Um dos maiores integrantes da chamada Geração 80 e dono de uma paleta rica e vibrante, Luiz Zerbini pinta quadros marcantes pela profusão de cores e imagens. 

Não à toa, Zerbini afirma que “viver é ruminar paisagens.”

Agora, a exposição Luiz Zerbini – Paisagens Ruminadas – em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro até 2 de setembro – mostra que seu trabalho é mais do que meras representações visuais; são diálogos profundos com o mundo ao nosso redor.

Talvez nenhum outro título fosse mais adequado para esta mostra, já que as obras de Zerbini transbordam, de fato, uma intensa sensação de que ali se concentra muita reflexão. 

Os trabalhos da última década destacam tanto sua habilidade em reler o Brasil quanto suas representações artístico-políticas – o que sobressai, por exemplo, em obras como Massacre de Haximu (2020) e a Primeira Missa (2014), que ilustra este artigo.

Como o próprio nome sugere, a exposição com mais de 140 trabalhos tomou forma a partir de fatos/imagens de sua ruminação também sobre ecologia e ancestralidade brasileira.

A habilidade de Zerbini em capturar a essência da paisagem brasileira é inigualável. Cada pincelada é uma celebração da biodiversidade e da riqueza cultural que definem nosso País.

A curadoria meticulosa de Clarissa Diniz faz da mostra uma jornada sensorial que desafia o visitante a repensar sua relação com o ambiente. O impacto é palpável: os visitantes saem carregando consigo uma nova apreciação da arte como veículo de conscientização e mudança.

A mostra do CCBB acontece dois anos depois da individual do artista no MASP — Luiz Zerbini: a mesma história nunca é a mesma — que reuniu 50 obras refletindo sobre a história brasileira do ponto de vista do colonizado.  A monumental “A Primeira Missa” — que estava naquele mostra e está na atual – faz uma releitura da cena pelo olhar dos indígenas, foi pintada após Zerbini observar fotografias do povo Krenak.

Sua primeira exposição foi em meados de 1982, em Madri. No Rio de Janeiro, já teve suas obras expostas no Salão Nacional de Artes Plásticas e também participou da Bienal Internacional de São Paulo em 1987. Sua obra faz parte do acervo das mais importantes instituições no Brasil.

Além de sua contribuição para as artes visuais, Zerbini também enriqueceu o teatro, trabalhando como cenógrafo do grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone e realizando performances no início da década de 80. Também publicou alguns livros, dentre eles “Amor Lugar Comum” em 2013.

Com sua visão pioneira e compromisso com a sustentabilidade, Zerbini mostra que a arte pode ser uma poderosa ferramenta na construção de um futuro mais harmonioso. É um artista multifacetado que explora os limites entre as artes visuais, a música e o cinema, além da pintura – e utiliza uma multiplicidade de materiais, dando à sua obra uma complexidade ímpar. 

Ao percorrer os núcleos temáticos da mostra no CCBB, o visitante nota que cada obra se torna um portal para reflexões mais profundas sobre nossa existência e coexistência com a natureza, o objeto predileto do artista.

Zerbini tem muito a dizer sobre a natureza.

Apaixonado por botânica, ele deixa evidente em suas telas que é um exímio observador de seu entorno.  Sobrepõe estilos, aplica diferentes técnicas, expõe padrões orgânicos e geométricos, campos de luz e sombra, e lança efeitos ópticos que convidam à contemplação, fazendo de fato com que o espectador rumine suas emoções.