Desenho: Deborah Salles para @brincadeira_livre
Como parte de seu projeto Creche Parental Pública, em exposição até 25 de setembro na documenta fifteen (Kassel, Alemanha), a artista e educadora Graziela Kunsch realiza um programa internacional na Casa do Povo a partir de inspirações na abordagem pedagógica da pediatra húngara Emmi Pikler (1902-1984), que revolucionou a forma de olhar bebês e crianças pequenas de 0 a 3 anos de idade.
Olhar Pikler será dividido em duas partes. As manhãs, a partir das 10h30, serão dedicadas a educadores (incluindo adultos cuidadores interessados em educação).
A programação contará com Anna Tardos (Hungria), Carmen Orofino (Brasil), Graziela Kunsch (Brasil), Mária Majoros (Hungria), Patrícia Lima Zahn (Brasil/Alemanha), Suzana Macedo Soares (Brasil), Sylvia Nabinger (Brasil) e Ute Strub (Alemanha). Os encontros serão presenciais na Casa do Povo e, para as convidadas estrangeiras que participarão remotamente via Zoom, haverá tradução para o português.
As tardes de Olhar Pikler serão dedicadas aos bebês, crianças pequenas e adultos responsáveis com um espaço de livre brincar preparado por Graziela Kunsch.
PROGRAMAÇÃO
10/9 – SÁBADO
• 10h30 às 12h30 – Ute Strub: reaprender a brincar
Nesta oficina, Ute Strub (1933) vai instigar adultos a brincar com areia, em atenção plena, e a refletir individual e coletivamente sobre essa experiência. A proposta é que cada participante possa redescobrir a sua criança interior e, assim, compreender melhor as crianças e o que uma criança precisa para brincar. Fisioterapeuta de formação, Ute tornou-se uma reconhecida professora de movimento, tendo trabalhado em estreita colaboração com Emmi Pikler. Ficou tão impressionada com o que observou em sua primeira visita ao abrigo Pikler-Lóczy (Budapeste), em 1979, que, a partir de então, tomou como uma missão de vida tornar essa abordagem pedagógica conhecida.
A condução da vivência terá tradução consecutiva de Patrícia Lima Zahn e, ao final da atividade, Ute e Patrícia irão apresentar, juntas, o espaço de brincar Strandgut, fundado por Ute em Berlim, Alemanha.
➞ Importante: Cada participante deve trazer para a oficina uma bacia grande/funda (pode ser de plástico, metal, ou ágata) e um kit formado por objetos como: funil; escorredor de macarrão; tigela; caneca; jarra; moedor; coador; peneira; colher de pau; colher/espátula com furinhos; e pegador do tipo pinça. A areia será fornecida no local.
➞ A conversa com Ute será feita remotamente via Zoom com público da oficina presencial na Casa do Povo.
➞ Não é necessário inscrição prévia para participar, basta chegar.
• 15h às 17h – Carmen Orofino: como a minha prática como arte-educadora se transformou, a partir da abordagem pedagógica de Emmi Pikler
Nos encontros de Música e Movimento, há anos conduzidos por Carmen Orofino, ela canta e toca o violão ou outros instrumentos, mães e pais cantam e fazem gestos característicos das músicas, enquanto bebês se movimentam livremente por todo espaço e manipulam materiais abertos de brincar. Como estudiosa da abordagem pikleriana, Carmen propõe que a postura dos adultos nos encontros seja de estar junto da criança, sustentando-a com a sua presença, para que a criança se sinta segura para fazer experiências concretas dentro de suas competências e capacidades; sem colocar o bebê em uma posição que este não chegou por si próprio, sem dirigir seus gestos, sem segurar suas mãos para fazer um movimento, nem incitá-lo a tocar este ou aquele instrumento. Como sujeito da experiência, se o bebê quiser, aos poucos e da sua maneira, passará a cantar e participar junto com os adultos com sons, gestos, danças e diferentes expressões.
Nesta atividade Carmen irá contar como seu trabalho foi se modificando ao longo dos anos, até chegar ao atual formato dos encontros, e falar sobre a descoberta do som por bebês, ou como o corpo descobre o som. A conversa será seguida por uma roda de Música e Movimento, para bebês e adultos responsáveis.
➞ Não é necessário inscrição prévia para participar, basta chegar.
17/09 – SÁBADO
• 10h30 às 12h30 – Suzana Macedo Soares: como a minha prática como arte-educadora se transformou, a partir da abordagem pedagógica de Emmi Pikler
O Ateliê Arte, Educação e Movimento (São Paulo) foi criado em 1999 pela educadora e artista visual Suzana Macedo Soares. Durante muitos anos Suzana recebeu crianças entre 2 e 8 anos de idade para encontros de brincadeira livre e experiências de pintura com tintas naturais fabricadas pelas próprias crianças a partir de terras, folhas, flores, raízes, troncos e cascas de árvores. Nesse mesmo período, fez formação de educadores infantis, em arte educação. O contato com o pensamento pikleriano transformou sua atividade profissional. A partir de 2016, o Ateliê Arte Educação e Movimento passou a oferecer encontros de mães, pais e bebês, de 3 meses até 3 anos, com a proposta de brincar livre, além de ser um espaço de estudos, pesquisa e formação continuada de educadores, inspirado na abordagem Pikler.
Em sua palestra, Suzana vai contar como seu trabalho foi se modificando ao longo dos anos, conforme foi se aprofundando nesta pedagogia.
➞ Não é necessário inscrição prévia para participar, basta chegar.
• Chão da Manu
15h-15h50 | bebês de 3 a 9 meses
16h-16h50 | bebês de 10 a 15 meses
Espaço de brincar livre e trocas sobre a parentalidade mediado por Graziela Kunsch, artista, mãe e educadora. O primeiro horário é destinado a bebês de 3 a 9 meses e o segundo horário a bebês de 10 a 15 meses acompanhados de um adulto responsável.
O Chão da Manu foi desenvolvido pelo Ateliê Vivo em diálogo com Graziela e consiste em um enorme tapete de pano, formado por diferentes partes, cada parte uma cor diferente lisa, sem estampas. Para chegar a ser montado, o ideal é que diferentes pessoas se ajudem mutuamente e escolham, juntas, que forma o tapete terá a cada ocasião. Sobre o tapete são posicionados materiais abertos de brincar. Adultos se sentam nas extremidades do tapete, enquanto bebês brincam livremente por toda a sua área. Bebês de colo devem ser colocados no chão com muito cuidado, na posição deitada de costas, que é uma posição que bebês sustentam por si próprios, sem gerar tensões(*).
Nesses encontros adultos poderão aprender sobre como preparar um ambiente para brincar, quais materiais são bons para cada fase, a diferença entre brincar livre e brincar dirigido e o que é desenvolvimento motor livre ou auto-iniciado. E poderão, principalmente, aprender com seus bebês ao observá-los.
➞ Não é necessário inscrição prévia para participar, basta chegar.
24/09 – SÁBADO
• 10h30 – Anna Tardos: pediatra Emmi Pikler e fotógrafa Marian Reismann, duas pioneiras
A exposição em Kassel inclui um conjunto de 30 fotografias da fotógrafa húngara Marian Reismann (1911-1991), distribuídas por todo o espaço da Creche Parental Pública. Reismann rompeu com as tradições e inaugurou uma nova era na fotografia de criança, ou no modo de ver a criança através da lente. O seu trabalho é inseparável do trabalho de Pikler e sua forma inovadora de olhar bebês. Nesta apresentação inédita, a psicóloga Anna Tardos, que se juntou à Pikler em 1961 e é hoje a principal referência de seu legado, irá abordar a relação entre essas duas mulheres pioneiras, que ela pôde testemunhar de perto. Anna esteve envolvida na prática cotidiana do abrigo Pikler®-Lóczy e foi a sua última diretora, entre 1998-2011, antes de o espaço se tornar uma creche (Casa Pikler®).
Ao final da palestra, Sylvia Nabinger, presidente da Associação Pikler Brasil, irá tecer um comentário.
A curadoria de fotos de Marian Reismann foi feita por Graziela Kunsch e Tomas Opitz (TOBE Gallery, Budapeste), este último também responsável pela preparação das fotos para impressão. Leia aqui texto de Anna Tardos apresentando Marian Reismann na documenta.
Anna Tardos é membro-fundadora da Associação Pikler-Lóczy Hungria. Por décadas se dedicou à pesquisa do movimento livre auto-iniciado e do brincar de crianças pequenas, especialmente focada em como bebês seguem seus próprios interesses durante o tempo da brincadeira livre e em como bebês podem ser acompanhados, de maneira que se sintam livres para tomar decisões a seu respeito e sem sentir que estão sendo comandados ou anulados. Realizou mais de 100 publicações em oito línguas diferentes e conduz formações na abordagem Pikler em diferentes países. Dois de seus filmes também estão em exposição em Kassel (Prestando atenção um no outro: bebê e adulto durante o banho, co-dirigido com Geneviève Appell, 1992 e Mover-se em liberdade, co-dirigido com Ágnes Szántó, Attila Franyó e Irén Csatári, 1995), podendo ser acessados aqui.
➞ Não é necessário inscrição prévia para participar, basta chegar.
• Intervalo de 15 minutos: Trecho do filme Manu’s free motor development [O desenvolvimento motor livre da Manu], Graziela Kunsch, 2019-2022
• 12h às 13h – Mária Majoros: o papel da documentação na pedagogia Pikler
Tanto a documentação fotográfica como a escrita desempenharam um papel importante em toda a obra de Pikler. Nas famílias que ela acompanhou, como pediatra de família, as mães mantinham diários sobre as crianças, e a fotógrafa Marian Reismann registrava regularmente os acontecimentos de seu cotidiano, principalmente nos momentos de movimento e brincadeira, e às vezes enquanto descansavam e dormiam.
No abrigo, a documentação detalhada e a fotografia regular das crianças tornaram-se ainda mais importantes, tanto para o desenvolvimento pedagógico das cuidadoras – que, a partir da prática regular de anotações, melhoravam a sua capacidade de observar e moldavam sua atitude – como para as próprias crianças. Foi particularmente significativo para as crianças que seus anos passados no abrigo não fossem “perdidos”. Todos os eventos maiores e menores dos meses ou anos passados ali eram documentados, e as crianças podiam levar essas lembranças consigo quando partiam. A documentação mantida regularmente com base em observações precisas também é uma importante fonte de pesquisa, tendo sido usada pela própria Pikler e colegas em seus estudos científicos.
Este tema será abordado pela experiente Mária Majoros, que iniciou sua prática profissional como uma jovem pediatra no Instituto Pikler®, onde passou 19 anos, três dos quais como colega imediata de Pikler. Entre 1996-2003 ela dirigiu um outro abrigo em Budapeste, mas manteve uma relação viva com o Instituto Pikler® durante todo o tempo. Após se aposentar, retornou à Casa Pikler® para lecionar em cursos e trabalhar em programas parentais.
➞ Não é necessário inscrição prévia para participar, basta chegar.
➞ Anna Tardos e Mária Majoros irão palestrar por Zoom e haverá público ao vivo na Casa do Povo, em São Paulo, e no museu Fridericianum, em Kassel, simultaneamente. O público em Kassel poderá ver a atividade com tradução simultânea para o alemão e o público em São Paulo com tradução simultânea para o português.
➞ Quem não reside em São Paulo capital pode acompanhar as palestras por Zoom, gratuitamente, até o limite de vagas. Ressaltamos que a transmissão é exclusiva para residentes de outras cidades. Quem vive na cidade de São Paulo deve se deslocar até a Casa do Povo para acompanhar a atividade presencialmente. Para acompanhar a atividade por Zoom, inscreva-se por este link. Após a inscrição você receberá um email (em alemão) informando o link que deverá usar no dia do evento. Se você não receber o link, significa que as vagas já foram preenchidas.
➞ Quem acompanha via Zoom pode escolher entre as línguas:português, espanhol, inglês, alemão ou húngaro.
• Chão da Manu
15h-15h50 | bebês de 3 a 9 meses
16h-16h50 | bebês de 10 a 15 meses
➞ Não é necessário inscrição prévia para participar, basta chegar.
(*) Emmi Pikler demonstrou que a partir da posição deitada de costas no chão (ou “decúbito dorsal”), um bebê com vínculos afetivos bem construídos e um ambiente preparado para brincar é capaz de conquistar todas as posições motoras e múltiplos movimentos por si próprio, sem que um adulto tenha que treiná-lo ou ensiná-lo a virar de bruços, sentar ou andar. O único momento em que o bebê precisa das mãos de um adulto para realizar um movimento é quando começa a se virar de bruços, mas ainda não tem força para desvirar.
Olhar Pikler é uma realização de Graziela Kunsch em parceria com Pikler Ház [Casa Pikler], Casa do Povo e documenta fifteen com o apoio do Goethe-Institut.