Em 2001, o casal de publicitários Claudia Issa e Alexandre Gama mudou-se para seu então novo endereço em São Paulo – um projeto de Marcio Kogan, à frente do Studio MK27, àquela altura já reconhecido como nome relevante da arquitetura brasileira. Era “uma caixa branca”, na definição dele, feita para acolher referências discutidas com os clientes, claro, mas também sintonizada com a produção arquitetônica da virada do século 21: minimalista, futurista, pautada pela onipresença do branco, livre de texturas, quase hermética. “Foi um projeto importante, um turning point em nossa trajetória, pois nos deu muita visibilidade no exterior. Além disso, Claudia e Alexandre foram ótimos clientes, houve bastante troca entre nós”, revela Marcio.
“Na época, eu trabalhava muito, ocupava o cargo de diretora de arte em agência de publicidade e nem sabia se queria ter filhos. Sorte que o Marcio me convenceu a fazer três suítes, em nome da facilidade de vender o imóvel no futuro”, conta Claudia. Bem, isso não aconteceu. As filhas vieram e, com elas, um novo momento, menos centrado na carreira, mais dedicado à família.
Cerca de dez anos depois, outra fase se apresentou. Com as crianças mais crescidas, Claudia viu a necessidade de mexer na casa para acomodá-las melhor, além de abrir um espaço de trabalho para si. Chegara a hora de voltar ao mercado. Porém, para fazer o quê? Ela ainda não sabia. A publicidade não a atraía mais. Sua experiência em design gráfico e a formação em artes plásticas confluíam para o desenho de objetos. Foi assim que passou a experimentar diferentes suportes enquanto tocava a obra de acordo com uma segunda participação de Kogan, convocado para rever sua criação. “Ampliamos* a área, trocamos caixilhos e revestimentos, conciliamos os novos espaços com os antigos. Mais uma vez, o casal colocou suas impressões digitais no projeto de forma muito pertinente”, aponta Marcio.
Enquanto a residência crescia (graças à compra do terreno vizinho) e abandonava o minimalismo extremo, tornando-se mais aconchegante com a paleta de tons de cinza e a presença da madeira, Claudia aproveitava a mobilização com a reforma para explorar novas possibilidades de atuação profissional. Com sobras de mármore da obra, desenhou uma linha de porta-copos e suportes para louças. Restos de madeira deram origem a tábuas de cozinha. “Comecei a oferecer para arquitetos um serviço de aproveitamento de materiais nobres de obra”, conta ela. “Mas sentia que ainda não tinha chegado lá. Minha cabeça estava a mil, eu queria realmente fazer algo artístico, encontrar um caminho”, relembra.
Nessa busca, Claudia retornou à Faap (onde havia se graduado em artes plásticas), e matriculou-se num curso de escultura com o prestigiado Nicolas Vlavianos. Ela se entendeu com o barro, mas não ficou à vontade diante da expectativa gerada em torno de sua produção. “Resolvi procurar um lugar low profile para me desenvolver no manuseio do torno e estabelecer uma linguagem. Não podia ser nada muito extenso. Eu queria produzir e extravasar a criatividade”, fala.
Foi em uma escola na Vila Madalena que descobriu terra fértil para dar vazão às ideias. O trabalho fluiu e, no início de 2018, ela lançou sua própria marca, a Konsepta – que inclui utensílios com sobras de materiais de obra e peças cerâmicas, de porcelana e de vidro, pautadas por uma visão que valoriza o artesanal, o gesto artístico, a gramática que acolhe a imperfeição. “Ao lidar com barro, a gente pode incorrer no erro o tempo todo. Mas o que é o erro? Por que não acolhê-lo?”, questiona. Um pensamento válido para a arte e, mais ainda, para a vida, como ela mesma comprova.
*Além do próprio Marcio Kogan, a equipe envolvida no projeto consistia de Lair Reis, Anna Helena Villela, Beatriz Meyer, Carlos Costa, Laura Guedes, Luciana Antunes, Mariana Simas e Oswaldo Pessano. Make-up/hair: André Mattos
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