essa é a razão pela qual os bancos centrais também monitoram os dados do mercado de trabalho na condução da sua política monetária. É possível que as taxas de juros sejam elevadas a fim de controlar a inflação em um mercado de trabalho aquecido. Por outro lado, ele também pode reduzir as taxas para estimular a economia e o consumo em períodos de alto desemprego.

Em um relatório enviado ao Congresso americano, o Fed destacou que o mercado de trabalho voltou à situação “apertada”, mas não superaquecida como antes da pandemia, e que a inflação “diminuiu notavelmente no ano passado e mostrou um progresso modesto até agora neste ano”. Por lá, os juros são mantidos no intervalo 5,25% e 5,5%, o maior patamar em mais de 20 anos.

E o que a economia brasileira tem a ver com isso?

A perspectiva de juros mais baixos nos EUA deve refletir nas economias emergentes, como a brasileira. Felipe Vasconcellos, sócio da Equss Capital, explica que enquanto eles estiverem elevados, o fluxo de capital de investimentos vai continuar indo para a economia mais segura do mundo. “Isso pressiona a valorização do dólar e impacta a nossa inflação, que consequentemente dificulta a queda da taxa Selic.”

Já Graziela Ariosi, estrategista-chefe da Swiss Capital Invest, também menciona o fortalecimento da moeda americana enquanto os juros permanecerem altos por lá. “O resultado pode encarecer as importações e aumentar os custos de empresas brasileiras com dívida em dólar”, diz. Além disso, ela explica que a alta dos juros nos EUA pode forçar o Banco Central do Brasil a manter ou até aumentar a Selic: “O que pode impactar o crescimento econômico.”

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos