Na manhã cinza, típica do inverno paulistano, logo se acendeu. Faça sol ou chuva, a morada da arquiteta Stephanie Ribeiro provoca um efeito instantâneo de alegria em qualquer visitante. Resultado esperado da combinação de cores vibrantes que delimitam cada cômodo e compõem o décor do lar em Higienópolis, São Paulo, onde ela vive como marido e sociólogo Túlio Custódio e o cão Basquiat. “Estávamos pensando em nos mudar desde o ano passado, porque o apartamento anterior ficou pequeno para nós e o cachorro”, começa ela, enquanto beberica uma xícara de chá.
"A arquitetura não precisa ser dura. A vida já é muito dura lá fora. Não vou me encaixar em um padrão dentro de casa"
Stephanie Ribeiro
O antigo endereço, no bairro vizinho de Santa Cecília, tinha apenas um quarto. Após Túlio ser aprovado no doutorado e Stephanie caminhar com seus projetos, a dupla precisou de um espaço extra para o trabalho. “Aqui era escuro, com cortinas muito antigas, tudo meio triste. Porém, me encantei pelo piso da cozinha e pela ampla área dos fundos. Já ele, quando veio visitar, não entendeu muito bem por que eu tinha gostado tanto”, ela ri. “Mas confiou em mim para fazer a transformação. Foi um ótimo exercício de experimentação.”
Influenciada pela recente viagem a Cuba, Stephanie decidiu pintar cada ambiente com uma cor. Amarelo foi o eleito para o local que antes era totalmente sombrio. A energia solar preenche todas as paredes do escritório e ajuda os dois a trabalhar. “Este quarto é o nosso xodó. Montamos com os móveis da antiga casa, criando um espaço com sofá, estantes com a nossa coleção de livros e uma mesa.”
O quarto do casal, por sua vez, tinha um empecilho: o velho guarda-roupa, que veio com o imóvel, era impossível de ser retirado, e atrapalhava o cenário com sua pesada presença de madeira maciça. A saída? Colorir! “Pintei o móvel da mesma cor da parede, assim ele diminui visualmente de tamanho e não interfere tanto na decoração”, explica.
A brincadeira de aplicar dois tons no armário rendeu outras ideias e ela acabou empregando o mesmo princípio nos demais ambientes. A parede amarela virou meia parede com a interferência do roxo, a sala de estar – no melhor estilo floresta urbana – ganhou detalhes em rosa e laranja, e a cozinha e o banheiro têm atmosfera ton sur ton. “Pensei muito no quanto associamos uma estética a um padrão de vida. Nossa cultura é colorida, basta viajar para o Nordeste ou para o interior. Mas negamos nossa identidade, associando tudo o que é brasileiro a algo pejorativo”, reflete ela.
“A arquitetura não precisa ser dura. A vida já é muito dura lá fora. Pessoas passam fome, vivem em situação de rua. Há a sensação de medo enquanto mulher, negra… Não vou me encaixar em um padrão dentro de casa também. Usar cores é uma forma de deixar tudo mais aconchegante e coma nossa cara.”
Para complementar a paleta viva, artigos garimpados em bazares e antiquários, lembranças trazidas de viagens e os inúmeros vasos de plantas preenchem cada cantinho. “A reforma foi ótima para aprender a me desapegar do perfeito, me apegar ao processo em si e me reconectar com os fazeres manuais”, revela Stephanie, que agora se aventura em cursos de joalheria e se aprofunda nos estudos de objetos e artesanato. Ela promete mais criações coloridas por vir.
"A reforma foi ótima para aprender a me desapegar do perfeito, me apegar ao processo em si e me reconectar comos fazeres manuais"
Stephanie Ribeiro